Diversas agências internacionais apontam que o governo israelense possui armas nucleares, apesar do país não assumir formalmente.
A Federação dos Cientistas Americanos (FAS) e o Instituto Internacional de Pesquisa para a Paz de Estocolmo (Sipri) estimam que Israel tenha cerca de 90 ogivas nucleares.
O país conseguiu construir seu programa nuclear em segredo, escondendo seus projetos até mesmo dos Estados Unidos.
Na década de 1950, o primeiro-ministro e fundador do país, David Ben-Gurion, via nas armas nucleares uma garantia real de sobrevivência para a nação.
Moldado pela memória do Holocausto, o projeto era uma promessa de que o povo judeu "nunca mais" seria incapaz de se defender.
Ben-Gurion acreditava que Israel deveria basear sua segurança na ciência e na tecnologia, campos em que poderia ter vantagem sobre seus vizinhos árabes.
Foi com essa visão que ele criou o projeto, junto com o cientista Ernst David Bergmann e o então jovem político Shimon Peres.
O projeto começou através de uma parceria secreta com o governo francês. Naquela época havia uma forte simpatia pela causa israelense entre cientistas e políticos do país.
Em 1957, as duas nações firmaram um acordo confidencial para a construção de um grande complexo nuclear no deserto do Negev, perto da cidade de Dimona.
Além do reator nuclear, os franceses também ajudaram a construir uma enorme usina subterrânea de reprocessamento de plutônio, com seis andares de profundidade.
Essa instalação era a peça-chave para a produção de material para armas nucleares, e sua existência era conhecida por poucas pessoas em ambos os governos.
Para obter a tecnologia e os materiais que a França não podia fornecer, Israel montou uma unidade de inteligência científica, o Lekem (acrônimo para "Escritório de Ligação Científica").
Uma das figuras centrais dessa rede foi Arnon Milchan, que mais tarde se tornaria um produtor de sucessos de Hollywood como "Uma Linda Mulher" e "Clube da Luta".
Recrutado nos anos 1960, Milchan usou seus contatos e empresas para contrabandear tecnologia e materiais para o programa israelense.
Em 1968, a Lekem orquestrou uma operação espetacular: o "desaparecimento" de um navio cargueiro com 200 toneladas de minério de urânio em pleno Mar Mediterrâneo.
Usando uma teia de empresas de fachada, a carga foi comprada na Antuérpia e ocultada em tambores rotulados como “plumbat”, um derivado de chumbo.
O minério foi carregado em um navio cargueiro alugado por uma empresa liberiana falsa.
A venda foi camuflada como uma transação entre empresas alemãs e italianas, com ajuda de autoridades alemãs. Os israelenses teriam oferecido assistência aos alemães com tecnologia de centrífugas.
Quando o navio atracou em Roterdã, a tripulação foi dispensada sob o pretexto de que a embarcação havia sido vendida e agentes israelenses assumiram o comando.
O navio seguiu para o Mediterrâneo escoltado pela Marinha israelense até a carga ser transferida para outra embarcação.
Documentos dos Estados Unidos e do Reino Unido desclassificados também revelaram uma compra de cerca de 100 toneladas de minério de urânio argentino em 1963 ou 1964.
O recurso foi comprado sem as salvaguardas utilizadas em transações nucleares para impedir que o material fosse usado em armas.
A CIA também suspeitava que Israel havia roubado uma quantidade significativa de urânio para armas de uma usina de processamento na Pensilvânia.
O episódio revela como mais de 330 quilos de material para armas nucleares desapareceram misteriosamente de uma empresa privada.
Na década de 1960, uma empresa chamada Nuclear Materials and Equipment Corporation (NUMEC), processava combustível nuclear para a marinha americana.
Entre 1965 e 1968, inventários de rotina descobriram que uma quantidade alarmante de urânio altamente enriquecido, simplesmente havia "desaparecido".
As perdas inexplicadas somavam mais de 330 quilos, quantidade que seria suficiente para produzir mais de uma dúzia de bombas como a de Hiroshima.
Desde o início, as suspeitas recaíram sobre Israel por uma série de motivos:
Documentos confirmam que, dentro do governo americano, a CIA estava convencida de que o urânio desaparecido foi parar em bombas israelenses.
Em um briefing secreto em 1976, o vice-diretor da CIA para ciência e tecnologia, Carl Duckett, afirmou diretamente a oficiais da Comissão Reguladora Nuclear (NRC) que essa era a conclusão da agência.
A prova mais contundente veio de amostras ambientais coletadas pela própria CIA em Israel em 1968.
As análises continham traços de urânio enriquecido a um nível tão específico que só poderia ter vindo da usina de Portsmouth, em Ohio – justamente a mesma que fornecia o material para a NUMEC.
Apesar da convicção da CIA, altas esferas do governo americano agiram para abafar o caso.
A Comissão de Energia Atômica (AEC), que deveria fiscalizar a NUMEC, convenceu o FBI a não abrir uma investigação criminal.
A AEC temia que um escândalo sobre o desaparecimento de material para bombas prejudicasse seus esforços para promover a energia nuclear nos EUA.
Enquanto construía seu arsenal, Israel conduzia uma sofisticada campanha de desinformação para enganar seu maior aliado, os Estados Unidos.
Pressionado pelo presidente John F. Kennedy, que temia a proliferação nuclear no Oriente Médio, Israel aceitou visitas de inspeção de cientistas americanos ao complexo de Dimona.
