A crise humanitária em Gaza atingiu novos patamares em agosto de 2025. Segundo o Ministério da Saúde do território, controlado pelo Hamas, sete adultos morreram de causas ligadas à desnutrição em apenas 24 horas.
Esses números são parte de um cenário mais amplo. Segundo o principal monitor global da fome, apoiado pela ONU, diversas áreas da Faixa de Gaza se encontram em estado de fome.
A Classificação Integrada de Fases de Segurança Alimentar (IPC), publicado em 22 de agosto, revelou que 470 mil pessoas já enfrentam fome generalizada, enquanto 2,1 milhões vivem sob insegurança alimentar extrema, praticamente toda a população do território.
O Ministério da Saúde de Gaza afirma que 63.371 palestinos morreram desde o início da guerra. Segundo o órgão, cerca de metade das vítimas eram mulheres e crianças.
O hospital Al Quds, na Cidade de Gaza, e instalações de campanha em Rafah relatam lotação máxima com pacientes desnutridos e feridos.
De acordo com a Cruz Vermelha, só em maio e junho, após a abertura de novos locais de distribuição de ajuda, foram tratados 3.400 pacientes feridos por armas em seu hospital de campanha. Esse número já supera o total registrado em todo o ano de 2024.
Para Naziha El Moussaoui, consultora da Cruz Vermelha Britânica, a fome é apenas uma das faces de algo maior.
“Esta não é apenas uma crise para hoje, é uma crise para as gerações futuras”.
Ela afirma que a desnutrição grave enfraquece o sistema imunológico e pode deixar sequelas irreversíveis em crianças.
O governo israelense rejeitou as conclusões do levantamento. O gabinete do primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, declarou que “Israel não tem uma política de fome, mas de prevenção à fome”.
Oren Marmorstein, porta-voz do ministério de Relações Exteriores do país, afirmou que o relatório foi “feito sob medida” com base em informações do Hamas e de organizações com interesses próprios. Também negou a existência de fome em Gaza.
Segundo dados divulgados por Israel, 1,9 milhão de toneladas de alimentos foram enviadas ao território desde o início da guerra. Além disso, centenas de caminhões de suprimentos aguardam na passagem de Kerem Shalom.
A Coordenação de Atividades Governamentais nos Territórios (Cogat), órgão militar que administra as travessias, criticou o IPC por confiar em entidades ligadas ao Hamas sem considerar os dados apresentados por Jerusalém.
Richard Goldberg, consultor sênior da Fundação para a Defesa das Democracias (FDD) e ex-funcionário da Casa Branca, também questionou o relatório.
“A ideologia de destruir Israel e salvar o Hamas é disseminada na ONU e em ONGs de extrema esquerda, levando-as a mudar suas próprias diretrizes para declarar fome em Gaza, enquanto ignoram a fome real no Sudão. Os dados não sustentam uma declaração de fome em Gaza, mas isso não importa quando a conclusão é politicamente predeterminada”.
Durante sessão do Conselho de Segurança da ONU, a embaixadora americana interina, Dorothy Shea, afirmou que é “falso dizer que Israel aplica uma política de fome” na Faixa de Gaza.
Segundo ela, desde o início da guerra Israel “permitiu a entrada sem precedentes de mais de dois milhões de toneladas” de alimentos.
Shea também declarou que os Estados Unidos trabalham “em estreita colaboração com o governo de Israel para aumentar o volume de ajuda sem beneficiar o Hamas”.
A diplomata reconheceu que existe “um problema real de fome em Gaza”, mas contesta os critérios usados pela ONU para declarar o estado de fome, afirmando que eles “não passam no teste”.
O relatório da IPC afirma que Israel promove uma “obstrução sistemática” da entrada de alimentos na Faixa de Gaza.
Israel voltou a liberar parte dos caminhões em maio, mas os preços dispararam em julho, o quilo da farinha chegou a US$85 (cerca de R$460). Moradores relatam que buscar comida significa enfrentar longas distâncias e risco de ataques.
Famílias em Gaza relatam que buscar alimentos se tornou “uma escolha entre a fome e a morte”, já que a caminhada até os pontos de distribuição envolve risco constante de ataques.
A IPC, apoiada pela ONU, disse que Israel tem feito “obstrução sistemática” à entrada de alimentos desde o bloqueio total iniciado em março de 2025.
Israel voltou a liberar parte dos caminhões em maio, mas os preços dispararam em julho, o quilo da farinha chegou a US$85 (cerca de R$460). Moradores relatam que buscar comida significa enfrentar longas distâncias e risco de ataques.
Em julho, Benjamin Netanyahu afirmou que não havia fome em Gaza, já que Israel permitiu a entrada de ajuda durante a guerra.
"Permitimos a entrada da quantidade exigida pelo direito internacional. Há centenas e centenas de caminhões carregados com toneladas. Até agora, fornecemos 1,9 milhão de toneladas de alimentos desde o início da guerra, quase 2 milhões de toneladas. E agora temos centenas de caminhões esperando no lado de Gaza da passagem de Kerem Shalom"
Em resposta, Trump afirmou que há pessoas passando fome em Gaza e sinalizou a intenção de criar bases de alimentação no território.
"Não sei. Quer dizer, pelo que vejo na televisão, diria que não exatamente, porque aquelas crianças parecem muito famintas. Mas estamos enviando muito dinheiro e comida, e outras nações também começaram a ajudar. (...) Quero que Israel garanta que a comida chegue às pessoas.”
O secretário-geral da ONU, António Guterres, afirmou que Israel tem “obrigações inequívocas sob o direito internacional, incluindo o dever de garantir o fornecimento de alimentos e suprimentos médicos”.
O chefe de Direitos Humanos da ONU, Volker Türk, afirmou que a fome causada é um crime de guerra
“É crime de guerra usar a fome como método de guerra. As mortes resultantes também podem equivaler a homicídio doloso”.
Enquanto a fome avança, Israel anunciou planos de ocupar totalmente a Cidade de Gaza. A ofensiva envolveria o deslocamento forçado de cerca de um milhão de palestinos.
Organizações como Unicef, Programa Mundial de Alimentos e Organização Mundial da Saúde alertaram que a operação teria “consequências devastadoras para civis”.
Após 22 meses de guerra, grande parte da infraestrutura de Gaza foi destruída e milhões de pessoas enfrentam dificuldades para sobreviver.
A distribuição de alimentos continua limitada e, em muitas regiões, buscar comida significa percorrer longas distâncias sob risco de ataques.
O futuro da crise é incerto e ainda não há caminhos claros de melhoria.
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