A cultura ocidental é o conjunto da Filosofia Grega, do Direito Romano e da Religião Católica. Esses 3 pilares baseiam o modo de pensar e, consequentemente, de agir das pessoas educadas no hemisfério ocidental.
Embora seja constantemente atacada, a cultura ocidental trouxe contribuições históricas essenciais para a vida que se tem hoje. Os três pilares citados que a compõem influenciam a vida de todos, mesmo ateus ou filósofos modernos, que são os grupos que mais a rejeitam.
Para entender o que é a cultura ocidental antes se deve compreender o que é cultura.
Cultura é uma palavra de origem latina que significa “ação de tratar”, “fazer crescer”, “cultivar”.
A palavra também é utilizada na agropecuária justamente por se originar nessa área.
Posteriormente, ao fazer uma associação da ordem existente no universo com a ordem existente no interior do homem, os filósofos passaram a fazer uma analogia com o termo.
Assim como o homem deve cultivar o campo para desenvolver a natureza, também deve cultivar sua alma para alcançar uma vida realizada.
Dessa maneira, a palavra cultura passa a designar os fatores que predispõem o homem no processo de desenvolvimento da alma.
É o conjunto de crenças, leis e artes que existem na sociedade em que a pessoa nasce, influenciando e orientando sua vida.
A cultura ocidental é um tipo de civilização e cosmovisão formada na Europa a partir da junção da Filosofia Grega e sua cultura artística, literária e poética; do Direito Romano com seu sistema de organização jurídica e ética governamental e dos princípios espirituais da Religião Católica, especialmente sua doutrina sobre a transcendência, caridade e respeito a dignidade humana.
Esses fatores formam a visão de mundo e orientam as ações dos indivíduos que foram criados no hemisfério Ocidental. Veja mais detalhes sobre cada aspecto da cultura ocidental.
A Filosofia grega trouxe uma nova compreensão da vida. Criou a ideia de que há uma ordem inteligível em toda a realidade e cada indivíduo tem a capacidade de compreendê-la.
Antes de Sócrates começar a busca da Verdade e ensinar que esta é uma tarefa individual de cada ser humano, as pessoas não agiam assim.
No pensamento antigo, não existia a noção de indivíduo. O mundo era avaliado pelo prisma dos povos, das nações. Tais civilizações se enxergavam como parte do cosmos, e se algo não ia bem, era necessário um ritual feito pela nação que se fazia a fim de reparar o mal.
Os elementos da natureza eram deuses com vontade própria, sob cujos desígnios arbitrários e secretos as pessoas estavam presas. Os mortais deviam apenas aceitar a vontade do Olimpo, sofrendo terríveis consequências se fizessem o contrário, como o caso de Prometeu.
No máximo, podiam barganhar com os deuses e receber algumas bênçãos, mas sempre segundo à vontade deles (muitas vezes maligna).
Outro exemplo forte desse tipo de pensamento pré-socrático é a civilização asteca. Os astecas acreditavam que se não fizessem sacrifícios humanos diariamente, o deus-sol não iria iluminá-los no dia seguinte.
Dessa forma, eles guerreavam com as tribos vizinhas, faziam-nos prisioneiros e utilizavam-nos como sacrifício, arrancando-lhe o coração com a vítima ainda viva.
Sócrates, diferente dos demais, desenvolveu o que o cientista político, Eric Voegelin, chamou de um dos saltos no ser: a busca livre e individual pela Verdade.
Sua principal luta foi contra os sofistas. Estes oradores gregos afirmavam não existir uma verdade única e absoluta.
Em seus diálogos pela região de Atenas, Sócrates começa a elaborar a filosofia. Ele começa a questionar a realidade e dela extrair o que há de essencial.
Embora tenha começado suas reflexões através da política, seu foco foi a alma humana. Para ele, cada ser humano está em uma jornada em busca do Bem, o Bem supremo que está além desse mundo.
Para alcançar esse objetivo, cada pessoa deve se esforçar sozinha para se tornar cada vez mais virtuosa.
A virtude é uma disposição habitual de praticar o bem. Sócrates resumiu todas as virtudes em 4, afirmando que se estas forem praticadas, todas as demais também serão. Elas são:
Após a trágica e eloquente morte de Sócrates, como descrito na Apologia de Sócrates, seus discípulos fizeram novas descobertas que revolucionaram o entendimento da vida humana.
