A ocupação da Câmara dos Deputados e do Senado por parlamentares da oposição na última semana não é um fato isolado na história recente do Congresso.
A estratégia, usada para impedir votações ou pressionar adversários, já foi adotada por diferentes partidos, da esquerda à direita.
Durante mais de 36 horas, Parlamentares ocuparam as Mesas Diretoras das duas Casas em protesto contra a prisão domiciliar de Jair Bolsonaro. Eles exigem a aprovação do PL da Anistia e o impeachment do ministro Alexandre de Moraes.
O uso da obstrução e da ocupação física para travar votações não é exclusivo de um campo político. Veja outras vezes em que o congresso foi ocupado.
14 deputados do PCB, Partido Comunista Brasileiro, incluindo nomes como Jorge Amado e Carlos Marighella, usaram discursos inflamados e moções de protesto para tentar barrar a cassação de seus mandatos.
Mesmo com a obstrução, o projeto foi aprovado por 179 votos a 74 e os mandatos foram revogados.
Décadas depois, em 2013, a Câmara devolveu simbolicamente aqueles mandatos como forma de reparação.
Uma rivalidade política entre os senadores Arnon de Mello e Silvestre Péricles terminou em tragédia no plenário. Durante um discurso, Arnon sacou um revólver e disparou três vezes contra o rival.
Arnon errou o alvo, mas atingiu acidentalmente o senador José Kairala, que morreu no mesmo dia. A sessão foi suspensa imediatamente.
Arnon e Péricles foram presos em flagrante, mas não perderam o mandato. Após sete meses detido, período em que ainda comparecia às sessões, Arnon foi absolvido pelo júri sob alegação de legítima defesa.
Em março de 1984, durante o regime militar, líderes da oposição como Tancredo Neves e Ulysses Guimarães usaram a obstrução regimental na Câmara.
O objetivo era pressionar pela aprovação da emenda das Diretas Já, proposta por Dante de Oliveira.
Eles apresentaram requerimentos e fizeram longos discursos para atrasar as sessões.
Não houve ocupação física do plenário, mas os trabalhos ficaram paralisados por horas.
Na semana de votação do impeachment de Dilma Rousseff, deputados do PT, PCdoB, PSOL e outros aliados do governo ocuparam a Mesa Diretora da Câmara.
O ato aconteceu horas antes da votação final e buscava atrasar ou deslegitimar o processo, que os governistas chamavam de “golpe parlamentar”.
Com cartazes e palavras de ordem, como “Não vai ter golpe!”, eles impediram temporariamente o andamento dos trabalhos e atrasaram a abertura da sessão.
A ocupação durou algumas horas, mas não mudou o resultado. No dia 17 de abril, a Câmara autorizou o impeachment por ampla maioria
Durante o governo Michel Temer, parlamentares do PT, PCdoB e PSOL ocuparam a Mesa da Câmara contra a reforma trabalhista.
A deputada Luiza Erundina (PSOL-SP) sentou na cadeira do presidente Rodrigo Maia, interrompendo a leitura do relatório de Rogério Marinho. Gritos de “Fora Temer” e cartazes contra o projeto marcaram a sessão.
No mesmo ano, senadoras do PT e do PCdoB tomaram a Mesa do Senado pelo mesmo motivo.
Gleisi Hoffmann, Fátima Bezerra, Regina Souza e Vanessa Grazziotin permaneceram no local por mais de seis horas. O presidente Eunício Oliveira chegou a cortar a luz do plenário, mas a reforma acabou aprovada.
Em dezembro de 2017, deputados da oposição ao governo Temer ocuparam a tribuna e a Mesa da Câmara para impedir a votação da Reforma da Previdência.
Com faixas e palavras de ordem contra a proposta, eles bloquearam a sessão e usaram recursos regimentais para atrasar as discussões. O clima foi tão tenso que, no dia 12, a reunião acabou suspensa sem nenhuma votação.
A manobra ajudou a adiar indefinidamente a reforma, que acabou retirada da pauta e só voltaria a ser discutida anos depois, no governo Bolsonaro.
