Conheça o movimento hippie e sua face oculta

As origens do movimento hippie

Um dos estopins do movimento hippie foi a Guerra do Vietnã. Observando seus familiares e amigos morrendo em território estrangeiro, muitos americanos se revoltaram contra seu governo e suas instituições, buscando um caminho alternativo, aponta o livro The Age of Great Dreams: America in the 1960s.

Desde os anos 50, parte da sociedade americana já reprovava o American Way of Life (jeito americano de viver, em tradução livre). O movimento beat, composto por literatos, buscava um modo de vida alternativo à clássica família americana.

O consumismo e supostos excessos do movimento anticomunista eram alguns dos principais alvos de críticas.

Autores como Jack Kerouac, Allen Ginsberg, William Burroughs e Anne Waldman viviam em "refúgios artísticos": cafeterias com jazz, poemas e outros novos estilos de arte que estavam surgindo com o modernismo do século XX.

Muitos hippies tiveram os beats como referência. Outro movimento cultural que surgia na época fortaleceu as ideias que os hippies adotaram.

Marxismo cultural 

O marxismo cultural foi um movimento que desenvolveu nos EUA e em outros países a repulsa à cultura ocidental. Seus postulados surgiram antes do movimento hippie e conversam com o que era desejado por eles.

Saul Alinsky foi um ativista americano que defendia a infiltração marxista na cultura para acabar com os valores cristãos e capitalistas da cultura ocidental. Desde antes dos anos 40, Alinsky e membros da Escola de Frankfurt tentavam criar uma cultura semelhante à hippie nos EUA.

Suas ideias serviram de base para personalidades como Barack Obama, Hillary Clinton e outros políticos americanos. 

A Escola de Frankfurt defendia que a cultura tradicional do Ocidente era o principal empecilho para a criação do comunismo global, buscando inserir ideais revolucionários em diversos tipos de cultura, como literatura, novelas, música, cinema e outros.

As comunidades hippie

Com o ativismo cultural e as tragédias geradas pela Guerra do Vietnã, diversos americanos passaram a abandonar a vida tradicional de seu país, indo em busca de uma vida nova. O movimento hippie passou a ganhar força com os grandes shows musicais.

Os jovens passavam a ter contato com esse novo mundo ao ir em shows e se depararem com sociedades naturalistas e libertárias. Os maiores marcos do movimento hippie foram:

• O Verão do Amor (1967) - EUA, San Francisco;
• Festival de Woodstock (1969) - EUA, estado de NY;
• Isle of Wight Festival (1970) - Inglaterra

Quando se depararam com esses eventos, muitos jovens conheceram as novas comunidades e aprenderam a doutrina hippie.

O que o movimento hippie defendia?

Alguns dos principais postulados da doutrina do movimento hippie são:

• é proibido proibir;
• não deve existir hierarquias nem subordinações, para que haja total liberdade;
• relações sexuais devem ser liberadas sem restrição - era o advento da Revolução Sexual;
• drogas expandem o horizonte de consciência;
• instituições como família natural, Igreja e capitalismo aprisionam o ser humano;
• o prazer e a paz contínua são um dos principais objetivos da vida humana.

Alguns dos principais influenciadores ou desenvolvedores da doutrina do movimento hippie foram:

• Timothy Leary;
• Jack Kerouac;
• Charles Manson;
• Allan Ginsberg;
• Saul Alinsky;
• Joan Baez;
• John Lennon.

Slogans famosos do movimento hippie

A doutrina do movimento hippie foi disseminada na sociedade através da cultura, como músicas, manifestações, festas, filmes, mas uma das principais formas de divulgação foram os slogans. Alguns dos principais slogans do movimento foram:

• "Faça amor, não guerra";
• "Faça amor, não dinheiro";
• "É proibido proibir";
• "Paz e Amor";
• "Só há amor quando não existe nenhuma autoridade".

A Face Oculta do movimento hippie

O movimento hippie ganhou uma face glamourizada, de movimento de paz e amor. Mas diversas tragédias que ele promoveu foram pouco divulgadas e não são muito conhecidas. O programa Face Oculta da Brasil Paralelo revelou algumas delas:

• alastramento de doenças, especialmente doenças sexualmente transmissíveis (DSTs) e doenças causadas por drogas;
• violência;
• seitas que defendem assassinato e pedofilia;

Consequências das DSTs, das drogas e violência interna

O proprietário do rancho Spahn, na cidade de Los Angeles, acolheu um grupo de jovens de classe média em busca de terreno para estabelecer uma comunidade hippie. 

