O que mostra o dossiê da BBC?
O caso mais grave envolve Panorama, o programa investigativo da BBC. Pouco antes das eleições americanas de 2024, foi ao ar o episódio “Trump: A Second Chance?” (Trump: Uma Segunda Chance?) em que, segundo Prescott, os produtores editaram falas de Donald Trump em um discurso de 2021.
A edição conecta frases ditas com quase uma hora de diferença. O resultado dava a entender que o ex-presidente incitava seus apoiadores a “lutar como o inferno” durante a invasão do Capitólio em 6 de janeiro, algo que ele nunca disse.
“Se jornalistas podem editar vídeos para fazer pessoas ‘dizerem’ coisas que não disseram, o que resta da confiança pública?”, escreveu Prescott em seu relatório.
Prescott também denunciou que o canal árabe da BBC vinha “abrindo espaço desproporcional para a versão do Hamas”, omitindo o caráter terrorista do grupo.
Em um documentário sobre Gaza, a emissora contratou como narrador o próprio filho de um ministro do Hamas sem informar ao público.
O repórter recebeu pagamento da BBC, e a produção foi defendida pela então chefe de jornalismo, Deborah Turness, sob o argumento de que o pai do narrador “não pertencia à ala militar” do grupo.
O problema, como o relatório destacou, é que essa distinção não existe: o Hamas é reconhecido como uma organização única e terrorista pelo Reino Unido desde 2021.
Para Prescott, a BBC “não apenas falhou em esclarecer o público, ela ajudou a normalizar uma organização genocida sob o rótulo de autoridade política legítima”.
Entenda a linha de tempo do caso da BBC
O episódio do Panorama contra Trump foi exibido uma semana antes das eleições americanas de 2024. Internamente, os alertas começaram logo após a transmissão. Prescott relatou o caso aos superiores, mas as respostas foram evasivas.
“Os executivos pareciam mais preocupados com a imagem da BBC do que com a verdade”, escreveu.
Em junho de 2025, frustrado, ele renunciou ao cargo e enviou um relatório de 19 páginas à diretoria. Sem retorno, encaminhou o documento ao governo britânico.
Quando o The Telegraph publicou o dossiê em novembro, a crise se tornou pública. Dias depois, o diretor-geral Tim Davie e a chefe de jornalismo Deborah Turness deixaram os cargos.
O presidente da emissora, Samir Shah, reconheceu “erro de julgamento” e admitiu que avalia um pedido formal de desculpas a Trump.
O governo, por sua vez, anunciou que revisará o modelo de financiamento da BBC e o sistema de cobrança compulsória da taxa pública.
Quais foram as reações ao dossiê?
A revelação gerou uma reação em cadeia. Donald Trump Jr. chamou a BBC de “fábrica global de fake news”.
Boris Johnson, ex-primeiro-ministro britânico pelo Partido Conservador, classificou o episódio como “uma vergonha nacional”.
Nigel Farage, líder do partido Reform UK, acusou a emissora de “interferência eleitoral”, e parlamentares conservadores pediram investigação formal.
Grupos judaicos também protestaram contra o tratamento dado ao Hamas, acusando a emissora de relativizar o terrorismo. O Campaign Against Antisemitism afirmou que a BBC se transformou em “porta-voz de propaganda disfarçada de jornalismo”.
Em resposta, Samir Shah afirmou que os erros foram “pontuais” e negou qualquer “viés institucional”.
Para o presidente da emissora, a BBC “permanece a organização mais confiável do Reino Unido”.
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