O contexto da importância de Maradona
Em abril de 1982, a Argentina, sob a ditadura de Leopoldo Galtieri, invadiu as Ilhas Malvinas um arquipélago a menos de 500 km de sua costa, mas pertencente ao Reino Unido.
Movida por um patriotismo que via o território como roubado pelo imperialismo britânico, a nação sul-americana tomou as Malvinas, a Geórgia do Sul e as Ilhas Sandwich do Sul.
A Junta Militar apostava que os britânicos, liderados pela “Dama de Ferro” Margaret Thatcher, não se dariam ao trabalho de defender aquelas terras distantes. Engano fatal. A Marinha Real cruzou o Atlântico, derrotou os argentinos em uma guerra rápida e humilhante, matando 649 soldados e ferindo o orgulho nacional.
Quatro anos depois, em 1986, o destino ofereceu à Argentina uma revanche diferente: um campo de futebol.
Na Copa do Mundo do México, contra a Inglaterra, o futebol – mais que um esporte para os argentinos fanáticos – tornou-se o palco de uma das maiores catarses da história moderna do país.
E o camisa 10, Diego Maradona, foi o protagonista. Com dois gols antológicos nas quartas de final, ele selou a vitória: o “Gol do Século”, uma arrancada genial de 60 metros, e “La Mano de Dios”, um toque ilícito com a mão que enganou o juiz e o goleiro Peter Shilton.
“Marquei um pouco com a cabeça e um pouco com a mão de Deus”, disse Maradona, sem pudor, ao fim do jogo.
Para os argentinos, foi justiça divina contra os britânicos, uma revanche simbólica da honra perdida nas Malvinas.
Maradona, o escolhido para essa missão quase celestial, tornou-se um mito. Levou a Argentina ao bicampeonato naquela Copa, foi eleito o melhor jogador do torneio e, anos depois, consagrado como o maior da história pela FIFA (2000), pelo La Gazzetta dello Sport (2012) e pelo The Times (2010). Mas eu te prometo: há um lado oculto nessa história.
O menino da favela que virou estrela
Nascido em 30 de outubro de 1960, em Villa Fiorito, uma favela pobre e violenta de Buenos Aires, Diego Armando Maradona cresceu com seis irmãos em condições precárias. O futebol era seu escape, e o Boca Juniors, seu time do coração, seu sonho. Aos 9 anos, um amigo o levou ao Argentinos Juniors, onde impressionou nos testes.
Aos 18, em 1979, já era artilheiro do campeonato argentino e eleito jogador do ano pela Guerin Sportivo. Inspirado por George Best e Rivellino, seu talento o levou ao Boca Juniors em 1981, onde realizou o sonho de infância e conquistou o Campeonato Metropolitano.
Em 1982, o Barcelona pagou 8 milhões de dólares – valor recorde na época – por ele. Mas a passagem foi turbulenta: lesões, doenças e um temperamento explosivo o afastaram do sucesso.
Na final da Copa do Rei de 1984, perdeu a cabeça em uma briga violenta, nocauteando um rival com uma joelhada. Suspenso por três meses, deixou o clube em atrito com a diretoria, que, segundo ele em Yo Soy Diego, tinha inveja de sua popularidade.
Transferido ao Napoli em 1984 por mais de 10 milhões de dólares – novo recorde –, Maradona transformou o clube italiano. Com o brasileiro Careca, levou o “nanico” Napoli a dois títulos italianos, uma Liga Europa, uma Supercopa e uma Coppa Italia, desafiando os ricos do norte da Itália.
Virava noites em boates, mas voltava aos gramados ainda mais genial. Sua personalidade indomável e suas jogadas impossíveis o elevaram a um status de divindade em Nápoles e na Argentina.
A consagração e os demônios - Face Oculta de Maradona