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Conheça a História do Comunismo e suas principais consequências

A história do comunismo é um dos acontecimentos mais influentes da história moderna. Conheça a história do comunismo e suas principais consequências.

Por
Redação Brasil Paralelo
Publicado em
1/4/2024 17:37
Fonte da imagem: Ramil Sitdikov/via Reuters.

A história do comunismo foi um dos acontecimentos mais influentes da história moderna. Quase metade do mundo aderiu às ideias de Karl Marx e Engels ao longo do século XX, mudando a vida de indivíduos, sociedades e gerando novas disputas entre nações.

Mesmo países que não aderiram formalmente ao pensamento comunista, recebem influências políticas e culturais até os dias de hoje.

Conheça agora a história do comunismo e suas principais consequências.

O que você vai encontrar neste artigo?

O início da história do comunismo

A história do comunismo ganha projeção internacional com o pensamento de um homem: Karl Heinrich Marx. Ele  nasceu em 05 de maio de 1818 em Tréveris, na Alemanha. Foi filósofo, político, economista, sociólogo e jornalista. Sua família era de judeus de classe média.

Quando adolescente, ingressou na Universidade de Bonn. Cursava Direito quando começou a se engajar na política estudantil. Não muito tempo depois, ele se transferiu para a Universidade de Berlim, onde conheceu o pensamento de Hegel, outro conhecido filósofo da modernidade.

Desse momento em diante, ele passou a condenar mais fortemente tanto o Estado quanto a religião, mostra David McLellan no livro Karl Marx: His Life and Thought

Devido a suas posições revolucionárias, Marx foi expatriado e expulso da Alemanha, refugiando-se em Londres. Lá, ele conheceu Friedrich Engels, filho de grandes empresários. 

Os dois se tornaram grandes amigos, desenvolvendo juntos as ideias comunistas. Engels usou o dinheiro das indústrias de sua família para financiar os estudos e a divulgação das ideias comunistas.

Como as ideias comunistas se desenvolveram?

Nessa época, eles delinearam os principais pressupostos da visão de mundo que transformaria o século XX. Karl Marx e Engels condenavam:

  • O sistema capitalista;
  • A propriedade privada;
  • A família;
  • A liberdade individual;
  • A religião.

O sistema comunista defendia que a população deveria compartilhar as propriedades e viver em uma comunidade sem a moral tradicional do Ocidente. Para eles, o ser humano é um ser apenas material que deveria aumentar a produção de bens físicos, sendo uma enganação buscar a transcendência.

Alguns dos principais livros de ambos, que contém os principais pressupostos do comunismo, são:

  • O Manifesto Comunista (1848);
  • O Capital (1867-1894) - Volumes I, II e III;
  • Miséria da Filosofia (1847);
  • O 18 de Brumário de Luís Bonaparte (1852);
  • A Guerra Civil na França (1871);
  • Contribuição à Crítica da Economia Política (1859);
  • A Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado (1884).
  • Saiba mais sobre a teoria comunista com o documentário Brasil Paralelo O Marxismo de Marx, o primeiro épico da série História do Comunismo, disponível gratuitamente no YouTube:

Início da militância comunista

Após publicar suas obras comunistas e escrever sobre a opressão contra os operários, Marx e Engels foram convidados a participar de sociedades secretas revolucionárias que lutavam pelo direito dos trabalhadores. 

O historiador Vladimir Tismaneanu explicou à Brasil Paralelo que a sociedade da época estava em condições de miséria causadas por abusos feitos na Revolução Industrial. Os operários da época estavam criando sociedades secretas para se organizar e mudar a situação econômica e social da Europa.

"Em uma carta à Rainha Vitória, o primeiro-ministro da Inglaterra, Benjamin Disraeli disse em outras palavras: 'as condições dos trabalhadores são tão terríveis que, se algo não for feito, será impossível impedir uma revolução", disse no I Episódio de História do Comunismo.

Os dirigentes da Liga dos Justos conheceram as obras de Marx e Engels e os convidaram para participar do grupo. 

