Capa: pintura de Solano López feita por Aurelio García (1846–1869).
Francisco Solano López foi um estadista e militar, eleito como o segundo presidente da história do Paraguai. Como diplomata e frequentador das principais cortes europeias, ele se familiarizou com tecnologias e táticas de guerra que influenciaram suas decisões.
Durante seu governo, utilizou a economia crescente do país para promover melhorias e fortificações, impulsionando seu ideal expansionista que lhe rendeu o título de "Napoleão do Prata".
Como filho do primeiro presidente paraguaio, López não seguiu o conselho de seu pai em seu leito de morte, uma decisão que é narrada pelo economista Gastão Reis no quinto episódio da série Brasil: A Última Cruzada:
“‘Meu filho, jamais entre em guerra contra o Brasil’.
Sobre isso, Gastão comentou:
"Ele não apenas ignorou esse aviso, como também se envolveu em conflitos com o Uruguai e a Argentina.”
As decisões de Solano López e seu ideal expansionista levaram o Paraguai a se envolver no maior conflito armado da América do Sul. Neste artigo, buscaremos expor os principais pontos de sua vida e campanhas militares.
Francisco Solano López Carrillo nasceu em Assunção, capital do Paraguai, em 24 de julho de 1827. Ele era filho do primeiro presidente paraguaio, Carlos Antonio López. Aos dez anos, tornou-se aluno de Pedro Escada e, posteriormente, do jesuíta Padre Bernardo Pares.
De acordo com o historiador Narciso Binayán Carmona, membro da Academia Paraguaia de História, Solano López era descendente direto do descobridor e colonizador espanhol Domingo Martínez de Irala.
Solano López recebeu instrução principalmente em idiomas, em preparação para sua carreira política. Além do espanhol e do guarani, suas línguas nativas, ele também falava francês, inglês e português.
Desde cedo, foi educado tanto no campo político quanto no militar. Aos 18 anos, recebeu treinamento militar em Assunção e, posteriormente, na cidade do Rio de Janeiro, especializando-se em fortificações e artilharia.
Durante o governo de seu pai, Solano López foi designado para missões políticas e internacionais. Ainda com 18 anos, foi nomeado general de brigada e comandou os exércitos paraguaios contra o governador da província de Buenos Aires, Juan Manuel de Rosas.
Solano López na Europa
O presidente Carlos Antonio López decidiu fortalecer os laços com reinos e governos distantes. Para isso, enviou seu filho à Europa como líder de uma delegação diplomática, com o objetivo de estreitar relações e importar um sistema industrial para o Paraguai.
Solano López visitou países como Inglaterra, França, Prússia e Sardenha, permanecendo por mais tempo em Paris, onde frequentou a corte de Napoleão III, o primeiro presidente da Segunda República Francesa.
Na Inglaterra, Solano López adquiriu armas para o exército paraguaio e importou tecnologia bélica para o país. Em Paris, ao lado de Napoleão III, assimilou ideais que influenciariam suas futuras ações. Ele expressou suas intenções com a seguinte afirmação:
“Com meus paraguaios tenho o bastante para os brasileiros, argentinos e orientais; e ainda com os bolivianos, se se meterem a sonsos”.
Segundo Antonio Gutierrez Escudero, durante sua estadia na França, Solano López desenvolveu interesse por Napoleão Bonaparte. Inspirado pelo exército francês, mandou confeccionar uniformes semelhantes para seus soldados e, para si, encomendou uma coroa semelhante à de Bonaparte.
Ainda em Paris, o general paraguaio conheceu Eliza Lynch, uma irlandesa que vivia como cortesã. Posteriormente, levou-a para Assunção e casou-se com ela, com quem teve sete filhos.
Além de Eliza, Solano López teve outros relacionamentos amorosos ao longo de sua vida e teve, ao todo, 15 filhos. Ao retornar para Assunção, trouxe consigo seu filho mais velho, Jesus Maria Carrillo, juntamente com Eliza Lynch.
A volta de Solano López para o Paraguai
Em 1855, seu pai o chamou de volta ao Paraguai. Ao chegar em Assunção, nem o presidente nem a Igreja receberam bem sua esposa, Eliza, que viria a exercer grande influência sobre Solano López.
Segundo Antonio Escudero, Eliza Lynch tinha o desejo de transformar Solano López no "Napoleão do Novo Mundo", mas essa ambição também vinha de Solano López, que aspirava a criar um grande império e tornar-se imperador. Daí vem sua intenção inicial de casar-se com a Princesa Isabel, proposta que foi rejeitada por Dom Pedro II.
Solano López retornou ao Paraguai trazendo tecnologias industriais, material bélico e náutico. Logo após sua volta, foi designado por seu pai para tratar de um conflito diplomático com o Brasil, na cidade do Rio de Janeiro.
Ainda em 1855, foi nomeado Ministro da Guerra e da Marinha, sendo encarregado de várias missões, como:
Negociar com a diplomacia brasileira a livre navegação nos rios;
Mediar os conflitos entre a província de Buenos Aires e a Confederação Argentina, resultando posteriormente na unificação argentina;
Organizar o exército e modernizar a fortaleza de Humaitá.
Solano López manteve uma intensa vida política e militar enquanto Ministro da Guerra do primeiro governo presidencial do Paraguai, período que se tornou ainda mais ativo após a doença de seu pai, Carlos Antônio López.
Solano López presidente do Paraguai
Após longos anos com a saúde debilitada, Carlos Antonio López, primeiro presidente do Paraguai, faleceu em 10 de setembro de 1862. Desde 1811, quando o Paraguai obteve sua independência, o país havia sido governado por ditadores.
No mês seguinte à morte de seu pai, Solano López convocou o Congresso do Paraguai para eleger um novo presidente. Ele foi eleito para um mandato de 10 anos.
Como presidente, Solano López decidiu continuar a política de protecionismo econômico adotada por seu antecessor. Ele se opôs à submissão ao capital estrangeiro, especialmente ao inglês, fortalecendo a moeda paraguaia.
Com a economia em crescimento, Solano López promoveu a construção de:
Siderúrgicas;
Fábricas de pólvora e armas;
Fábricas de materiais de construção;
Fábricas de tecido, tinta e papel;
Estradas de ferro;
Telégrafos elétricos, sendo o primeiro a instalar um na América do Sul.
Nos primeiros anos de seu governo, Solano López também se dedicou à administração de conflitos e alianças, principalmente com os países da região do Rio da Prata, que incluía o Império do Brasil, a República Argentina, o Paraguai, o Uruguai e a Bolívia.