O conflito com Rosa dos Ventos
Planejada para substituir o remake de Vale Tudo no horário nobre de 2026, Rosa dos Ventos tinha como pano de fundo o Rio Grande do Sul e explorava as ambições de uma mulher em um contexto de violência e dilemas éticos.
Perez revelou que a trama girava em torno do aborto forçado, um tema que considerava essencial.
“Retirar o aborto seria como tirar o King Kong do filme”, afirmou. A emissora estava preocupada com a sensibilidade do assunto em um momento de debates sociais acalorados, sugeriu remover o tema, proposta que Perez rejeitou.
A emissora ofereceu uma extensão de contrato para que a autora desenvolvesse outra novela, a ser exibida após a próxima novela de Aguinaldo Silva, mas Perez recusou.
“O contrato era para Rosa dos Ventos. Com o cancelamento, preferi não seguir. Resolvemos tudo de forma amigável”.
A Globo reteve a sinopse, impedindo que a autora levasse a história para outra emissora, algo que Perez comparou a um episódio semelhante nos anos 1980 com Barriga de Aluguel. A autorareafirma que a emissora está no direito dela, ao fazê-lo.
“Na época, fui para a Manchete e criei Carmem. Agora, pensarei no próximo passo”.
A trama de Rosa dos Ventos
A trama contaria a história de Mabel (Giovanna Antonelli), casada com o empresário Murilo (Murilo Benício), que decide se candidatar a um cargo legislativo no Rio Grande do Sul, onde ele mantém negócios.
Para se adaptar à cultura local, Mabel contrata uma assessora (Sheron Menezzes). Perez escolheu o estado pela sua “rica diversidade cultural e paisagens pouco exploradas na TV, como os cânions”, explicou.
O conflito central surge quando Murilo se envolve com Cibele (Grazi Massafera), uma ex-modelo que trabalha como balconista.
Cibele engravida, e Murilo, temendo um escândalo que arruinaria os planos políticos de Mabel, pressiona-a a abortar.
“Ele simula um encontro de reconciliação, mas ela é dopada, e o aborto é realizado sem seu consentimento”, revelou Perez.
Revoltada, Cibele busca vingança, cruzando caminhos com o herdeiro de Murilo (Rômulo Estrela), que forma um par romântico com uma guarda-costas (Isis Valverde).
“É uma história de gato e rato, onde implicâncias viram amor”, descreveu a autora.
Perez enfatizou que a novela não tinha viés partidário:
“Não há comícios, políticos ou polarização.
Minha intenção era unir a plateia, não dividi-la”, afirmou. O aborto, segundo ela, servia para destacar uma forma de violência contra mulheres.
“É um tema recorrente na mídia, muitas vezes ligado a finais trágicos. Queria jogar luz sobre isso”, disse, citando casos reais que inspiraram a trama.
A decisão da Globo e o impacto
A rejeição de Rosa dos Ventos reflete o cuidado da Globo com temas controversos em um horário nobre cada vez mais competitivo, especialmente após a ascensão de plataformas de streaming. Fontes próximas à emissora, que pediram anonimato, indicaram que a decisão considerou o risco de alienar parte do público em um contexto de debates éticos e religiosos intensos no Brasil.
Apesar disso, a Globo elogiou o legado de Perez em nota ao Estadão: “Gloria é uma das maiores autoras do Brasil, e sua contribuição à nossa dramaturgia é inestimável.”
O rompimento gerou reações mistas. Nas redes sociais, fãs lamentaram a saída de Perez, com hashtags como #VoltaGloria trending no X, enquanto outros apoiaram sua decisão de defender a integridade da trama.
A novelista Lícia Manzo, em entrevista ao O Globo, elogiou a coragem de Perez:
“Ela sempre abordou temas difíceis com sensibilidade. É uma perda para a Globo, mas Gloria seguirá brilhando.”
Já outros, como o colunista Rodrigo Constantino, questionaram a escolha do tema, sugerindo que “o aborto pode ser explorado, mas exige equilíbrio para não soar militante”.
Um legado de sucesso e novos horizontes
Com sucessos como O Clone, Caminho das Índias e A Força do Querer, Perez deixa um marco indelével na Globo. Em sua entrevista, expressou gratidão: “Foi na Globo que construí minha carreira e consolidei minha voz na dramaturgia. Sou eternamente grata.” Sobre o futuro, ela permanece otimista.
“Boas ideias não terminam. Elas encontram novos caminhos”, disse, sugerindo que já planeja projetos independentes, possivelmente para streaming ou outra emissora.
O fim da parceria levanta questões sobre o futuro da teledramaturgia brasileira, que enfrenta o desafio de equilibrar inovação e tradição. Para Perez, a saída é uma oportunidade de reinvenção.
“A vida é movimento. Estou pronta para o que vier”.
Procurada, a Globo não se manifestou sobre a rescisão do contrato de Gloria Perez.