Tempos após ingressar na Liga, Marx e Engels travaram um debate com o célebre teórico comunista Wilhelm Weitling diante dos operários e sindicalistas. 

Weitling defendia a imposição imediata do comunismo, e Marx defendia que era preciso esperar as condições sociais certas, pois sua teoria supostamente científica demonstrou que a natureza da humanidade levaria a uma revolução orgânica.

A opinião dos membros do partido ficou a favor de Marx e Engels, e pouco tempo depois eles foram alçados à posição de chefes do grupo, mostra o Épico História do Comunismo, da Brasil Paralelo.

O que convenceu o público foi a argumentação de Marx de que sua teoria era o socialismo científico, não o utópico.

O nome da sociedade secreta mudou para Liga dos Comunistas. Em 1848, eles publicaram O Manifesto do Partido Comunista, panfleto que é uma das principais bases da história do comunismo.

Primeira internacional

Devido a fama de Marx nos movimentos revolucionários dos proletários, ele foi convidado para participar do grupo chamado Primeira Internacional. O grupo buscava se organizar para instaurar o socialismo no mundo, começando pela Europa, mostra o livro History of the First International de G. M. Stekloff.

A fundação da organização foi o resultado de esforços coletivos de líderes trabalhistas, ativistas e intelectuais de várias partes da Europa. Marx fez parte do Conselho Geral do grupo. 

O principal feito da organização foi divulgar ideias comunistas para inflamar a Primavera dos Povos, os protestos dos trabalhadores europeus contra a administração dos governos que não estava os ajudando a lidar com a fome e a pobreza.

Porém, a Primeira Internacional se desfez sem ter tido conquistas políticas. Um dos motivos de seu término foi a divisão interna. 

Marx e seus seguidores brigavam constantemente contra Mikhail Bakunin e seus seguidores: para Marx, o comunismo deveria ser precedido por um Estado socialista forte; para Bakunin, a sociedade deveria abolir o Estado de imediato.

O grupo se desfez, mas Engels não perdeu as esperanças.

Como foi a Segunda Internacional?

Em 1899, Engels fundou a Segunda Internacional com o mesmo objetivo da primeira, mas a iniciativa falhou. 

Segundo o historiador James Joll, no livro The Second International 1889-1914, desde o início o grupo estava dividido entre adeptos da social-democracia, anarquia, anarco sindicalistas, socialistas-cristãos e marxistas que não concordavam no processo revolucionário e com a visão de mundo dos demais membros.

Com a Primeira Guerra Mundial, as brigas cresceram, cada membro do movimento defendia a visão de seu país contra as demais. Nesse momento, o grupo se desfez.

Apenas com Lenin, na Rússia, que a história do comunismo sairia da teoria.

O que foi a Revolução Russa de 1917? A Primeira Experiência Socialista

A história do comunismo tem sua origem na Europa continental, mas logo outro local se torna protagonista: a Rússia. 

Após a abertura a intelectuais europeus promovida pela czarina Catarina, a Grande, intelectuais russos passam a seguir ideias revolucionárias, tais como as de Voltaire e Hegel.

Pouco tempo após o surgimento das teorias comunistas, Karl Marx se tornou conhecido no país. Com a formação de uma mentalidade revolucionária, o país se torna cada vez mais propenso a revoltas sociais.

Esses grupos foram se radicalizando, seu intuito era instaurar o comunismo o mais cedo possível. Para alcançar seu objetivo, o grupo Vontade Popular assassinou o czar Alexandre II.

Quem foi Lenin? Conheça o líder da Revolução Russa

A história do comunismo na Rússia só começou devido à morte de Alexandre Ulyanov, irmão de Lenin.

Durante os estudos universitários de Alexandre na Universidade de São Petersburgo, ele se juntou ao grupo revolucionário Pervomartovtsi e foi escolhido para participar da missão que montaria uma bomba para assassinar outro czar, o Imperador Alexandre III, conhecido por suas políticas reacionárias e absolutistas.

