Neste artigo, vamos explicar o contexto mundial e nacional do golpe civil-militar de 31 de março de 1964 e seus desdobramentos. Entenda como foram os vinte anos de regime militar sem qualquer apologia aos erros cometidos, mas também sem ocultar a necessidade de uma intervenção que pudesse deter o comunismo.
1964 — O Brasil entre armas e livros
Este é um documentário da Brasil Paralelo que conta a história da Ditadura Militar no Brasil, revelando detalhes que tinham sido ignorados ou ocultados. Ele foi injustamente considerado pró-ditadura e censurado em alguns colégios e faculdades.
Seu conteúdo é fruto do estudo de dezenas de especialistas. Eles nos ajudaram a encontrar bibliografias e documentos que mostram a história do período em que os militares estavam no poder. As fontes vêm não só do Brasil, mas também de países como Polônia, Berlim, na Alemanha Oriental, Estados Unidos e República Tcheca.
A influência da Guerra Fria sobre os acontecimentos de 1964
Antes de entender os eventos de 31 de março de 1964 que levaram ao que se chama de Ditadura Militar, é preciso entender o que estava acontecendo no mundo. E o acontecimento mais importante que influenciou este episódio foi a Guerra Fria entre os EUA e a URSS.
A Rússia comunista já dominava quinze países, resultando na União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS).
Stálin tinha continuado a revolução socialista de Lênin, espalhando o terror vermelho durante as décadas de seu governo. A missão era conquistar o mundo e implementar o comunismo.
Para isso, ele enviou tropas para a Polônia, eliminando a oposição ao partido comunista e estabelecendo um governo pró-soviético. Fez o mesmo na Bulgária, Tchecoslováquia, Romênia e Hungria, todos com ditadores que respondiam diretamente a Moscou.
O sistema comunista não foi imposto de forma democrática nesses países, eles se tornaram comunistas não porque quisessem, mas porque foram obrigados.
Assim, a história conheceu o horror dos gulags (campos de trabalho forçado e extermínio de opositores da URSS) e do Holodomor (genocídio de milhões de ucranianos, mortos de fome pelo governo socialista de Stálin).
Os Estados Unidos da América e a luta pela liberdade
No ocidente, a maior economia do mundo havia construído uma democracia liberal baseada na sociedade de mercado e nos valores cristãos. Era também o único país com armas nucleares.
A nação americana, sendo a liderança ocidental, propôs o Plano Marshall, oferecendo empréstimos e taxas de juros baixas para reativar a economia dos países europeus mais devastados.
O muro de Berlim
Fotografia do povo alemão ocupando o muro de Berlim.
Os soviéticos dividiram a Alemanha em duas nações. O maior símbolo desta divisão ideológica foi o muro de Berlim, construído em 1961, cuja função era impedir que os alemães fugissem do lado oriental socialista para o lado ocidental capitalista.
A República Federal da Alemanha seguia as políticas do Ocidente, adotando o modelo capitalista de economia de mercado. Em contraste, a República Democrática Alemã era controlada pelo regime comunista fechado e submetia tudo ao controle do governo.
Qualquer revolta ou protesto contra Moscou era brutalmente reprimido pelo Exército Vermelho e os prisioneiros eram torturados e mortos.
Países divididos entre socialistas e capitalistas
Como se o exemplo da Alemanha não fosse suficiente, a Coreia do Norte – armada pela URSS e pela China – atacou a Coreia do Sul. Esta só foi salva por causa de uma coalizão liderada pelos Estados Unidos.
Após 3 anos de conflito, o país estava dividido em dois. Veja nas palavras do escritor e jornalista Percival Puggina como é forte a diferença de um país sob o regime socialista em relação a um cuja economia é aberta:
Guerras civis e revoluções comunistas também estavam acontecendo em outros países como:
Vietnã
Grécia
Turquia
Espanha
Futuramente no Irã
Nicarágua
Argentina
Cuba
Egito
Diversos países da África
Itália
Guatemala
Haiti
Paraguai
Filipinas
Chile
Indonésia, entre dezenas de outros conflitos.
O perigo cubano
Fidel Castro e sua guerrilha tomaram o poder em Cuba e declararam aliança com a União Soviética, tornando-se o primeiro país das Américas aliado a Moscou. Passaram também a servir como base de treinamento soviética com o objetivo de se expandir por toda a América Latina.
