Máfias como a italiana ‘Ndrangheta exploram redes sociais para recrutar, criptomoedas para lavar dinheiro e inteligência artificial para impulsionar o tráfico de drogas em aliança com o PCC.
A informação é de Michele Carbone, comandante da Direção Investigativa Antimáfia (DIA), da Guardia di Finanza, a polícia italiana. Todos os anos, a agência é responsável por confiscar milhares de bens de organizações criminosas anualmente.
Idealizada pelo juiz Giovanni Falcone, assassinado pela máfia em 1992, o departamento enfrenta um crime organizado em evolução, principalmente após a ‘Ndrangheta ter superado a Cosa Nostra.
Operações como a Eureka, Mafiusi e Narcobroker revelam laços entre ‘Ndrangheta e a paulistana Primeiro Comando da Capital (PCC).
Em entrevista concedida ao jornalista Marcelo Godoy, do Estadão, durante o fórum Cybercrime: a cooperação entre Itália e Brasil, Carbone explicou alguns pontos fundamentais sobre o tráfico de drogas internacional:
Falou também sobre a cooperação entre a DIA e a Polícia Federal brasileira.
A Brasil Paralelo organizou uma investigação profunda e corajosa que revela histórias reais de moradores, policiais do BOPE, ex-criminosos e especialistas que vivem e estudam essa realidade.
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Carbone falou que os centros de offshore dificultam a cooperação internacional para identificar as rotas do tráfico:
“Ainda hoje temos que observar muitos Estados e países que, no terreno da cooperação internacional, não desenvolvem uma atividade colaborativa. São os chamados centros offshore que ainda estão presentes, por exemplo, em Samoa, Trinidad e Tobago, Fiji, Vanuatu, Rússia e Panamá. Esses países, por meio de suas atividades, justamente, por meio da não cooperação, muitas vezes permitem que o crime organizado esconda seus lucros em suas fronteiras.”
O Follow the money continua eficiente para identificar o trajeto do crime organizado
Afirmou também que o método follow the money (seguir dinheiro) foi recentemente indicado pelas ONU como um marco ainda válido no combate ao crime organizado:
“[...] seguir o dinheiro, localizar o rastro do dinheiro, é um caminho que se vê interrompido quando estamos na presença, justamente, desses países-paraísos fiscais, de centros offshore, que não respondem às cartas rogatórias internacionais do Judiciário e das forças policiais. Nesse momento, somos obrigados a parar porque não podemos seguir o dinheiro nesses Estados.”
Giovanni afirma que as criptomoedas representam um obstáculo à luta contra o crime organizado, pois dificultam o rastreamento do dinheiro:
“As criptomoedas são uma oportunidade que o crime organizado está aproveitando.”
Ele enfatiza ainda que essas moedas digitais passam por canais informais, não regulamentados pelos Estados.
“Por meio de plataformas de blockchain, por meio da mistura dessas criptomoedas, o combate contra a criminalidade em geral está se tornando cada vez mais complexo.”
Outro ponto que Giovanni explica é que a desregulamentação bancária facilita a lavagem de dinheiro:
“A chamada desmaterialização do sistema financeiro, as chamadas finanças descentralizadas, tudo o que diz respeito à desintermediação nos sistemas de transferência de dinheiro e de divisas traz uma série de oportunidades, de facilidades para o crime organizado.”
Redes sociais são utilizadas para atrair jovens para trabalhar para o tráfico
A inteligência artificial (IA) tem se tornado uma ferramenta cada vez mais utilizada pelas máfias, que a exploram para facilitar suas operações. Giovanni destaca que, devido à sua capacidade financeira, essas organizações já incorporaram a IA em seus “setores de inteligência”, permitindo-lhes monitorar portos e acessar dados sensíveis.
Além disso, as redes sociais, como o TikTok, são empregadas para atrair jovens, com as máfias recrutando adeptos em idades cada vez mais precoces, oferecendo promessas de ganhos fáceis:
“Na Itália, por meio da tecnologia, por meio das redes sociais, do TikTok, as máfias recrutam os seus adeptos sempre mais jovens, talvez, atraindo esses jovens com promessas de ganho fácil. Naturalmente, isso requer não apenas medidas de repressão, de polícia, mas também intervenções de tipo cultural para fazer entender que as máfias não combatem o mal na sociedade, mas são parte dele.”
O principal ponto da entrevista foi a confirmação da parceria entre o PCC e a ‘Ndrangheta no tráfico de drogas:
“Entre os tráficos ilegais das máfias, certamente o narcotráfico é o principal. É o crime que proporciona mais dinheiro à máfia. E, atualmente, a droga chega sobretudo do Centro-Sul da América, o que faz com que os brokers da ‘Ndrangheta e de outras organizações presentes na Itália, como as albanesas, mantenham contatos diretos com os cartéis sul-americanos ou da América Central, incluindo, sobretudo, a ‘Ndrangheta, com o Primeiro Comando do Capital.”
Essa colaboração fortalece as atividades criminosas na Europa.
Carbone destacou a importância da Direção Investigativa Antimáfia (DIA), criada pelo juiz Giovanni Falcone, que, em seus 34 anos de existência, foi criada para enfrentar organizações mafiosas tanto na Itália quanto em colaboração com autoridades internacionais.
Ele mencionou a rede @ON, que conecta a DIA a autoridades brasileiras, reforçando a importância da cooperação global. Em relação à integração das forças policiais, Carbone elogiou a colaboração entre os carabineiros, a Guardia di Finanza e a Polícia de Estado, apresentando a DIA como um modelo de sucesso.
Ao comparar o combate ao crime organizado com as estratégias de antiterrorismo, ele ressaltou que as medidas para prevenir e reprimir a lavagem de dinheiro ilícito são igualmente eficazes contra o financiamento de organizações terroristas.
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