Desmoralização
A primeira fase do plano de destruição da sociedade é chamada por Bezmenov de desmoralização.
O processo dura um período que vai de 15 a 20 anos aproximadamente, o suficiente para educar uma geração de crianças.
O objetivo dessa etapa é influenciar as várias áreas nas quais a opinião pública e o imaginário coletivo são formados, para mudar o entendimento que o povo atingido tem da própria realidade.
O dissidente destaca que a desmoralização é uma via de mão dupla, uma vez que só é possível subverter países abertos à entrada e propagação de discursos e ideologias contrários aos seus valores fundamentais.
Isso significa que a maior parte desses processos seria feito por movimentos de cidadãos do próprio país, que têm crenças e práticas opostas à sociedade vigente.
Agentes estrangeiros, porém, teriam o papel de alimentar esses movimentos internos com propagandas, capacitação e outras formas.
Bezmenov afirma que muitas figuras-chave dentro desses grupos eram levadas à URSS e países alinhados para serem ensinados sobre como se infiltrar em organizações como a grande mídia, órgãos públicos não eleitos e movimentos sociais.
Com isso, seria possível iniciar um processo de dissolução das bases de uma estrutura social sem que os responsáveis fossem percebidos ou impedidos.
O ataque à religião é mencionado como uma atividade fundamental para o decorrer do processo, uma vez que mina pilares sociais e culturais, além de reduzir o ímpeto de resistência da sociedade que sofre com a subversão.
Com o objetivo de descredibilizar as igrejas e afastar as pessoas da fé, o propagandista afirma que a KGB fomentava o avanço de organizações "falsas", que fariam a ideia de buscar por espiritualidade soar como "ridícula".
A educação também é apontada como um dos alvos prioritários para que uma sociedade seja desmoralizada.
Bezmenov explica que a agenda da inteligência soviética mandava impedir as pessoas de aprenderem coisas construtivas, pragmáticas e eficientes para dar lugar a outras atividades:
"Distraia-os de aprender algo que seja construtivo, pragmático e eficiente. Em vez de matemática, física, línguas estrangeiras e química, ensine-lhes história da guerra urbana, alimentação natural, economia doméstica, sua sexualidade, qualquer coisa, desde que os afaste do essencial".
Um dos objetivos dessa fase seria reduzir a responsabilidade individual e a iniciativa. Para isso, é importante tornar as pessoas dependentes de burocracias e trazer seu convívio social para ambientes como associações de trabalho ou coletivos políticos.
Os infiltrados iniciam um processo de relativização moral, enaltecendo pessoas que lutam contra o que seria certo e criticando aqueles que seguem os padrões sociais.
Um dos exemplos em que isso acontece, segundo o soviético, é com as forças de segurança, que são retratadas como corruptas e violentas, ao passo que criminosos e usuários de drogas são apresentados como bons ou vítimas da sociedade.
As relações entre funcionários e empregadores também são tensionadas para que os sindicatos e órgãos controlados pelos infiltrados ganhem mais poder.
"Eles alcançaram o salário? Não, eles perderam. Quem se beneficiou? Os líderes sindicais. Qual é a motivação para a greve? Melhorar as condições dos trabalhadores? Não, obviamente não é. Então, o que é? Ideologia, para provar a esses capitalistas. E a horda obediente de trabalhadores, como ovelhas, segue essas pessoas e não pode desobedecer. Por quê? Porque se o fizerem, você sabe o que acontece com eles: ameaças, assassinatos, tiros em caminhoneiros."
Isso também fortalece o poder da narrativa marxista clássica, de que a luta de classes levaria os trabalhadores a conseguir melhores condições graças à guerra revolucionária.
Com isso, a sociedade perde sua unidade e os valores fundamentais, se tornando mais suscetível a conflitos internos e aceitando melhor o uso da violência para atingir fins propagados como justos.
Desestabilização
Essa etapa se baseia em criar tensões em todas as relações humanas, de modo que até discussões banais levem a debates extremamente polarizados e radicais.
Nessa fase, a vida em sociedade é levada a um alto nível de agressividade, em que as pessoas acabam por se tornarem incapazes de chegar a consensos.
"Exatamente, é como essa radicalização das relações humanas, não há mais compromisso, apenas luta, luta, luta. As relações tradicionalmente aceitas são desestabilizadas. As relações entre professores e alunos nas escolas e faculdades se tornam conflituosas. No âmbito econômico, as relações entre trabalhadores e empregadores são ainda mais radicalizadas, não há mais aceitação da legitimidade das demandas dos trabalhadores."
A mídia exerce o papel de retratar essas relações conflituosas dentro da narrativa de embate entre opressores e oprimidos, legitimando e normalizando até mesmo atos de violência.
"A sociedade como um todo se torna cada vez mais antagônica entre indivíduos, entre grupos de indivíduos e a sociedade em geral. A mídia se coloca em oposição à sociedade em geral, separada, alienada."
É durante esta fase que os infiltrados passam a radicalizar os movimentos em que estão inseridos, aumentando os choques sociais em intensidade e volume:
"Não importa o que seja, pretos contra brancos, amarelos contra verdes, não importa onde a linha divisória esteja, desde que esses grupos entrem em confronto antagônico, às vezes militantemente, às vezes com armas de fogo, esse é o processo de desestabilização."
Ao fim do processo de desestabilização, espera-se uma sociedade dividida, de modo que o ódio seja a regra entre grupos antagônicos.
A próxima etapa descrita pelo dissidente tem como objetivo elevar ainda mais as tensões e iniciar o caos social.
Crise
O processo de crise ocorre quando os órgãos de poder legítimos não conseguem mais comportar as tensões, o que leva a sociedade a recorrer às instituições paralelas dominadas pelos infiltrados.
Os grupos, cada vez mais fortalecidos, começam a lutar para conseguir cada vez mais poder, criando Estados paralelos.
Nesse cenário, a sociedade tornaria-se tão caótica que a população passaria a buscar por uma solução capaz de trazer estabilidade e melhores condições.
Os movimentos de esquerda apoiados pela KGB apareceriam como salvadores, conduzindo o país à guerra civil ou à ocupação estrangeira.
O processo de subversão ideológica parte para sua sua etapa final.
Normalização
O termo normalização foi criado pela propaganda soviética após o fim dos levantes populares na Tchecoslováquia, que ficaram conhecidos como Primavera de Praga de 1968.
Na ocasião, o Kremlin enviou batalhões de blindados para esmagar os revoltosos e por fim aos protestos, “normalizando” a situação.
Bezmenov explica que a ideia dessa etapa seria estabilizar o país por meio da força, uma vez que os líderes revolucionários já teriam alcançado o poder e agora precisam acabar com a revolução.
Nessa fase, os artistas, militantes e outros que haviam sido úteis no decorrer do processo são mortos ou mandados para o ostracismo, para não causarem problemas para a nova classe dominante:
"Isso é o inverso da desestabilização, basicamente é a estabilização do país pela força. Então, todos esses infiltrados, ativistas, assistentes sociais, liberais, homossexuais, professores, marxistas e líderes estão sendo eliminados,às vezes fisicamente. Eles já fizeram seu trabalho, ok, eles não são mais necessários. Os novos governantes precisam de estabilidade para explorar a nação, para explorar o país, para tirar vantagem da vitória."
A ditadura socialista seria imposta ao fim desse processo, de modo que dificilmente o país conseguiria voltar a ser uma sociedade livre sem uma intervenção estrangeira.
Bezmenov conclui mencionando que a cada etapa o processo de restauração da sociedade é mais difícil, reafirmando a necessidade de interromper a ação ainda no período de desmoralização.