Soldados, navios e mísseis soviéticos foram enviados a Cuba e apontados para os Estados Unidos. A marinha americana se posicionou e as duas potências estavam a um passo de iniciar um conflito direto. Somente o medo da bomba atômica impediu a Terceira Guerra Mundial.
Após intensas negociações, os mísseis foram retirados. Mas o conflito estava longe de terminar.
O serviço secreto da KGB e sua influência na Ditadura Militar no Brasil
Finalmente, começaremos a entender o vínculo entre a Guerra Fria e a verdadeira história da Ditadura Militar no Brasil. Já entendemos como o mundo estava dividido e como as revoluções socialistas eram um terror vermelho, amplamente difundido pela URSS.
Agora, é preciso entender o papel dos serviços secretos… que também estavam presentes no Brasil.
O serviço de espionagem, a contraespionagem e a polícia secreta, uniram-se na organização que ficou conhecida como KGB.
Ela tinha carta branca do governo para ser a própria lei, obtendo as informações que queria por qualquer meio que fosse necessário. Era o serviço de inteligência e segurança mais completo do mundo, contendo arquivos e registros de políticos, acadêmicos e artistas do mundo inteiro.
Os agentes da KGB também se dedicavam a influenciar a política, divulgando material pró- comunista, incitando a formação de guerrilhas, protestos e revoluções.
O sucessor de Stálin, Nikita Khrushchev, usou a KGB como uma frente de batalha na Guerra Fria para “enterrar os Estados Unidos”. Nesta luta por influência global, os países emergentes também se tornaram alvo das operações de serviços secretos soviéticos. Entre eles, o Brasil.
A infiltração comunista no Brasil antes de 64
Voltemos ao I Congresso Mundial da Internacional Comunista em 1919, cujo objetivo era colocar em prática o plano de expansão mundial do comunismo. Neste e nos congressos seguintes, foi desenvolvido um estatuto com 21 condições para a filiação dos partidos.
Como resultado, surgiram vários que seguiram essas diretrizes, que incluíam:
O dever revolucionário de fazer propaganda legal e ilegal para promover a agitação;
O dever de levar a ideologia para dentro de sindicatos e cooperativas a fim de conduzir as massas operárias à revolução;
Financiar sem reservas todas as repúblicas soviéticas em sua luta contra os conservadores;
Acatar de forma obrigatória todas as decisões da Internacional Comunista.
O Brasil com suas dimensões continentais, limítrofe de quase toda a América do Sul e rico em recursos naturais não foi deixado de fora da guerra ideológica.
Em 25 de março de 1922, foi fundado o Partido Comunista Brasileiro (PCB) em Niterói, obedecendo a todas as condições impostas pelo estatuto. O jornalista brasileiro William Waack comenta sobre o vínculo do PCB com Moscou:
Luís Carlos Prestes
Luiz Carlos Prestes vivia na União Soviética e voltou clandestinamente ao Brasil a fim de realizar um golpe revolucionário. Sua primeira tentativa foi a Intentona Comunista, que fracassou. Prestes e seus colaboradores foram presos. Além disso, o Brasil rompeu as relações diplomáticas com a União Soviética e cassou o registro do PCB.
Contudo, o Partido Comunista Brasileiro permaneceu na legalidade de fato e foi aí que os agentes soviéticos avançaram na estrutura de poder brasileira. A conspiração para transformar o Brasil em uma república socialista contava agora com ajuda internacional.
Foi na República Tcheca que um pesquisador brasileiro encontrou parte da história desconhecida até então, uma parte que comprova que os países satélites da União Soviética sempre mantiveram seus olhos no Brasil.
A descoberta dos arquivos da KGB com material de infiltração no Brasil
Mauro Abranches Kraenski estava na STB Tcheca (Serviço de Inteligência) traduzindo arquivos da KGB sobre a infiltração no Brasil entre os anos 50 e 80.
O Brasil havia se tornado um alvo dos comunistas e alguns planos já estavam em ação antes de 31 de março de 1964, quando os militares intervieram.
A vitória da revolução cubana em 59 intensificou as atividades comunistas na América Latina. A revolução vermelha estava mais próxima.