O MC Poze do Rodo deixou a prisão na tarde de ontem (3) após um desembargador conceder um habeas corpus e mandar soltar o cantor.
Os fãs do funkeiro fizeram uma festa em frente à prisão para celebrar sua liberdade.
A Secretaria de Administração Penitenciária (Seap) precisou usar grades para conter os fãs, que tentavam se aproximar do presídio.
Fogos foram disparados e pessoas passaram mal durante o empurra-empurra. A Polícia Militar precisou usar spray de pimenta para conter a multidão.
Enquanto deixava o local, Poze subiu no teto solar de seu carro, tirou e começou a girar a camisa em comemoração.
Ele passou quatro dias detido sob acusações de apologia ao crime e suposto envolvimento com a facção Comando Vermelho (CV).
Marlon Brendon Coelho Couto Silva, o MC Poze do Rodo, nasceu em 1999 e cresceu na Favela do Rodo (também conhecida como Favela do Rola ou Rolas) no Rio de Janeiro.
Foi lá que Poze se envolveu com o tráfico de drogas local, controlado pelo Comando Vermelho.
Ele atuava como "vapor", o nome dado aos jovens que vendem drogas nas bocas de fumo.
Fotos antigas, que circulam nas redes sociais, mostram o funkeiro mais novo ostentando armas como fuzis, pistolas e até uma granada.
Poze conviveu com amigos como Vinicius Gomes Elias, o "Menor do Lins", e outro conhecido como "VK" (da Vila Kennedy).
Ambos se envolveram com o crime desde cedo, mas foram mortos em confrontos com a polícia em 2016.
O próprio cantor reconhece que poderia ter tido o mesmo destino, durante uma entrevista ao programa Profissão Repórter, ele disse:
"Já troquei tiro, fui baleado e preso também. E eu pensei: vou querer ficar nessa vida aqui ou viver uma vida tranquila? Então, eu foquei em viver uma vida tranquila, batalhei e hoje em dia eu passo isso para a molecada: o crime não leva a lugar nenhum."
A grande virada na vida de Poze do Rodo aconteceu em 2019, com o sucesso da música "Tô Voando Alto".
O hit o projetou no cenário do funk carioca e seu cachê, na época, teria saltado para cerca de R$20 mil por show.
Desde então, Poze emplacou uma série de sucessos, como Vida Louca, A Cara do Crime (Nós Incomoda) e Me Sinto Abençoado.
Seu primeiro e único álbum, O Sábio, foi lançado em 2022 e conta com participações de outros nomes de peso do funk e do trap, como MC Cabelinho, Orochi e seu amigo Oruam.
Hoje, MC Poze do Rodo é um dos maiores nomes do "trap de cria", uma vertente do funk que mistura batidas aceleradas com uma estética do rap.
Ele acumula quase 6 milhões de ouvintes mensais no Spotify e ganha mais de R$200 mil por mês apenas com apresentações.
Com o sucesso, veio a ostentação de joias, carros de luxo e uma casa de dois andares com piscina no Recreio dos Bandeirantes, bairro nobre da Zona Oeste do Rio. Em entrevista ao Profissão Repórter, da Globo, afirmou:
"Sempre fui moleque de sonhar em ter o que hoje eu tenho. Isso aqui é cada pingo de suor que eu batalhei para ter".
As músicas de MC Poze do Rodo, muitas no estilo conhecido como "proibidão", são um dos principais focos das investigações policiais.
As letras frequentemente fazem referências explícitas ao universo do crime, a armas de fogo, ao uso de drogas e à facção Comando Vermelho.
Na canção Fala que a tropa é comando vermelho, por exemplo, Poze fala sobre atirar contra policiais em nome da facção:
“Fala que a tropa é Comando Vermelho se piar aqui na VK, vocês vai ver. Só soldado preparado, os menor descontrolado, se os cana brotar, a bala vai comer”.
Na música CDD só tem bandido faixa preta, que faz referência à luta por territórios na Cidade de Deus, Poze fala sobre o poder de fogo do grupo:
“Nós tem Glock, tem AK, 62 com mira laser. Terror dos alemão, é os moleque da 13. Nós vamo voltar pra casa e botar a bala pra comer, retomar o que é nosso e gritar: É o C.V!”
Em outro trecho o MC fala que a facção quer reconquistar territórios perdidos para outras organizações criminosas:
“Na CDD só tem bandido faixa preta. Tentaram vir pegar o homem e a bala voou. Nós é Comando Vermelhão de natureza. A meta é voltar pro Rodo e voltar pro Batô”.
Para a Polícia Civil do Rio essas letras extrapolam a liberdade de expressão. O secretário da Polícia Civil, delegado Felipe Curi, chegou a comentar sobre o caso, dizendo que o artista usa suas músicas como propagando do Comando Vermelho:
“Esse suposto MC que foi preso transformou a música num instrumento de dominação, de divulgação e de disseminação da ideologia e da narcocultura do Comando Vermelho”
O secretário de Justiça também disse que as autoridades identificam infiltração do tráfico de drogas no meio cultural:
“Isso não é de hoje. Há algum tempo a gente vem percebendo que o crime organizado atua no campo informacional. Eles têm cantores, MCs e influenciadores digitais a fim de criar uma falsa narrativa de que a ação deles é exemplo para a comunidade e uma necessidade social. E fomentam narrativas antipolícia”
A defesa do funkeiro afirma que as canções apenas refletem a realidade das favelas e que não existe comprovação de um vínculo direto entre as letras e a prática de crimes.
MC Poze do Rodo e o rapper Oruam são amigos e já participaram juntos de diversas produções musicais.
Oruam esteve presente na porta do presídio de Bangu para apoiar Poze no momento de sua soltura e comemorou ativamente, chegando a subir em um ônibus e dançar.
No entanto, a Justiça do Rio impôs uma medida cautelar à Pose que proibiu qualquer tipo de contato entre ele e Oruam.
A razão para essa restrição é o histórico familiar e as próprias investigações que cercam Oruam.
Ele é filho de Márcio dos Santos Nepomuceno, o Marcinho VP, apontado como uma das principais e mais antigas lideranças do Comando Vermelho, preso desde 1996.
O próprio Oruam também já foi investigado pela Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE) do Rio por suposta conexão com um chefe do CV que está foragido e por um incidente envolvendo disparo de arma de fogo em um condomínio em São Paulo.
Em 2024, Oruam foi preso em flagrante por favorecimento pessoal ao hospedar um foragido da justiça em sua casa, mas acabou liberado.
Quando MC Poze foi preso na última semana, Oruam usou suas redes sociais para defender o amigo.
"Ele é cantor, ele canta em baile de favela, mas não é envolvido com facção nenhuma, não."
Ele também criticou a ação policial, questionando a necessidade de algemar Poze e a forma como a prisão foi conduzida.
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