Platão foi discípulo de Sócrates. Seu mestre não deixou nenhuma obra escrita. Foi Platão quem registrou suas ideias e as desenvolveu, utilizando o fundador da Filosofia como personagem.
O foco de Platão foi também a alma humana. Como se pode observar no diálogo com Alcibíades I, 129b-129e, ele demonstra a imaterialidade da alma através da razão natural.
Focou em estudar o mundo transcendental, buscando avidamente tratar sobre a vida espiritual.
Já Aristóteles, aluno de Platão, revolucionou a ciência com seus estudos do mundo físico.
O foco do estagirita, diferente dos mestres, era estudar a realidade em si. Seguindo a linha de Aristóteles, Santo Tomás de Aquino define inteligência como: “adequação do intelecto à realidade”.
No centro dessa cultura, está a compreensão de que existe uma ordem inteligível em toda a realidade e que a essência de cada coisa está nela mesma.
Sua teoria do hilemorfismo demonstra que a alma imaterial de cada ser vivo dá forma à matéria.
Os princípios aristotélicos guiam todas as ciências ocidentais, seja a física ou as artes do belo.
Todas elas operam com base na sua teoria das 4 causas.
Além disso, o filósofo conseguiu demonstrar a existência de um único ser todo poderoso, origem de todas as coisas. Fez isso pela razão natural.
Posteriormente, Santo Tomás de Aquino viu nessas características os atributos de Deus e elaborou as 5 vias que provam a existência de Deus, o que também o fez pela filosofia, usando a razão e não a fé.
Outro fator essencial da cultura ocidental que veio da Grécia antiga são as artes do belo.
Os gregos levavam a beleza muito a sério.
Assim, eles desenvolveram em elevados níveis de estética e harmonia artes como arquitetura, escultura e música.
Eles acreditavam que a beleza é um dos 3 transcendentais, vale dizer, as propriedades do ser consideradas como as mais superiores, essenciais e absolutas.
Os principais pontos da filosofia grega, então, podem ser resumidos em:
Contudo, os gregos não desenvolveram adequadamente um dos aspectos mais importantes de uma civilização: o Direito.
Essa missão foi cumprida pelos romanos.
A base da cultura dos romanos estava na Grécia antiga. Após sua expansão militar pelo território do nascimento da Filosofia, os cidadãos da península itálica assimilaram seu modo de vida, inclusive a religião.
Porém, devido à vida em cidades-Estado relativamente pequenas, os gregos não tinham necessidade de leis muito rebuscadas.
Mas os romanos tinham.
A vastidão do Império que eles estavam formando exigia ordem em toda sua extensão, sob o perigo de perdê-lo.
Dessa maneira, seus senadores e demais pensadores passam a se debruçar sobre a Filosofia Grega e desenvolver doutrinas jurídicas inovadoras.
Em Roma, o ius puniendi (direito de punir) passa a ser completamente do Estado. É o fim do caos social do mundo antigo.
Antes da criação romana, a vítima de um crime precisava fazer justiça com as próprias mãos. Ele mesmo devia juntar um bando para se vingar pessoalmente do agressor, com a possibilidade de sofrer novamente.
Muitas vezes não se sabia quem estava certo ou errado e muito sangue era derramado. Essa realidade pode ser observada no que se considera como o primeiro código jurídico da história: o código de hamurabi.
Até mesmo os gregos lidavam com a justiça dessa maneira.
Roma mudou essa situação com a promulgação da Lei das XII Tábuas. A sua organização política, bem estruturada no Senado, decretou a nova prática em todo seu território.
A partir deste momento, todos que tinham problemas jurídicos deveriam se dirigir até um tribunal. O pretor iria avaliar o problema e o juiz iria decidir a melhor solução através de leis previamente estabelecidas, fornecendo imparcialidade às partes e tendo muito mais chance de alcançar a verdadeira justiça.
Dessa forma, as principais contribuições romanas para a civilização podem ser resumidas em:
Contudo, Roma ainda tinha graves problemas que somente seriam solucionados com a chegada do 3º fator de construção da civilização ocidental.