Os israelenses afirmavam que Dimona era um "reator de pesquisa" para fins exclusivamente pacíficos.
Para sustentar a mentira, chegavam ao ponto de construir paredes falsas dentro das instalações antes de cada visita.
Escondendo os elevadores que levavam à usina secreta de reprocessamento de plutônio no subsolo.
Os inspetores americanos, que não tinham permissão para trazer seus próprios equipamentos ou coletar amostras, eram enganados e relatavam não encontrar evidências de um programa de armas.
Em 1968, a CIA finalmente informou ao presidente Lyndon Johnson que Israel havia, de fato, conseguido construir armas nucleares.
A notícia veio em um momento delicado, com a iminente criação do Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares (TNP), que Israel nunca assinou.
Para evitar um colapso do tratado, a Casa Branca decidiu não confrontar publicamente seu aliado.
Os EUA pararam de pressionar Israel sobre seu programa nuclear, e manteve seu arsenal em segredo.
Desde então, o governo israelense adota a famosa política de "opacidade" ou "ambiguidade nuclear" – não confirmar nem negar a posse de armas atômicas.
Nenhum presidente americano reconheceu publicamente a existência das bombas israelenses.
Em 22 de setembro de 1979, um satélite espião americano, chamado Vela 6911, detectou o "duplo flash" característico de uma explosão atômica no Oceano Índico, perto da costa da África do Sul.
Naquela época, a inteligência americana sabia que a África do Sul e Israel conduziam programas nucleares clandestinos.
A conclusão dos militares foi de que o teste provavelmente foi de Israel, cujo programa estava mais avançado, em cooperação com o regime sul-africano.
Segundo os artigos da Foreign Policy, a Casa Branca agiu rapidamente para encobrir a verdade.
A razão era política. A legislação americana da época (Emenda Glenn) obrigava o presidente a impor sanções a qualquer país que detonasse um dispositivo nuclear.
A pouco mais de um ano da eleição presidencial, aplicar sanções a Israel era impensável para Jimmy Carter, pois poderia abalar o apoio da influente comunidade judaica nos EUA.
Para criar uma narrativa oficial que negasse o ocorrido, o governo Carter montou um painel de cientistas.
A missão era analisar os dados do satélite e apresentar uma conclusão que descartasse a hipótese de uma explosão nuclear.
A conclusão foi de que o sinal poderia ter sido causado por um "evento de origem desconhecida", possivelmente um meteoro ou o reflexo da luz solar em detritos espaciais.
O painel governamental, no entanto, ignorou uma série de evidências que contradiziam sua conclusão e apontavam claramente para um teste nuclear:
A inteligência dos EUA estava convencida de que se tratava de um teste israelense, provavelmente em cooperação com a África do Sul.
No entanto, o governo do presidente Jimmy Carter teria acobertado o fato para evitar uma crise diplomática com seu aliado.
O projeto foi o único bem sucedido na região do Oriente Médio. Há décadas o governo israelense luta para manter esse cenário.
O país já chegou a realizar operações contra países que buscaram tecnologias nucleares.
Um exemplo foi a Operação Ópera, em 1981, quando Israel fez bombardeios contra o reator nuclear de Osirak no Iraque de Saddam Hussein.
Os iraquianos afirmavam que a usina funcionava para fins de pesquisa pacífica, mas Israel acusava o país de preparar uma arma nuclear.
Bombardeios contra o Irã seguem o mesmo princípio
A operação contra o programa nuclear iraniano, iniciada na sexta-feira passada (13) foi mais um episódio do governo israelense tentando evitar a construção de armamentos atômicos.
Os bombardeios focaram nas instalações do programa nuclear do país persa e na execução de cientistas ligados a ele.
Durante uma entrevista para a Fox News, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu comparou uma arma nuclear iraniana a um novo holacausto:
"Não teremos um segundo holocausto, um holocausto nuclear. Já tivemos um no século passado - o Estado judeu não vai permitir que o holocausto seja cometido contra o povo judeu. Isso não vai acontecer."
Netanyahu disse que seu governo tinha provas de que o Irã estava a apenas "meses" de desenvolver sua primeira arma nuclear.
Além disso, ele alega que o país teria a capacidade de produzir “pelo menos nove bombas”. Essas evidências teriam sido compartilhadas com agentes do governo americano.
Essa visão é compartilhada por intelectuais israelenses. Durante entrevista para o filme From the River to the Sea, da Brasil Paralelo, o especialista em cultura árabe e islâmica, Mordechai Kedar, afirmou que o regime iraniano está preparando uma bomba atômica:
"Não há dúvidas de que eles estão preparando uma bomba atômica. Eles enganaram o mundo inteiro alegando que não a estavam desenvolvendo, mas desenvolveram sim."
Kedar também alertou para a capacidade de alcance de armas desenvolvidas no Irã:
"Eles criaram mísseis que podem levar essa arma nuclear para muito além de Israel, Israel é apenas o posto avançado da cultura ocidental no Oriente Médio."
O major General Yaakov Amidror, ex-chefe do conselho de segurança de Israel, relembrou a dificuldade de convencer os aliados sobre a gravidade da situação e destacou a urgência atual:
"Os americano levaram dois anos para se convencerem de que era grave e durante esse tempo disseram que estávamos enganados. [...] Desde então Israel trabalhou para retardar todo o processo no Irã. Até o momento tem dado certo para nós, mas está acabando e o Estado de Israel vai enfrentar uma decisão difícil sobre o que fazer se não quiser que eles tenham armas nucleares."
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