Preocupado com a infraestrutura precária do distrito no qual milhares de jovens se aglomerariam naquele verão, o Dr. David Smith reuniu uma equipe de voluntários para fornecer cuidados médicos gratuitos à comunidade.

A clínica começou atendendo queixas de desconforto provocado por desconfortos causados pelas drogas, mas em pouco tempo viu-se repleta de pacientes com complicações de doenças venéreas. Segundo o Dr. Smith:

“Seria um eufemismo dizer que houve um aumento de DSTs. Seria como dizer que um furacão é um vento forte”. 

Entre 1964 e 1968, houve um aumento de 165% dos casos de sífilis e gonorréia no estado da Califórnia, aponta uma reportagem da NBC News.

Infecções por hepatite viral proliferaram entre os usuários de anfetamina, que seguiam compartilhando agulhas em rituais de sexo coletivo mesmo alertados dos riscos da doença.

Garotas jovens, inclusive adolescentes, procuravam a clínica para tratar sequelas de tentativas de aborto. 

Com o aumento do uso de heroína, a dependência química e a prática de roubos para sustentação do vício se tornaram frequentes.

Casos de psicose induzida por metanfetamina desencadearam alucinações e surtos violentos de paranoia. A comunidade de ideais pacifistas estava ruindo com o crescente número de estupros e assassinatos.

Segundo o Dr. Smith:

"Nós criamos o slogan 'metanfetamina mata', e não é apenas que metanfetamina estava matando muitos indivíduos, mas ela matou… ela matou um movimento".

Com a chegada do inverno, a maioria dos jovens já havia abandonado Haight-Ashbury por desilusão, medo ou para tratamentos médicos especializados. E da aventura hippie naquela comunidade sobrou o lamento: 

“Nós fomos do idealismo ao desespero”, disseram alguns ex-integrantes do movimento hippie.

Três exemplos das consequências da vida hippie são Jimi Hendrix, Janis Joplin e Jim Morrison. Três produtos de uma era de talentos e de excessos, três vítimas fatais de overdose aos 27 anos.

Seitas criminosas do movimento hippie

Em Los Angeles, a comunidade do rancho Spahn celebrava o movimento hippie vivendo a emancipação da cultura ocidental. Os membros da comunidade:

• utilizavam drogas alucinógenas;
• afirmavam ter experiências místicas desassociadas de religiões tradicionais;
• viviam isolados de outras sociedades;
• praticavam sexo livre e acolhimento afetivo sem restrição.

A comunidade era liderada por um jovem carismático de cabelos longos e espontaneidade vibrante, que pregava a ruptura das prisões mentais forjadas pela sociedade capitalista. Seu nome era Charles Manson.

Charles Manson

Charles Manson se estabeleceu no rancho de Los Angeles um ano após ter participado do “verão do amor” em São Francisco, onde angariou os primeiros adeptos do culto que viria a ser conhecido como “Família Manson”.

Permeando a sua filosofia com referências ocultistas, o guru hippie logo ganhou status de profeta, passando-se por uma reencarnação de Jesus Cristo.

Na noite do dia 8 de agosto de 1969, quatro integrantes da Família Manson ー Tex Watson, Susan Atkins, Linda Kasabian e Patricia Krenwinkel ー, dirigiram até a casa do renomado cineasta Roman Polanski para cumprir uma missão de seu culto.

Lá eles encontraram a esposa do diretor, a atriz Sharon Tate, grávida de oito meses, e mais quatro pessoas.    

Em uma cena descrita por um investigador como remanescente de um ritual religioso bizarro, cinco pessoas, incluindo a atriz Sharon Tate, foram encontradas mortas na casa.

Tate foi encontrada com uma corda no pescoço, presa ao corpo de um homem. Um policial resumiu os assassinatos dizendo: 

“Em todos os meus anos, eu nunca havia visto nada assim antes”.   

Sharon Tate implorou para ser levada como refém e mantida viva apenas o suficiente para dar à luz. Os assassinos responderam com 16 punhaladas no peito e na barriga. Segundo declarou Susan Atkins, uma das assassinas:

"Nós fomos até a casa com instruções para matar todos da casa. E não apenas isso, nós fomos instruídos a descer… em todas as casas, bater em todas as casas e matar todas as pessoas em todas as casas".

