João Paulo II: o primeiro papa não italiano em mais 400 anos

Em outubro de 1978, Karol Wojtyła, arcebispo de Cracóvia, foi eleito Papa, tornando-se o primeiro não italiano em 456 anos a ocupar o trono de Pedro

O último papa não italiano antes de João Paulo II havia sido Adriano VI, eleito em 1522. Nascido na região de Utrecht, nos Países Baixos, Adriano foi o primeiro, e até hoje único, papa holandês, assim como João Paulo II foi o primeiro papa polonês.

Assumiu o nome João Paulo II e inaugurou um pontificado que marcaria profundamente o século XX tanto no campo espiritual quanto no geopolítico.

Sua eleição surpreendeu o mundo e foi recebida com euforia na Polônia. Em meio à dominação soviética, a escolha de um papa vindo do bloco comunista soava como uma esperança silenciosa. Mas o silêncio duraria pouco.

No seu discurso inaugural, João Paulo II declarou: “Não tenhais medo. Abri as portas a Cristo.” Frase que ficou marcada durante seu longo pontificado.

Poucos meses depois, em 1979, voltou ao seu país natal. Diante de milhões de fiéis, fez uma oração simples, mas explosiva: “Que o vosso Espírito desça e renove a face da Terra… desta Terra!”

Na ocasião, deixou também um recado aos jovens universitários poloneses: que não perdessem a esperança e, mais uma vez, pediu que não tivessem medo.

“Vós deveis levar para o futuro toda a experiência da história que tem o nome de Polônia. Numa experiência difícil, talvez uma das mais difíceis do mundo, da Europa, da Igreja. Não tenhais medo da fadiga, mas tende medo apenas da leviandade e da pusilanimidade. Desta difícil experiência que tem o nome de Polônia pode obter-se um futuro melhor, mas só com a condição de sermos honestos, sóbrios, crentes, livres de espírito e fortes nas convicções”.

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Aquela viagem acendeu algo novo no coração dos poloneses. Em pouco tempo, surgia o movimento Solidariedade, liderado por Lech Wałęsa.

Com raízes operárias e inspiração cristã, ele se tornaria a principal força de oposição ao regime comunista e pavimentaria o caminho para a queda da Cortina de Ferro.

Durante uma entrevista em 2009, Lech Walesa falou que o papa foi um dos principais responsáveis pela queda do comunismo na Polônia.

“Na verdade 50% da queda do muro está relacionada a João Pablo II, 30% à Solidariedade e Lech Walesa, e apenas 20% ao resto do mundo. Essa era a verdade naquela época e é a verdade agora” 

João Paulo II não empunhou armas nem assumiu cargos políticos. Sua arma era a palavra, sua força vinha da fé. Viajou por todos os continentes, falou a povos de diferentes culturas e denunciou tanto o totalitarismo quanto o relativismo moral.

Foi o líder espiritual mais influente do século XX, capaz de unir multidões e desafiar sistemas.

A história não foi mais a mesma depois dele. Seu legado permanece como símbolo de coragem, firmeza e esperança. Um papa que não apenas liderou a Igreja, mas ajudou a transformar o mundo.