Milhares de pessoas se reuniram diante do Santuário da Divina Misericórdia, em Cracóvia. A ocasião não era uma festa cívica nem uma data nacional comum era a entronização oficial de Jesus Cristo como Rei da Polônia.
A cerimônia, realizada em novembro de 2016, foi conduzida por bispos católicos e acompanhada pelo presidente Andrzej Duda. Fiéis de diferentes regiões do país participaram do evento.
No dia seguinte, a consagração foi repetida em Igrejas de todo o território polonês.
Outras entronizações simbólicas já haviam ocorrido em ocasiões anteriores, como em Jasna Góra, em 1997, e em Łagiewniki, em 2000.
No entanto, foi a primeira vez que um chefe de Estado participou formalmente do rito. O presidente compareceu à missa acompanhado de sua mãe e de membros do governo.
A motivação imediata da cerimônia remete a relatos da freira polonesa Rozalia Celakówna. Ela dizia ter recebido revelações privadas, nas quais Cristo pedia para ser reconhecido não apenas nos corações, mas também de forma pública e oficial como Rei da nação.
A Polônia é um país de maioria católica, com forte ligação entre identidade nacional e tradição religiosa. Nesse contexto, a cerimônia marcou o empenho do papa João Paulo II em recuperar os valores religiosos e enfrentar o regime comunista.
Anos antes de Jesus Cristo ser oficialmente entronizado como Rei da Polônia, João Paulo II já travava uma batalha silenciosa contra o regime comunista em seu país natal.
Desde sua eleição em 1978, o pontífice polonês enfrentou forte resistência por parte das autoridades soviéticas e do governo de Varsóvia, que temiam o impacto de sua liderança espiritual sobre uma população majoritariamente católica.
Sua intenção de visitar a Polônia logo nos primeiros meses de pontificado foi vista como uma ameaça política e precisou vencer a oposição direta de Moscou.
Cada tentativa de retorno ao país exigiu negociações delicadas e enfrentou restrições, censura e vigilância.
Mesmo assim, João Paulo II persistiu e suas palavras, gestos e peregrinações ajudaram a acender a esperança que, anos depois, se tornaria em resistência pacífica que desestabilizaria o regime comunista.
A primeira viagem de João Paulo II à Polônia, em 1979, quase não aconteceu. Moscou se opôs à ideia de permitir que um papa polonês retornasse ao seu país natal, temendo a força simbólica da visita.
O líder soviético Leonid Brezhnev chegou a sugerir que o papa alegasse uma doença como desculpa para cancelar.
Pressionado, o governo comunista de Varsóvia acabou cedendo. O resultado foi: milhões de poloneses tomaram as ruas e praças, num gesto silencioso, mas poderoso, de unidade e fé diante do regime.
Três anos depois, uma nova visita foi adiada. O país estava sob lei marcial, após a ascensão do movimento Solidarność. João Paulo II pretendia retornar em 1982, mas foi barrado.
Só conseguiu voltar em 1983, após negociação. O governo libertou presos políticos e suspendeu a lei marcial às vésperas da visita. Em contrapartida, impôs limites ao itinerário e censura aos discursos.
Mesmo assim, o papa reafirmou o valor da dignidade humana e dos direitos fundamentais.
Em 1987, já sob influência das reformas de Gorbachev, o clima era diferente. Jaruzelski visitou o Vaticano e negociou pessoalmente o retorno do papa. A viagem foi autorizada, mas vigiada de perto.
Em Gdańsk, cidade berço do Solidarność, João Paulo II celebrou uma missa histórica e declarou: “Não pode haver liberdade sem solidariedade”, frase que ficou marcada como um chamado à resistência.
Na despedida, o clima foi tenso. Jaruzelski fez críticas indiretas ao papa, acusando-o de alimentar divisões políticas.
João Paulo II respondeu com firmeza: “A paz verdadeira exige respeito aos direitos humanos fundamentais”.
Sem ocupar cargos, nem empunhar armas, o papa havia tocado uma nação e plantado a semente do fim do comunismo na Polônia.
O ato de entronização de Jesus Cristo como rei, foi recebido com entusiasmo por milhares de poloneses que lotaram os arredores do santuário, muitos com bandeiras e imagens religiosas.
A entronização é vista pelos católicos como um símbolo de resistência cultural e afirmação espiritual em um mundo cada vez mais secularizado.
Entender a vida de São João Paulo II é também compreender parte de seu impacto no século XX.
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