Glória Perez, uma das maiores autoras de novelas do Brasil, culpou a cultura woke pela crise nas produções brasileiras:
“A cultura "woke" introduziu um cerceamento à imaginação. A opção de não desagradar, de não tocar em temas sensíveis, de transformar conflitos humanos em pautas, acabou por encerrar a dramaturgia numa espécie de fórmula, retirando dela a capacidade de provocar. A cultura "woke" foi arrasadora para a dramaturgia.”
A declaração foi concedida durante uma entrevista para a Folha de São Paulo.
Ela seguiu afirmando que novelas conhecidas por marcarem época, como O Clone e Caminho das Índias , não teriam existido os dias atuais:
“No contexto atual, elas nem chegariam ao público. Foram novelas inovadoras, e inovar pressupõe correr riscos. "Salve Jorge", além de tratar de um tema muito sensível, o tráfico de pessoas, trazia a personagem da Nanda Costa como a primeira protagonista favelada e prostituída. Não imagino que essa ousadia fosse aprovada hoje em dia.”
Questionada sobre as críticas que essas produções enfrentam pela forma como retratam outras culturas, Glória Perez diz que seu trabalho faz sucesso nos países representados:
“Fico com a aprovação das culturas retratadas. Quem foi ao Marrocos, à Índia, à Capadócia sabe disso e viu de perto o quanto a população dos locais gostou desses retratos. Sempre busquei incluir a face mais progressista e a mais tradicional de cada cultura. Mês passado, uma amiga jornalista viajou pelo Arzebaijão. Num restaurante, ao saber que era brasileira, os garçons falaram com entusiasmo de ‘O Clone’".
A dramaturga também disse que a censura nos dias de hoje chega a ser pior do que o que acontecia durante o regime militar.
Para ela, era difícil lidar com a censura oficial, no entanto, com as redes sociais é praticamente impossível evitar ataques dos mais diferentes grupos:
“Na época, você tinha uma censura comandada pela dona Solange . Era ela quem mandava cortar as coisas. Só que agora nós temos uma multiplicidade enorme de ‘Solanges’.
Solange Hernandes comandou a Divisão de Censura de Diversões Públicas (DCDP) entre os anos 1981 e 1985, no fim do regime militar.
- Conheça a história do período com um dos documentários mais polêmicos da Brasil Paralelo, 1964: O Brasil entre armas e livros. Assista completo abaixo:
O órgão fazia parte da Polícia Federal e era responsável por fiscalizar e autorizar produções culturais.
Solange ficou conhecida por ser excepcionalmente rígida, reprovando cerca de 2,8 obras por dia de trabalho, segundo pesquisa da historiadora Beatriz Kushnir.


















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