O ambiente digital tem mudado a forma como meninos e adolescentes se relacionam com o mundo.
Segundo pesquisas, cada vez mais cedo, jovens entram em contato com conteúdos que vão de redes sociais e jogos a pornografia, discursos de ódio e comunidades que reforçam comportamentos agressivos.
Dados da SaferNet mostram que denúncias de discurso de ódio contra mulheres cresceram 58% em apenas um ano, com adolescentes entre os principais envolvidos.
A UNESCO alerta que a exposição precoce a esse tipo de material, somada ao consumo de pornografia e de jogos violentos, pode normalizar comportamentos de desrespeito e violência.
O risco aumenta porque muitos acessam a rede sem supervisão. A pesquisa TIC Kids Online Brasil indica que metade dos adolescentes entre 9 e 17 anos usa a internet sem acompanhamento dos pais.
Entre os mais velhos, de 15 a 17 anos, o índice chega a 51%, e 24% das crianças navegam online antes dos seis anos.
Nos últimos anos, comunidades como Red Pill e MGTOW cresceram nesse ambiente. Embora se apresentem como espaços de apoio masculino, pesquisas mostram que acabam divulgando conteúdos hostis às mulheres.
O especialista em cibersegurança Rafael Almeida afirma que o funcionamento das plataformas digitais contribui para a popularização desse material:
“As redes permitem e favorecem a propagação de conteúdo extremista. Os algoritmos são treinados para manter o usuário engajado pelo maior tempo possível, e discursos polarizados e violentos tendem a performar melhor nesse sistema.”
Segundo ele, a falta de supervisão amplia a vulnerabilidade dos adolescentes:
“Eles acabam entrando em bolhas e são expostos repetidamente ao mesmo tipo de conteúdo, o que reforça crenças e normaliza comportamentos nocivos.”
Recentemente, o influenciador Felca também chamou atenção para o tema em seu vídeo “Adultização”, que teve mais de 48 milhões de visualizações.
Ele defende mudanças nos algoritmos, fiscalização rigorosa das plataformas e punição para quem explora menores online.
“A internet deve ser um lugar de medo para pedófilos”, afirmou.
Outro ponto de preocupação é a pornografia. O médico Felipe Fortes, do Núcleo de Saúde do Adolescente da UERJ, alerta para o impacto do consumo precoce:
“A maioria dos adolescentes só consegue se excitar com vídeos roteirizados, irreais e violentos. Isso prejudica a construção da afetividade e reforça padrões de disputa em que todos perdem.”
Uma pesquisa mostra que 60% dos meninos tiveram o primeiro contato com pornografia antes dos 14 anos. Mais da metade assiste a vídeos semanalmente.
Em entrevista à Brasil Paralelo, o terapeuta Giovanni José de Oliveira e Silva explicou que a pornografia pode gerar vício:
“Não é um vício estático. Ele avança. Vai corroendo a mente, a vontade e até o corpo.”
Do ponto de vista neurológico, o excesso de estímulo libera quantidades exageradas de dopamina, o chamado hormônio do prazer. Com o tempo, o cérebro passa a exigir conteúdos cada vez mais fortes.
“A pessoa começa com vídeos leves. Depois passa para fetiches, orgias, cenas violentas. Em muitos casos, chega à prostituição ou até à pedofilia”, afirma Giovanni.
As consequências desse cenário atingem os próprios adolescentes. O Ministério da Saúde aponta que o suicídio é a terceira principal causa de morte entre jovens de 15 a 19 anos no Brasil, com 8.391 registros em 2022.
A OMS também alerta que meninos têm quatro vezes mais risco de morrer por suicídio do que meninas.
Segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, adolescentes do sexo masculino são, ao mesmo tempo, as principais vítimas e autores de violência letal. Isso revela um ciclo em que a masculinidade se associa ao risco, à violência e à morte precoce.
O professor Scott Galloway, da Universidade de Nova York, resume o quadro:
“Quatro vezes mais probabilidade de se matarem. Três vezes mais de desenvolverem dependência. Doze vezes mais de serem presos. Níveis recordes de depressão. Temos um grupo de jovens homens econômica e emocionalmente inviáveis.”
Pesquisadores destacam que o problema não pode ser tratado apenas de forma punitiva. O consenso é investir em estratégias educativas e preventivas, envolvendo famílias, escolas, políticas públicas e plataformas digitais.
O objetivo é oferecer suporte emocional aos adolescentes, reduzir a exposição a conteúdos nocivos e criar referências positivas de masculinidade.
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