Mesmo após o rebuscado desenvolvimento jurídico, Roma tinha vários problemas culturais.
O páter-famílias da civilização pagã do maior império da humanidade tinha poder de vida e morte sobre sua esposa e filhos. Bastava que a ordem fosse dada e eles seriam mortos. Não havia necessidade de justificação.
A violência e os vícios predominavam por todo o Império. Assassinatos políticos, traições e escravidão eram comuns nessa cultura.
Nas festas de Baco ou Bacanal, os nobres bebiam e comiam mais do que podiam. Quando estavam cheios, se retiravam para uma área com a estátua do deus das festas, vomitavam tudo aos seus pés e voltavam a beber e comer até repetir o processo.
Foi nesse período que um homem se declarou Deus e chamou todos a viver uma vida de amor. Segundo ele, a salvação eterna viria através de seu sacrifício pelos homens.
Toda a história do mundo foi dividida antes e depois do seu nascimento, tamanha a influência.
Seus ensinamentos eram totalmente novos. Nem mesmo os sábios gregos pregavam uma vida de virtudes, sacrifício, amor e proximidade com a verdade suprema como ele o fez.
A essência de sua doutrina é o amor. Diferente de todas as civilizações anteriores a ele, a virtude principal passa a ser o amor ágape (αγάπη), a entrega total de si em vista do bem do outro.
Em suas pregações ensinou o cuidado para com os mais necessitados, priorizando as viúvas, os órfãos e os deficientes.
Exigiu de seus discípulos o amor para com os inimigos e o perdão em qualquer situação. Sendo estes elementos essenciais para alcançar a salvação.
Ele deixou a missão de propagar estes ensinamentos para a Igreja que fundou, erigindo-a sobre o Apóstolo Pedro e seus sucessores.
Deu a seus fiéis o poder de comunicarem-se com Deus como quem fala com seu pai e os enviou por todo o mundo para transmitir o que ele chamou de boa notícia, ou evangelho (εὐαγγέλιον).
Ao conhecer a doutrina do crucificado, as autoridades romanas colocaram Jesus no panteão como apenas mais uma de suas divindades. No entanto, os cristãos nunca foram adorá-lo no templo pagão. Sua crença era em apenas um Deus soberano.
Eis um dos principais motivos das perseguições dos romanos aos cristãos. O que conservava o Estado romano era a união com os povos de seu território em sua cultura pagã, eis o fator unificante que mantinha a ordem no império.
Ao negar essa parte da cultura pagã, os cristãos se tornaram o alvo principal dos romanos. Estima-se que 200.000 cristãos foram mortos nos 250 anos de perseguições romanas.
Porém, com o passar do tempo, Roma não deu conta do movimento iniciado por 12 simples galileus. O cristianismo se alastrou por toda a extensão do Império e além.
A nova cultura trazida pela Igreja Católica solucionou os problemas romanos.
A escravidão foi desaparecendo aos poucos até desaparecer na Idade Média.
O poder de vida e morte do pai de família sobre os seus chegou ao fim. Nesse momento, todas as vidas passam a ser consideradas valiosas, até mesmo a dos escravos.
As mulheres passam a ter o mesmo valor que os homens, o que não era afirmado pelos pagãos.
A civilização cristã permitiu que as mulheres tivessem destaque. Surgiram várias mulheres dotadas de conhecimento e poder, como Santa Hildegarda, a filósofa, e Urraca I de Leão e Castela, rainha de próprio direito.
E as famílias e a vida moral passam a se fortalecer.
Assim, pode-se resumir a contribuição civilizacional do Cristianismo nos seguintes pontos:
Segundo o historiador Thomas Woods, a cultura ocidental se formou de forma orgânica pela união da Filosofia grega, do Direito Romano e do Cristianismo através da Igreja Católica. Com uma parcela da cultura dos povos bárbaros.
Após o Império Romano haver cessado as perseguições à Igreja, ela terminou o processo de assimilação dos outros dois fatores.
A filosofia grega já buscava o logos (λόγος), a razão da existência, e foi justamente com esse nome que Jesus foi nomeado pelo seu apóstolo São João.
