Quem é o Luciano Moreira?
O engenheiro-agrônomo e entomologista Luciano Andrade Moreira ganhou projeção internacional em 2025 ao ser incluído na lista Nature’s 10: seleção anual dos dez cientistas cuja atuação mais influenciou a ciência global naquele ano.
Moreira lidera no Brasil o projeto do World Mosquito Program (WMP), uma organização internacional da área da saúde que utiliza uma abordagem inovadora para combater doenças transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti: a dengue, zika e chikungunya.
Sua trajetória inclui mais de uma década de pesquisa dedicada à implementação de um método natural, escalável e sustentável de prevenção de doenças infecciosas transmitidas principalmente por mosquitos no Brasil e no mundo.
O que é o método e como atuam os “mosquitos do bem”
A ideia foi infectar populações de mosquitos Aedes com a bactéria Wolbachia e, então, liberá-los em ambientes urbanos.
A Wolbachia é uma bactéria intracelular que, uma vez dentro desses mosquitos, gera um inibidor natural da transmissão de doenças como a dengue.
Ao se reproduzirem, transmitem a bactéria para suas crias, que assim terão uma probabilidade muito menor de acumular e transmitir vírus como dengue, zika e chikungunya.
A hipótese é de que a bactéria “competiria” com o vírus no interior do mosquito ou estimularia a produção de proteínas antivirais.
Desde 2014, o método tem sido testado em diversos países, inclusive no Brasil. Hoje existe uma biofábrica sob coordenação de Moreira, em Curitiba, que produz milhões de ovos de mosquitos com Wolbachia semanalmente, visando abastecer operações em larga escala de controle das doenças transmissíveis.
Redução de 70% dos casos de dengue
As experiências com o método no Brasil e no exterior já indicam reduções expressivas no número de infecções nas áreas cobertas:
Após implementar o programa, a cidade de Niterói conseguiu reduzir os casos de dengue em cerca de 70%.
Além disso, há casos em locais com liberação consistente dos mosquitos infectados que, cerca de oito anos depois, mais de 90% deles continuam portando o “antiviral”. Isso torna o efeito de proteção duradouro e autossustentável.
Impacto econômico e resultados de longo prazo
Em termos de saúde pública, isso representa não apenas menos casos de doenças, mas também uma significativa economia em tratamento de hospitalização e medidas de contenção.
No lugar de reagir às doenças, o que chama a atenção na estratégia é sua característica preventiva e de longo prazo.
Para pesquisadores ligados ao WMP, o sucesso da abordagem pode reconfigurar como o mundo lida com arboviroses (doenças causadas por vírus transmitidos por artrópodes: geralmente mosquitos e outros insetos):
Deixando de depender apenas de vacinas ou medidas de contenção tradicionais, e adotando um método ambiental, preventivo e de baixo custo relativo.
Moreira, além de cientista, atuou convencendo governantes, gestores de saúde e populações locais da viabilidade do método e mobilizando apoio para sua implementação em larga escala.