O papa Leão XIV celebrou a canonização de sete novos santos neste domingo (20). Entre eles estava Bartolo Longo, um ex-satanista que se converteu e virou um promotor do rosário.
O milagre associado ao santo foi a cura cientificamente inexplicável de Carmen Rocco Câmera em 1943.
A mulher sofria de uma doença gastrointestinal terminal.Um padre chamado Spreafico escreveu duas cartas aos parentes, falando para eles orarem pela intercessão de Bartolo.
Carmen conseguiu se recuperar, abrindo caminho para que o papa João Paulo II beatificasse o santo em 1980.
O papa Leão XIV aceitou um parecer favorável autorizou a canonização de Bartolo Longo com dispensa do segundo milagre, o que normalmente é exigido.
Isso aconteceu porque já havia um culto consolidado e a história dele tem um impacto pastoral considerado extraordinário.
Bartolo Longo nasceu em uma família católica, mas começou a se afastar da fé quando tinha apenas 10 anos de idade, após a morte de sua mãe.
Com a ajuda do padrasto, ingressou na Universidade de Nápoles em 1861, onde passou a cursar direito. Na época, havia um forte sentimento anti-igreja, motivado principalmente pelo nacionalismo.
Garibaldi e outros líderes do movimento que unificou a Itália viam a Igreja Católica como inimiga do processo, já que precisaram eliminar os Estados Pontifícios.
Muitos dos professores na Universidade de Nápoles eram ex-religiosos que se agarraram às narrativas do período. Bartolo foi tomado por esse sentimento anticlerical, passando a detestar os cristãos, como escreveu anos depois:
"Eu também passei a odiar monges, padres e o papa, em particular os dominicanos, os mais formidáveis e furiosos oponentes daqueles grandes professores modernos, proclamados pela universidade como filhos do progresso, defensores da ciência, campeões de todo tipo de liberdade". Trecho retirado da Fundação dos Frades Dominicanos.
Longe da fé de seus país, ele começou a frequentar médiuns famosos da cidade de Nápoles, o que foi a porta de entrada para o ocultismo.
Sua busca pelo sobrenatural o levou a conhecer grupos satanistas e se aproximar cada vez mais deles.
Após um período de estudos intensos e jejuns rigorosos, ele se consagrou como um sacerdote satânico, e prometeu sua alma para o diabo.
Além de participar em rituais satânicos, Bartolo fazia campanhas de ataques contra a Igreja e ridicularizava a instituição.
Enquanto presidia os cultos demoníacos, a saúde mental dele piorava. Bartolo foi acometido por doenças como depressão, paranoia, confusão e nervosismo extremos.
Sua vida era um caos, até que conheceu Vincenzo Pepe, um professor universitário e católico fervoroso. Os dois começaram a conversar e criaram uma relação de amizade:
"Você não é isso. Essa não é a verdade sobre você. O que você procura, seu tormento interior, não deve ser buscado no que você está vivendo agora", dizia o professor segundo o postulador padre Antonio Marrazzo.
Pepe conseguiu convencer Bartolo a se consultar com um padre dominicano que conseguiu trazê-lo de volta à Igreja após três semanas de conversas.
Ele se tornou dominicano de terceira ordem e se voluntariou no Hospital Napolitano para Incuráveis. Bartolo chegou a ir aos espaços de culto satânico que frequentava lavando consigo um rosário para renunciar publicamente a seus antigos costumes.
Apesar de sua conversão, ele ainda temia pelo destino de sua alma. Enquanto resolvia assuntos jurídicos para sua cliente, a condessa Mariana di Fusco, visitou a cidade de Pompeia.
Próxima às ruínas da cidade romana, Pompeia era uma região empobrecida e pouco catequizada. Seus moradores costumavam recorrer a superstições e bruxaria com frequência.
Ao ver esse cenário, Bartolo foi tomado pelo desespero e passou a temer pelo destino de sua alma, segundo a a Fundação dos Frades Dominicanos.
“Um dia, nos campos ao redor de Pompeia, lembrei-me da minha antiga condição como sacerdote de Satanás... Pensei que, talvez, assim como o sacerdócio de Cristo é para a eternidade, também o sacerdócio de Satanás é para a eternidade. Assim, apesar do meu arrependimento, pensei: ainda estou consagrado a Satanás, e ainda sou seu escravo e propriedade. Enquanto refletia sobre minha condição, experimentei um profundo sentimento de desespero e quase cometi suicídio.” Escreveu.
Nesse momento ele entendeu que precisaria de dedicar a espalhar o rosário para ser salvo:
“Então, ouvi ecoar em meus ouvidos a voz de Frei Alberto repetindo as palavras da Santíssima Virgem Maria: 'Quem propagar o meu Rosário será salvo'. Caindo de joelhos, exclamei: 'Se as suas palavras são verdadeiras, de que quem propagar o seu Rosário será salvo, alcançarei a salvação, porque não deixarei esta terra sem propagar o seu Rosário'”.