Antes que eles colocassem os planos em prática, os oficiais do Imperador os prenderam e os enforcaram em praça pública. A morte de Alexander marcou a família, especialmente Lenin

O jovem tomou ódio do Império e das instituições tradicionais, comenta Ronald Clark, no livro Lenin. Antes disso, Lenin não se importava com política, explicou o historiador Victor Sebestyen no II episódio do Épico História do Comunismo, que fala sobre Lenin e a revolução russa.

Em 1889, a família se mudou para a cidade de Samara. Rapidamente, Lênin encontrou um grupo socialista, fundado por Alexei Sklyarenko e se juntou a eles. 

Foi nesse momento que ele descobriu o livro O Capital, de Karl Marx, obra que marcaria toda a sua trajetória. O historiador Robert Service aponta que Lênin dizia ser "apaixonado por Marx e Engels". 

Lenin passou a militar cada vez mais dentro do movimento comunista russo, ascendendo a cargos de liderança no partido. Após anos de dedicação, ele se tornou líder de uma facção do partido conhecida como bolcheviques.

Seu grupo queria instaurar o comunismo de imediato, enquanto o outro grupo, os mencheviques, acreditavam que era preciso esperar a Rússia se industrializar para depois fazer a revolução, como Marx preconizava.

A Revolução Branca, fevereiro de 1917

Em 1915, a monarquia russa estava enfraquecida e com pouco apoio popular. Apesar disso, resolveu entrar nos conflitos da 1ª Guerra Mundial. Enquanto isso, operários nas fábricas produziam armas e soldados russos roubam dinheiro do exército para a revolução.

O reinado do czar Nicolau II dá sinais claros de fraqueza. Durante a guerra, a fome se alastra pela Rússia e novas revoltas e greves tomam as ruas, explica o historiador Donald Sassoon no II episódio de História do Comunismo.

Em fevereiro, os trabalhadores da Rússia anunciaram uma greve geral. Liberais e mencheviques comandam as manifestações e pressionam pela queda do czar. Nicolau II renunciou e o parlamento russo assumiu o comando da Rússia em caráter provisório.

Este evento ficou conhecido como Revolução de Fevereiro ou Revolução Branca.

Outro núcleo de poder surgiu nesse momento: o soviete de São Petersburgo. O poder russo torna-se dual devido à aliança de liberais e comunistas.

Lenin queria tomar o poder, acabar com o novo parlamento, e dar todo o poder aos sovietes. Com difamações, Lenin minou a reputação dos liberais e instigou o povo a protestar contra a lentidão de suas reformas, radicalizando o movimento.

A Revolução Vermelha, outubro de 1917

Os mencheviques queriam implementar uma constituição, criar novas instituições de poder e organizar toda a nova estrutura política russa de maneira democrática. As reformas davam passos lentos e não sanavam as principais demandas populares:

  1. a saída da Rússia da guerra;
  2. uma solução para o problema da fome.

Lenin adotou uma estratégia perspicaz: publicamente dizia apoiar o regime provisório. Por trás dos bastidores, incitava o povo a promover uma revolução mais incisiva.

A radicalização das massas diante das lentas reformas serviram como uma legitimação das ideias de Lenin.

Em 23 de outubro de 1917, o exército vermelho se reúne no soviete de São Petersburgo e marcha para derrubar o governo provisório. Este evento ficou conhecido como Revolução Vermelha, ou Revolução de Outubro. Assim, os comunistas chegaram ao poder.

Para fazer com que a história do comunismo não se restringisse à Rússia, Lenin e seus camaradas fundaram a Internacional Comunista.

O que foi a Internacional Comunista

A Internacional Comunista (Comintern ou Komintern, do alemão Kommunistische Internationale) foi iniciada em março de 1919. Foi uma organização criada para unir os partidos comunistas e promover uma revolução global. 

Isto se deu após a vitória da Revolução Bolchevique em 1917, com Lênin liderando o Partido Comunista Russo. Sua sede era em Moscou e ela durou até 1943. 

A direção era conduzida pela Pequena Comissão ou Uskaia Komissia, responsável pelas decisões sobre aspectos políticos e inteligência. Ela também ligava o Comintern ao Partido Comunista da União Soviética (PCUS).