Os investigadores descreveram a cena como um ritual religiosos bizarro.

Mais assassinatos

Na noite seguinte, Charles Manson se juntou a seus seguidores para invadir a casa do empresário Leno LaBianca, que vivia com a esposa, Rosemary. Manson deixou o local antes de seus adeptos Tex Watson, Patricia Krenwinkel e Leslie Van Houten assassinarem o casal com mais de 40 facadas.  

Todos os envolvidos nos crimes, incluindo Charles Manson, foram condenados à prisão perpétua. Manson morreu de causas naturais, em 2017, enquanto cumpria o 46^o ano de sua pena.

A ausência de remorso das três jovens assassinas, Susan Atkins, Patricia Krenwinkel e Leslie Van Houten, mesmo após a condenação, chocou o mundo. 

Outros cultos do movimento hippie e seus crimes

A Família Manson seria apenas uma amostra da fábrica de cultos em que a Califórnia se tornou nos anos 60 e 70. A contracultura de religiosidade experimental em comunidades isoladas faria mais vítimas.

Em 1968, uma plateia de hippies se reunia nas praias californianas para ouvir David Berg. O pregador era um evangelista que defendia uma reinterpretação do cristianismo. Em suas teses, ele era o novo profeta de Deus. 

Um ano depois, ele já comandava comunidades em diversas cidades americanas. Batizada de Children of God, a seita se ramificou pelo mundo em uma rede que atingiu mais de 70 países ainda na década de 70. 

Em 1972, a primeira colônia dos Meninos de Deus foi fundada no Brasil. David Berg adotou o ideal hippie de "amor livre". 

Para ele, todas as práticas sexuais eram uma manifestação do amor de Deus. Dentro da sua invenção religiosa, David chegou a implementar o método “Flirty Fishing”, em que as mulheres da seita eram encorajadas a converter novos membros ou atrair doações para a organização através do sexo.

Seus ensinamentos eram ilustrados em quadrinhos pronográficos distribuídos tanto aos adultos quanto aos jovens e crianças das colônias.

Segundo o depoimento de uma mulher que viveu na comunidade desde a infância:

"Eu nasci numa comunidade chamada Meninos de Deus. Não sei se você já ouviu falar. Mas, ao nascer, não tínhamos a chance de escolher quem queríamos ser. Nós éramos crianças e tínhamos de ser crianças… soldados de Deus. 

E eles acreditavam que o amor de Deus era o sexo. Então todos tinham que dar amor através do sexo. Então todo mundo, desde nossos seis anos de idade, para dar o amor de Deus, você precisava fazer sexo. E você via sua mãe e seus irmãos sendo abusados". 

David Berg foi acusado de estupro por, pelo menos, seis mulheres, incluindo duas de suas filhas e duas de suas netas.

Apesar de dezenas de seus membros terem sidos presos por abuso sexual infantil em diferentes partes do mundo, a seita continua operando, agora com o nome de The Family International.

O movimento hippie acabou?

De acordo com a Enciclopédia Britânica, o movimento hippie não acabou, mas sim evoluiu com o tempo, afirmando:

Enquanto o movimento atingiu seu auge nos anos 60 e 70, com uma forte presença visível e influência na sociedade, muitos de seus ideais e influências permanecem até hoje em várias formas de expressão cultural, práticas sociais e valores. 

A Enciclopédia Britânica destaca alguns dos principais movimentos existentes hoje em dia que foram desenvolvidos pelo movimento hippie:

• movimento ambientalista;
• relativismo moral;
• revolução sexual.

A cultura woke também pode ser vista como um desenvolvimento do movimento hippie.

Ideologias políticas e seu reflexo na vida individual

O movimento hippie se colocava como um movimento político. Para saber mais sobre ideologias políticas e sua influência na história moderna, a Brasil Paralelo está oferecendo gratuitamente o e-book Ideologias Políticas: As Diferentes Correntes. 

Não perca a oportunidade de conhecer as origens e os principais pensadores da transformação cultural do mundo ocidental dos últimos anos.

A Brasil Paralelo

A Brasil Paralelo é uma empresa de entretenimento e educação cujo propósito é resgatar bons valores, ideias e sentimentos no coração de todos os brasileiros. Em sua história, a empresa já produziu documentários, filmes, programas e cursos sobre história, filosofia, economia, educação, política, artes e atualidades.

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