O termo gênero invadiu o debate público nas últimas décadas, aparecendo em discussões sobre educação, política e até mesmo na linguagem.
Para seus defensores, especialmente nos meios acadêmicos e em certas correntes do feminismo, gênero é a construção social e cultural, diferente do sexo.
Sexo se refere às características biológicas que definem um indivíduo como macho ou fêmea, já o gênero seria o conjunto de comportamentos e expectativas que a sociedade atribui a homens e mulheres.
A filósofa feminista Judith Butler, uma das principais teóricas do tema, resume essa visão. Em seu livro "Problemas de Gênero", Butler afirma:
"Concebida originalmente para questionar a formulação de que a biologia é o destino, a distinção entre sexo e gênero atende à tese de que, por mais que o sexo pareça intratável em termos biológicos, o gênero é culturalmente construído."
Ela vai além, sugerindo que poderiam existir mais gêneros para além de masculino e fêmea:
"...não há razão para supor que os gêneros também devam permanecer em número de dois" e que "o próprio construto chamado 'sexo' seja tão culturalmente construído quanto o gênero."
Essa ideia de que o gênero é fluido e uma construção social, independente do sexo biológico, é o que ficou conhecido como ideologia de gênero.
Correntes filosóficas que separam o sexo biológico da identidade e dos papéis sociais não são uma coisa nova.
Já em 1949, a filósofa francesa Simone de Beauvoir escreveu "não se nasce mulher, torna-se." na obra O Segundo Sexo.
Para Beauvoir, a feminilidade era uma construção social imposta às mulheres, e não uma decorrência natural de sua biologia.
Na mesma época, a feminista americana, Betty Friedan, defendia na obra Mística Feminina que características associadas ao feminino, como a maternidade e o cuidado com o lar, eram mitos criados para oprimir as mulheres.
No entanto, foi o psicólogo e sexólogo John Money que popularizou os termos "identidade de gênero" e "papel de gênero" no campo científico.
Money acreditava que o gênero poderia ser moldado pela criação e pelo ambiente, independentemente da biologia.
Sua teoria ganhou notoriedade com o caso dos gêmeos Reimer. Em 1965, um dos irmãos, Bruce Reimer, era apenas um bebê quando teve o pênis mutilado em uma cirurgia de fimose malsucedida.
Seguindo o conselho de Money, os pais decidiram criá-lo como uma menina, mudando seu nome para Brenda.
Ele foi submetido a tratamentos hormonais e um intenso condicionamento social para que se identificasse como mulher.
Money chegou a castrar o menino e planejava uma cirurgia de construção de uma vagina artificial quando ele chegasse aos 12 anos.
Por anos, o "caso Brenda" foi apresentado por Money como um sucesso, uma prova de que o gênero era maleável e uma questão de criação.
A verdade sobre o experimento só veio à tona em 1997, graças ao Dr. Milton Diamond. Ele descobriu que Brenda nunca se sentiu uma menina.
Desde a infância, ela rejeitava roupas e brincadeiras femininas, apresentava comportamento agressivo e sofria com problemas de socialização.
Aos 14 anos, Bruce foi informado sobre seu passado, rejeitando a identidade feminina e passando a se identificar como David. Ele realizou cirurgias para reconstruir sua genitália masculina.
O trauma, no entanto, foi profundo e irreversível. A família Reimer foi devastada: os pais caíram no alcoolismo e na depressão; o irmão gêmeo, Brian, tornou-se esquizofrênico, viciado em drogas e morreu de overdose.
Mesmo depois de se casar e tentar levar uma vida normal como homem, David Reimer cometeu suicídio em 2004.
A história de John Money é um dos temas abordados no documentário Geração Sem Gênero, da Brasil Paralelo. Assista completo no link abaixo:
Apesar do fim trágico da família Reimer e das posições de John Money, a ideia de que "gênero" é mais importante do que "sexo biológico" ganhou força. Essa visão tem causado impactos controversos na sociedade:
Um dos pontos mais controversos é a tentativa de introduzir esses conceitos nas escolas, com propostas que sugerem que as crianças não nascem homem ou mulher, mas "escolhem" seu gênero ao longo da vida.
No estado americano da Califórnia, uma lei proíbe que professores e funcionários de escolas informem os pais sobre filhos que não se identificam com o sexo biológico.
Em Nova Iorque, professores têm recebido orientações para se adequarem à teoria de gênero nas escolas. As orientações incluem medidas como:
Movimentos que defendem a ideologia de gênero tem buscado impulsionar a "linguagem neutra".
Seria uma forma de alterar a língua para que as palavras não indicassem mais masculino ou feminino, pressupondo gênero.
Exemplos disso são o uso de expressões como "todes", "alunx" e pronomes neutros como "ile/elu".
Um dos temas mais polêmicos envolvendo a ideologia de gênero é a participação de atletas homens que se identificam como mulher, em categorias femininas.
Existem vários exemplos de atletas que perdiam em competições masculinas, mas que conseguiam recordes em torneios para mulheres.
Um dos casos mais emblemáticos é o do nadador trans que escolheu o nome Lia Thomas.
Em dezembro de 2021, ele venceu provas como os 200 e 1650 jardas livres no Zippy Invitational em Ohio, estabelecendo recordes da universidade.
No Brasil um jogador trans que escolheu o nome Tiffany Abreu, passou a quebrar recordes na Superliga Feminina após a transição.
No entanto, estão ocorrendo reações a atletas trans em esportes femininos. Nos EUA, por exemplo, Trump assinou um decreto cortando o financiamento de torneios que façam essa prática.
Nos EUA os gastos médicos anuais com cirurgias de transição de gênero movimentam R$11,8 bilhões.
O custo das cirurgias plásticas de redesignação completa de gênero de um homem que quer se tornar uma mulher pode variar entre R$277,2 mil e R$711,2 mil.
No caso de uma mulher que queira se transformar em um homem, o valor transita entre cerca de R$316,5 mil e R$1,3 milhão.
O governo Brasileiro mudou as regras para facilitar o processo de transição de sexo no SUS.
Ambulatórios habilitados podem dar bloqueadores de hormônios para crianças nos primeiros sinais da puberdade, com aproximadamente 12 anos de idade.
Ambulatórios habilitados poderão dar bloqueadores de hormônios para crianças nos primeiros sinais da puberdade, com aproximadamente 12 anos de idade.
Esses medicamentos impedem a ação dos hormônios sexuais, que ajudam em questões importantes nas mudanças do corpo, como o crescimento de pelos ou de seios.
A idade mínima para começar o tratamento hormonal vai diminuir de 18 para 16 anos com a autorização dos pais.
Nesse processo, a pessoa trans faz uso de hormônios para que seu corpo comece a mudar e ganhe características típicas do gênero almejado.
Por fim, a idade para a prática de cirurgias plásticas irreversíveis, como a retirada de seios ou mudança nas genitais, também será diminuída de 21 anos para 18.
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