Para a oposição, foi uma vitória contra um projeto impopular; para governistas, um “teatro” em plenário. Nenhum deputado foi punido, e o episódio reforçou a ocupação física como tática de pressão política no Congresso.
Em 2018, a estratégia foi usada em defesa de Lula, preso em Curitiba.
Deputados do PT, PSOL, PCdoB, PDT e PSB entraram no plenário da Câmara com cartazes de “Lula Livre” e prometeram obstruir todos os trabalhos.
Gritos de “Lula, guerreiro do povo brasileiro” ecoaram no salão.
Em 2019, a primeira eleição de Davi Alcolumbre para a presidência do Senado foi marcada por tensão e manobras regimentais.
Ele presidiu a sessão preparatória mesmo sendo candidato, alegando ser presidente interino, o que gerou protestos de aliados de Renan Calheiros.
A senadora Kátia Abreu protagonizou o momento mais tenso: subiu à mesa, tomou de Alcolumbre uma pasta com respostas a questões de ordem e a levou consigo, interrompendo os trabalhos.
Após horas de discussão, o plenário decidiu por votação aberta, o que adiou a eleição.
O MDB e o Solidariedade recorreram ao STF, e o ministro Dias Toffoli determinou votação secreta. A sessão passou ao comando do senador José Maranhão, e três candidatos desistiram.
A primeira votação foi anulada após surgirem 82 cédulas para 81 senadores, levando Renan a abandonar a disputa.
Na nova votação, Alcolumbre venceu com 42 votos, quebrando 18 anos de domínio do MDB. Ao final, Kátia Abreu lhe entregou flores como pedido de desculpas.
Entre 2019 e 2021, partidos de oposição ao governo Bolsonaro usaram obstruções regimentais para atrasar as votações no Congresso.
PT, PSOL, PCdoB, PDT e PSB declaravam “obstrução” em bloco, deixavam de marcar presença para derrubar o quórum e apresentavam requerimentos para adiar discussões ou retirar pautas.
Também usavam discursos longos e todo o tempo de liderança para atrasar decisões. O clima, por vezes, gerava tumultos no plenário, com cartazes, protestos e trocas de acusações.
A estratégia raramente impediu a aprovação das pautas centrais, como a Reforma da Previdência de 2019, mas atrasou o calendário legislativo e forçou negociações.
O período consolidou a obstrução regimental como prática corriqueira no Parlamento, usada depois também por aliados de Bolsonaro quando passaram à oposição.
Partidos de base governista e oposição anunciaram obstruções regimentais em outubro de 2020, levando a cancelamento de sessões na Câmara para bloquear votações, como medidas econômicas pós-pandemia.
Não houve ocupação física, mas uso de kit obstrução (requerimentos e discursos longos).
De 2016 a 2025, a cena se repetiu com protagonistas diferentes, mas com o mesmo objetivo: usar o espaço físico do Congresso como palco de pressão política
Um grupo de parlamentares do PL conduziu a ação, acompanhado por aliados de outros partidos.
No plenário da Câmara, o presidente Hugo Motta só reassumiu a cadeira após ameaçar suspender por seis meses os mandatos dos parlamentares que se recusassem a sair.
Ele negou qualquer negociação política para retomar os trabalhos:
“A presidência da Câmara é inegociável. Não há acordo nem com oposição, nem com governo”.
No Senado, a desocupação ocorreu nesta quinta-feira, sem avanço sobre o pedido de impeachment de Moraes.
A pressão, no entanto, esteve presente nos discursos. Para o líder do PT na Câmara, Lindbergh Farias, a ocupação foi um “AI-5 parlamentar”, comparável aos atos de 8 de janeiro: “É impedir o funcionamento de uma instituição democrática pela força”.
De 1948 a 2025, obstruções regimentais e ocupações físicas se repetiram no Congresso Nacional, com diferentes protagonistas e causas.
O instrumento não pertence a um único lado político. A cena muda, mas a estratégia é a mesma: usar o plenário como palco de pressão para travar ou influenciar votações.
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