O grupo buscava desenvolver os grupos geridos e desenvolvidos por Karl Marx, baseando-se na Liga dos Comunistas e na Primeira Internacional. 

Dos 7 Congressos Mundiais da Internacional Comunista, alguns tiveram especialmente o Brasil como uma das principais pautas. Antonio Bernardo Canellas, um brasileiro, fez parte do alto escalão do Comitê Executivo dos comunistas de Moscou. 

A abrangência da Internacional alcançou a América do Sul. Alguns eventos do regime militar de 1964 estão relacionados ao plano do Comintern de espalhar o comunismo pelo mundo. 

- Saiba mais sobre a Internacional Comunista e suas principais realizações.

Governo de Lênin

Os principais feitos de Lênin como governante foram:

  1. Políticas socialistas de fortalecimento do Estado;
  2. Retirada da Rússia da Primeira Guerra Mundial;
  3. Roubo de grãos e o Terror Vermelho;
  4. Vitória contra o exército branco na guerra civil;
  5. Criação de campos de concentração (os gulags);
  6. Criação da Nova Política Econômica, uma iniciativa que fazia o país retornar ao capitalismo.

Políticas socialistas de fortalecimento do Estado

Ao assumir o poder, Lênin emitiu uma série de decretos para iniciar o socialismo e posteriormente o comunismo na Rússia, a sociedade sem Estado e propriedade. Na realidade, o país não se viu sem Estado ou sem propriedade, o governo tomou tudo para si.

O historiador Robert Service aponta que as principais políticas de Lênin foram:

  • socialização das terras agrárias da aristocracia e da Igreja Ortodoxa;
  • fechamento de empresas de comunicação;
  • controle de todas as fábricas da Rússia;
  • abolição de todo o sistema jurídico do Império russo; 
  • políticas anti-religiosas;
  • abolição de todas as dívidas externas do país;
  • investimento na alfabetização dos camponeses.

Muitos socialistas do mundo criticaram as políticas de Lênin, afirmando que esse período foi uma mancha na história do comunismo. 

Alguns dos principais críticos de esquerda foram Karl Kautsky, Rosa Luxemburgo, Piotr Kropotikin e outros, narra James Ryan no livro Lenin's Terror: The Ideological Origins of Early Soviet State Violence.

Retirada da Rússia da Primeira Guerra Mundial

Lênin decidiu retirar a Rússia da Primeira Guerra Mundial. Mesmo com alguns de seus colegas desejando manter a guerra para espalhar a revolução, o líder da Rússia acreditava que manter o país na guerra poderia acabar com seu governo e atrapalhar a revolução internacional.

Para retirar a Rússia da guerra, Lênin aceitou entregar grande parte do território do país para a Alemanha através do acordo Brest-Litovski, perdendo uma parte significativa do território produtivo russo, narra Richard Pipes.

A iniciativa agradou o povo que sofria com os conflitos, fortalecendo a história do comunismo na Rússia.

Terror Vermelho

Para lidar com a fome de 1918, Lênin afirmou que o país estava mal devido aos grandes agricultores que escondiam alimentos para aumentar o preço de seus produtos. Devido a essa convicção, Lênin ordenou que as forças armadas do país invadissem a terra dos agricultores e procurassem alimentos.

No início da operação, Lênin ordenou que 100 desses agricultores fossem enforcados em locais públicos para servir de exemplo para os outros. 

A maioria das ordens de assassinato que Lenin emitia não envolvia seu nome, mas pseudonimos, ele tinha medo que a população não gostasse de suas medidas extremas, aponta Dmitri Volkogonov na obra Lenin: Life and Legacy.

Extermínio dos camponeses e dos "não desejáveis"

O líder da Rússia socialista defendia a violência para acabar com os resquícios da antiga estrutura social do país, chegando a afirmar:

"O Estado é uma instituição construída pelo exercício da violência. Anteriormente, esta violência era exercida por um punhado de sacos de dinheiro contra todo o povo; agora nós queremos organizar a violência no interesse do povo (trecho retirado do livro Lenin: A Biography, de David Shub)".

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