O Vale do Silício fica na Califórnia, a região de maior concentração de startups e fundos de capital de risco do mundo.
Cerca de 20% do capital de risco dos EUA está por lá e mais 10% em Los Angeles, também no estado californiano.
Assim que a lei passar a valer, qualquer empresa de capital de risco operando no estado, deverá reportar informações dos seus fundadores como:
- a etnia;
- se possuem alguma deficiência física ou mental;
- a orientação sexual.
A lei também exige que os fundos disponibilizem os dados de diversidade para o público.
Essas medidas entram em vigor a partir de 2025, sendo a primeira legislação dos EUA que visa ampliar a diversidade no panorama do capital de risco.
Na prática, junto dos relatórios de números financeiros das empresas, os fundos irão mostrar anualmente a cor, a etnia, a idade, o sexo e gênero dos fundadores e colaboradores dessas companhias.
A ideia dos legisladores é possibilitar que os investidores possam avaliar qual tipo de empresa estão fomentando e investindo, buscando favorecer grupos da agenda progressista.
“Essa lei representa meu profundo comprometimento com o avanço da equidade e com o empoderamento econômico de comunidades sub-representadas historicamente” escreveu o governador Newsom em sua carta de assinatura da lei.
A Associação Nacional de Capital de Risco (NCVA) escreveu uma carta alegando que a lei pode produzir “desinformação e dados contraproducentes que podem ferir a causa da diversidade, equidade e inclusão ao criar custos e riscos desnecessários para os investidores de capital de risco da Califórnia”.
A pauta da diversidade e os relatórios de inclusão não surgiram por acaso
Desde o início do século XXI, muitas empresas passaram a abordar pautas ambientalistas e sociais em suas campanhas publicitárias e projetos, bem como a adotar novos mecanismos administrativos.
As iniciativas não surgiram por acaso: em 2004, a instituição Pacto Global e o Banco Mundial criaram um projeto nomeado EGS, abreviação para Environmental, Social and Governance (traduzindo para o português, seria: Ambiental, Social e Governança).
As instituições estavam buscando uma forma de levar as empresas a ter mais responsabilidade e comprometimento ambiental e social com o mercado no qual atuam, com seus consumidores, fornecedores, colaboradores e investidores.
James Gifford, economista que liderava o PRI, instituto social apoiado pela ONU, resumiu assim o significado de ESG:
“O ESG é apenas um subgrupo inserido no contexto maior do investimento sustentável. O termo foi criado, especificamente, para focar em questões materiais. A ideia foi inverter a lógica do que, na época, era chamado de investimento ético, para se concentrar em fatores relevantes para os investidores.
Se você tem uma responsabilidade fiduciária, como no caso de um fundo de pensão, não deveria estar pensando num horizonte de nove meses, mas sim de nove anos, ou de 20 anos. E quando se considera esse horizonte, temas como mudanças climáticas, riscos sociopolíticos etc., se tornam relevantes.
Algumas pessoas usam o termo de maneira mais ampla, mas o ponto central é a incorporação de fatores socioambientais nos investimentos para gerenciar riscos. Não é mais sobre ética.”
Seu impacto foi tamanho que diversas bolsas de valores internacionais e nacionais criaram fundos de investimento para empresas que adotam o ESG. As empresas que mais aplicam práticas ESG recebem mais destaque de muitos fundos de investimento, afirma a Morgan Stanley Capital International (MSCI).
Aderir a ESG não é algo fácil, a prática pode trazer efeitos colaterais para uma empresa. O engessamento da administração e o aumento no quadro de funcionários são a ponta do iceberg.