Quem foi o Padre Cícero Romão Batista?
Cícero Romão Batista nasceu em 1844 na cidade do Crato (CE), numa casa simples. Filho de agricultores, fez voto de castidade aos 12 anos, inspirado pela vida de São Francisco de Sales.
Entrou no Seminário da Prainha aos 21, foi ordenado em 1870 e, dois anos depois, mudou-se para o povoado de Juazeiro do Norte, onde permaneceu pelos próximos 60 anos.
Padim Ciço aprofundou uma pastoral marcada por missões populares, novenas, terços públicos, procissões e ação social intensa.
Ganhou fama de conselheiro, apaziguador de conflitos e até “casamenteiro”. Ajudava pobres, defendia trabalhadores e estimulava crianças a aprenderem ofícios.
Os milagres da hóstia
Em 1889, um episódio mudou para sempre sua vida e a história de Juazeiro: a hóstia, dada por padre Cícero, teria sangrado na boca da beata Maria de Araújo.
O fenômeno teria se repetido diversas vezes, atraindo multidões e transformando o local em destino de peregrinação.
A repercussão gerou tensão com a hierarquia da Igreja. Em 1894, Padre Cícero foi proibido de celebrar a Missa, acusado de manipular a crença popular.
Em 1898, viajou a Roma pedir a revogação da pena ao papa Leão XIII e conseguiu. O bispo local, porém, contestou o resultado, e a punição foi mantida. Historiadores confirmam que Padre Cícero nunca foi excomungado.
Padre Cícero foi político?
A partir de 1911, Juazeiro tornou-se município e Padre Cícero assumiu como primeiro prefeito, realizando diversas obras. Também foi vice-governador do Ceará.
Em 1914, uniu-se a líderes locais contra a intervenção federal no estado. A chamada “guerra do Padre Cícero” ficou conhecida como a Sedição de Juazeiro.
O episódio colocou o governo federal em choque com as oligarquias do Cariri, e Padre Cícero, pela força de sua liderança religiosa e política, tornou-se o centro da resistência popular.
Na época, tropas ligadas ao governador Franco Rabelo tentaram cercar Juazeiro, mas foram contidas pelos moradores, que depois marcharam até Fortaleza e derrubaram o governo estadual.
Padim Ciço faleceu em 20 de julho de 1934, aos 90 anos, com cerca de 60 mil pessoas presentes ao sepultamento. Hoje, Juazeiro recebe 2,5 milhões de romeiros por ano.
Como o processo chegou até aqui?
- 2014: a Santa Sé reconciliou Padre Cícero com a Igreja após revisão histórica feita pela Diocese de Crato.
- Novembro de 2022: abertura oficial do processo de beatificação.
- Junho de 2025: conclusão da fase diocesana.
- Outubro de 2025: início da fase romana, agora em andamento.
O que acontece agora no Vaticano?
Segundo o vice-postulador, padre Wesley Barros, o próximo passo no Vaticano será a nomeação de um relator. Ele ficará responsável por escrever a positio, documento que reúne a vida, as virtudes e a fama de santidade de Padre Cícero.
A positio passa por três avaliações:
- parecer individual dos teólogos;
- análise no Congresso de Teólogos;
- análise no Congresso de Cardeais.
Se todas as etapas forem aprovadas, o papa poderá declarar que Padre Cícero viveu as virtudes em grau heróico, título que o reconhece como Venerável.
Para avançar à beatificação, a Igreja exige o reconhecimento de um milagre atribuído à intercessão do sacerdote. A canonização, etapa seguinte, só ocorre com a comprovação de um segundo milagre.
A devoção que atravessa o Brasil
Dom Orani Tempesta, arcebispo do Rio, destacou que Padre Cícero foi um “pastor fiel ao povo e à Igreja”, destacando sua luta contra vícios, defesa da moral e sensibilidade social.
Chamou-o de “Patriarca do Nordeste” e lembrou sua forte presença entre nordestinos no Sudeste do país.
Segundo o cardeal, o avanço da causa “renova a evangelização e reconecta o Brasil às suas raízes espirituais”.
Enquanto a fase romana avança, a orientação da Diocese de Crato permanece: rezar privadamente pela beatificação e acompanhar os estudos no Vaticano.
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