O México foi às urnas no último domingo para escolher todos os juízes federais, incluindo os nove ministros da Suprema Corte através do voto popular.
Foi a primeira vez na história que um país escolheu seus magistrados a partir de uma consulta popular.
A medida veio após uma polêmica reforma constitucional apoiada pelo ex-presidente Andrés Manuel López Obrador e sua sucessora, Claudia Sheinbaum. Ambos do partido de esquerda MORENO.
Os defensores da medida alegam que a mudança é uma forma de "democratizar" a Justiça e combater a corrupção.
No entanto, a eleição foi marcada por uma baixa participação popular, apenas cerca de 13% dos eleitores compareceram.
Os mexicanos foram chamados a eleger 881 juízes federais e cerca de 1.800 juízes em nível estadual.
Entre os cargos federais estavam os 9 ministros da Suprema Corte, além de magistrados para o Tribunal Eleitoral e para o recém-criado Tribunal Disciplinar, que fiscaliza a conduta dos juízes.
Outros 4.000 postos deverão ser preenchidos em uma nova eleição que está prevista para acontecer em 2027.
Os candidatos foram indicados por comissões dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, com paridade de gênero. Partidos políticos não podiam apoiar candidatos oficialmente.
Os candidatos tiveram que pagar suas próprias contas, já que não podiam receber financiamento público ou privado para as campanhas.
Por isso, os juízes buscaram as redes sociais e debates. Alguns candidatos usaram abordagens populares e até teatrais sobre temas importantes para se promover.
Para concorrer era preciso ter:
No caso da Suprema Corte, a indicação presidencial e a aprovação do Senado deixou de existir.
Os eleitos terão mandatos fixos de 12 anos para a Suprema Corte e 9 para os demais. Todos terão direito a uma reeleição.
O partido Morena defende que a eleição direta de juízes é a solução para combater a corrupção, o nepotismo e os privilégios de uma "casta judicial".
Segundo os membros da sigla, o modelo anterior servia a elites econômicas e políticas, além de favorecer o crime organizado, com uma alta taxa de impunidade.
"Não devemos esquecer que o poder judiciário que alguns defendem tem sido responsável por favorecer membros do crime organizado e liberado milhares de presos de colarinho branco" afirmou Sheinbaum.
Apesar do discurso governista, a eleição de juízes no México é vista com preocupação por diversos analistas.
Oliver Stuenkel, professor de Relações Internacionais, fez uma análise da reforma:
"Embora a proposta soe democrática, ela foi desenhada para consolidar o poder do partido governista Morena e enfraquecer os freios e contrapesos essenciais a qualquer democracia."
Ele apontou que a eleição de todos os juízes da Suprema Corte e a indicação de candidatos por instituições controladas pelo Morena podem excluir a oposição da disputa.
Stuenkel também criticou o processo eleitoral, afirmando podem favorecer os juízes simpatizantes do partido:
"As eleições terão dezenas de candidatos por vaga e acontecerão em massa dificultando as escolhas informadas por parte dos eleitores. E como o orçamento da autoridade eleitoral foi reduzido pelo próprio governo, cresce o risco de um processo mal organizado e vulnerável a manipulações por políticos empresários ou até organizações criminosas”
Ele também alertou para os riscos de um tribunal disciplinar, que poderá punir juízes com visões diferentes das do governo:
“A reforma também cria um tribunal disciplinar com amplos poderes para punir juízes que contrariem a linha do governo. Uma estratégia semelhante a usada por líderes como Bukele, Ortega e Evo Morales que instrumentalizaram o judiciário para eliminar limites ao próprio poder."
Outros especialistas corroboram essa visão. O professor de direito no México, Julio Ríos-Figueroa, criticou a medida em entrevista para o portal Jota.
“A reforma é ruim, foi malfeita e feita muito rápido...A única coisa que posso dizer com certeza é que os juízes que chegarem serão juízes que contam com a aprovação do partido que tem o controle do poder legislativo e executivo”. Comentou.
Para ele, o Judiciário precisa de conhecimento técnico, e não de ser submetido à lógica eleitoral dos políticos:
“É preciso profissionalização, conhecimento específico das leis, maior duração em seus cargos, ter um horizonte de tempo maior do que os políticos eleitos... É necessário ter cuidado com as origens distintas dos Três poderes do Estado para que cada uma possa cumprir seus diferentes papéis”.
A relatora especial da ONU para a independência de juízes e advogados, Margaret Satterthwaite, também alertou para os riscos de uma eleição direta.
Uma das maiores preocupações é que as eleições favoreçam a infiltração do narcotráfico no Poder Judiciário.
“Enquanto a corrupção judicial já existe, há motivos para acreditar que as eleições podem ser mais facilmente infiltradas pelo crime organizado do que outros métodos de seleção judicial”
O México vive uma crise de violência endêmica, com cartéis de drogas concentrando muito poder no país.
A ONG Defensorxs identificou cerca de 20 candidatos "arriscados" com supostas ligações com o crime organizado.
Entre eles estavam alguns ex-advogados de narcotraficantes notórios como Joaquín "Chapo" Guzmán.
A eleição, que ocorreu em um períodos violentos. Ano passado, 37 candidatos foram assassinados por causa das eleições gerais.
As votações de 2024 chegaram a ser suspensas em ao menos dois municípios devido à violência.
Como um veículo independente, não aceitamos dinheiro público. O que financia nossa estrutura são as assinaturas de cada pessoa que acredita em nossa causa.
Quanto mais pessoas tivermos conosco nesta missão, mais longe iremos. Por isso, agradecemos o apoio de todos.
Seja também um membro da Brasil Paralelo e nos ajude a expandir nosso jornalismo.
A Brasil Paralelo traz as principais notícias do dia para todos os inscritos na newsletter Resumo BP.
Tenha acesso às principais notícias de maneira precisa, com:
O resumo BP é uma newsletter gratuita.
Quanto melhor a informação, mais clareza para decidir.
Cupom aplicado 37% OFF
Cupom aplicado 62% OFF
MAIOR DESCONTO
Cupom aplicado 54% OFF
Assine e tenha 12 meses de acesso a todo o catálogo e aos próximos lançamentos da BP