Bartolo enxergou naquele povo o mesmo vazio que um dia o consumiu. Ali, sentiu o chamado para trazer a fé de volta a Pompéia.
O primeiro passo foi a restauração da igreja local, que estava em ruínas. Em paralelo, fundou a Confraria do Rosário, com o objetivo de catequizar a população e reacender a fé por meio da devoção à virgem Maria.
No ano de 1875, recebeu de presente uma imagem de Nossa Senhora do Rosário em péssimo estado, adquirida por um padre dominicano num mercado de pulgas em Nápoles.
Bartolo restaurou a imagem com os poucos recursos que tinha e a colocou na igreja no ano seguinte. O objeto rapidamente virou alvo de veneração e milagres começaram a ser relatados.
Um dos casos mais emblemáticos foi o da jovem Fortuna Agrelli, que sofria com uma moléstia grave. Em 1884, ela teve uma visão de Nossa Senhora dizendo:
“Todo aquele que deseja receber graças de Mim. Deve fazer três novenas de súplica (27 dias) e três novenas de agradecimento (27 dias), rezando o Rosário”.
Após seguir as instruções diante da imagem da santa, Fortuna se recuperou milagrosamente. Casos como esse faziam o número de peregrinos aumentar cada vez mais.
Bartolo lançou um projeto audacioso para construir um grande santuário dedicado à Virgem do Rosário, sustentado exclusivamente por doações populares.
Nasceu assim uma campanha que envolveu não só os moradores locais, mas devotos de toda a Itália.
Em 8 de maio de 1876, lançou a pedra fundamental da nova igreja, e em 1891 ela foi consagrada como Santuário Pontifício.
Em 1894, o Papa Leão XIII passou a jurisdição do santuário diretamente para a Santa Sé e confiou sua administração a Bartolo e à Condessa.
Em 1939 a igreja foi ampliada e reconsagrada como uma basílica, sendo oficialmente nomeada como Basílica de Nossa Senhora do Santíssimo Rosário de Pompeia.
Além de buscar renovar a fé da cidade e pregar o rosário para os moradores de Pompeia, Bartolo também se dedicou a lutar contra a pobreza na região.
Ele usou as doações que recebia e o apoio financeiro da Condessa para fundar instituições de caridade e obras sociais, incluindo:
O santo empregava os próprios camponeses locais nas obras do santuário, ensinando ofícios como pedreiros e artesãos, o que garantia uma fonte de renda.
Ele fundou uma nova congregação dominicana chamada as Filhas do Santo Rosário de Pompéia em 1897, após não conseguir trazer uma congregação de freiras para a cidade.
Longo renunciou a todas as obras de caridade que havia criado em favor da Santa Sé em 1909.
A proximidade de Bartolo com a Condessa Mariana di Fusco levou a uma série de rumores sobre um envolvimento romântico entre os dois.
O papa Leão XIII sugeriu que os dois se casassem para evitar que as especulações desviassem o povo da mensagem de fé que eles propagavam.
O casamento foi celebrado em 1885, mas os dois escolheram manter o celibato, mantendo seus votos de castidade. Mariana faleceu em 1924, aos 87 anos.
Bartolo foi consagrado com a insígnia de Cavaleiro da Grã-Cruz da Ordem Equestre do Santo Sepulcro de Jerusalém em 1926. Ele morreu no dia 5 de outubro do ano seguinte.
Bartolo Longo chegou a receber uma indicação ao Prêmio Nobel em 1902, por organizar uma petição internacional pela paz mundial entre 1896 e 1900.
O documento que veio no período pré-primeira guerra mundial conseguiu recolher mais de quatro milhões de assinaturas em dezenas de países.
Na ocasião o prêmio foi entregue aos suíços Élie Ducommun e Charles-Albert Gobat, os dois criaram o Bureau Internacional da Paz, uma organização que reunia ativistas pacifistas ao redor do mundo.
No ano seguinte ele voltou a ser indicado por Vincenzo Giuseppe De Prisco e Luigi Simeoni, que destacaram seus trabalhos sociais. Na ocasião, recebeu apoio do papa Leão XIII.
No entanto, a premiação foi entregue a Sir Randal Cremer, um sindicalista e pacifista que defendia a arbitragem para resolver problemas internacionais.
O santo refletia com frequência sobre o rosário e a trajetória de Jesus Cristo. Suas anotações serviram de inspiração para o papa João Paulo II estabelecer os Mistérios Luminosos em 2002.
Os escritos de Bartolo ajudaram o pontífice a elaborar os mistérios que abrangem o ministério público de Jesus, sendo eles:
João Paulo II faz diversas referências ao na encíclica do Rosário, e encerra o documento com uma oração em homenagem a ele. Bartolo foi beatificado pelo mesmo papa em 1980.
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