Já o Direito Romano foi utilizado para organizar as estruturas internas da Igreja. Devido ao seu enorme crescimento, era necessário uma ordem maior para conseguir organizar as mensagens de evangelização.
Com a queda do Império Romano, foi a Igreja quem manteve as 3 colunas da cultura ocidental.
Os bárbaros, em sua maioria, destruíram todas as bibliotecas que encontravam por não se importar com o conhecimento dos seus antigos inimigos romanos.
A Igreja conservou os 3 pilares e catequizou os novos reis da Europa, assimilando o que havia de bom em sua cultura.
Dessa maneira se originaram a maioria das nações contemporâneas do Ocidente e grande parte do Oriente. Com a união entre as 3 bases antigas e uma pequena parte da cultura dos povos bárbaros.
A cosmovisão ocidental permitiu o surgimento da ciência. A visão grega de que a realidade tem uma ordem intrínseca (λόγος) se uniu com a revelação Cristã. A crença em um Deus inteligente que criou o universo com sabedoria para os homens, impeliu os mesmos homens a buscarem conhecer o cosmos.
Dessa maneira, grandes descobertas foram feitas, sendo as principais:
O alemão Gutenberg, em 1450, criou pela primeira vez um instrumento capaz de produzir livros em larga escala, a prensa, permitindo uma expansão do conhecimento pelo mundo.
Tales de Mileto já havia descrito fenômenos elétricos no século VI a.C., mas foi Benjamim Franklin quem fez os maiores avanços na manipulação da energia elétrica 1750.
Após as descobertas de Franklin, o ser humano conquistou a noite. Passou a ser possível aumentar a produtividade em qualquer setor da vida, tanto pela luz quanto pelo desenvolvimento de máquinas elétricas.
Foi criada no século XVIII por Thomas Newcomen e aprimorada por James Watt. Rapidamente as máquinas a vapor foram utilizadas na produção de roupas e outros itens básicos.
Permitiu a criação e desenvolvimento dos veículos de longa distância como trens e carros.
Agora, itens necessários para a sobrevivência passam a ser produzidos em larga escala.
Pela primeira vez na história da humanidade as notícias passaram a ser transmitidas na velocidade da luz, dando início a era da informação.
A internet revolucionou todos os aspectos da vida humana. Desde a maneira de trabalhar e pedir comida à forma de iniciar um relacionamento amoroso.
Através da internet, existe a possibilidade de aprendizado quase infinito em qualquer parte do mundo.
A cultura ocidental trouxe conquistas humanas nunca antes vistas na história.
Os gregos enfatizaram a razão como elemento mais importante da alma. Buscaram o desenvolvimento desta capacidade ao ponto de criarem métodos de educação utilizados até hoje, como a Paidéia.
Os romanos criaram estratégias militares até hoje estudadas nas principais academias bélicas do mundo.
A língua romana é a base de todas as linguagens do ocidente.
Seu desenvolvimento político e jurídico é a base dos governos e cortes do mundo inteiro.
O cristianismo encerrou a escravidão e deu poder e voz às mulheres. Trouxe a ideia de dignidade humana a todos e a entrega pessoal total pela caridade.
A Igreja disseminou a filosofia grega. Após a sua origem, a filosofia havia ficado restrita a poucos grupos e sábios. Com a criação das escolas e universidades na Idade Média, o conhecimento se espalhou pelo mundo.
A diferença entre a cultura Oriental e Ocidental está na visão de mundo de cada hemisfério. Na cultura oriental predominam as filosofias e religiões panteístas e gnósticas. A cultura ocidental é pautada na razão e na realidade em si.
O panteísmo prega que tudo é Deus. Um exemplo desta cosmovisão é o hinduísmo. Já o gnosticismo prega que o homem possui uma partícula de Deus adormecida em si. Seu principal expoente é o budismo e diversas linhas esotéricas.
Não há uma filosofia ou religião que defenda a razão como o ponto central do universo e da vida. Em ambas as correntes dominantes há uma um objetivo de abandonar a razão e encontrar o divino por outro meio.
Por isso não há ciência fora do Ocidente. As descobertas técnicas mais importantes como carros, aviões e tecnologia elétrica foram todas do Ocidente para o Oriente.
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