Nas vésperas de abandonar o Salão Oval da Casa Branca, o presidente Joe Biden detonou uma bomba política: concedeu um perdão presidencial amplo e irrestrito a seu filho mais velho, Hunter.
A manobra foi anunciada em 1º de dezembro de 2024, semanas antes da posse de Donald Trump, provocando uma enxurrada de críticas. De um lado, republicanos gritavam "abuso de poder"; de outro, aliados democratas franziam a testa em desconforto.
Em sua defesa, Joe Biden afirmou que tentava corrigir uma injustiça:
"Desde o dia em que assumi o cargo, disse que não interferiria nas decisões do Departamento de Justiça e mantive minha palavra, mesmo tendo visto meu filho ser processado de forma seletiva e injusta", afirmou Biden.
"Houve um esforço para quebrar Hunter — que está sóbrio há cinco anos e meio, mesmo diante de ataques implacáveis e processos seletivos. Ao tentar quebrar Hunter, tentaram me quebrar — e não há razão para acreditar que isso vai parar por aqui. Já chega", afirmou na ocasião.
O que ele chamou de ataques implacáveis se iniciou em outubro de 2020, quando o jornal New York Post publicou uma reportagem bombástica que embasava acusações de tráfico de influência por Hunter Biden. Além disso, indiretamente, acusava Joe Biden, então candidato à presidência, de corrupção. Na ocasião, faltava menos de um mês para a eleição presidencial norte-americana.
A base da denúncia era uma série de e-mails obtidos a partir de um laptop que pertencia a Hunter. A máquina havia sido deixada em uma loja de conserto de computadores em Delaware, em abril de 2019, por um homem que se identificou como Hunter Biden, mas nunca retornou para buscá-lo.
O proprietário da loja, John Paul Mac Isaac, afirmou ter feito uma cópia do disco rígido do equipamento. Segundo ele, ao se deparar com conteúdos "chocantes" e "embaraçosos", decidiu entrar em contato com o FBI. A agência apreendeu o laptop e o disco rígido em dezembro de 2019, mediante a intimação de um grande júri.
A matéria do New York Post foi compartilhada por aliados de Donald Trump, incluindo o ex-prefeito de Nova York Rudy Giuliani. O destaque do conteúdo era um e-mail de 2015, no qual um conselheiro da empresa ucraniana Burisma agradecia a Hunter pela "oportunidade de conhecer" Joe Biden. A menção desse encontro serviu para alimentar a narrativa de que Joe Biden teria favorecido a empresa onde seu filho trabalhava.
Na ocasião, a campanha de Biden negou veementemente a acusação, afirmando que não havia registro oficial de um encontro com o executivo da Burisma e que "essa reunião jamais ocorreu".
Logo, vários veículos de mídia começaram a duvidar das acusações, incluindo, funcionários do próprio New York Post. Eles estavam entre os que expressaram receios quanto à credibilidade e origem dos dados do laptop, enquanto outros inicialmente evitaram a história por não conseguirem checar os materiais de forma independente.
Reportagens posteriores detalharam que o laptop continha denúncias sérias contra a atuação de Hunter. Várias delas atingiram seu pai. Entre os destaques, constavam:
Um e-mail de abril de 2015, enviado por Vadym Pozharskyi, conselheiro da empresas Burisma, agradecia Hunter por apresentá-lo a seu pai e considerava o encontro "uma honra e um prazer".
Outro e-mail, de maio de 2014, mostrava Pozharsky pedindo a Hunter conselhos sobre como "usar sua influência" em favor da empresa. Essas mensagens alimentaram suspeitas de que Hunter facilitava o acesso de executivos estrangeiros ao pai, que, na época, atuava como vice-presidente de Barack Obama. No entanto, Joe Biden continua negando qualquer envolvimento com os negócios do filho, e nenhuma prova documental foi encontrada até hoje contra o ex-presidente.
Um e-mail, de 2017, tratava da divisão societária em um empreendimento, incluindo a linha "10% mantidos por H para o Big Guy", o que significava que Hunter receberia 10% para encaminhar a seu pai, o suposto “Big Guy”.
Tony Bobinski, ex-sócio de Hunter, chegou a confirmar a autenticidade do e-mail e declarou que "o Big Guy era Joe Biden", sugerindo que o ex-vice-presidente seria beneficiário oculto do negócio. Bobinski, que liderava a parceria chamada SinoHawk Holdings, afirmou que Hunter frequentemente buscava a aprovação do pai.
Segundo o Washington Post, a CEFC pagou cerca de US$4,8 milhões a entidades controladas por Hunter e seu tio entre 2017 e 2018. O jornal, porém, relatou que "não encontrou evidências de que Joe Biden tenha se beneficiado pessoalmente ou sequer soubesse dos detalhes dessas transações".
O presidente Biden negou que seu filho tenha cometido quaisquer condutas antiéticas. Em entrevista concedida ao The Washington Post, em agosto de 2023, afirmou:
“Nada foi antiético. … Meu filho não ganhou dinheiro com essa história de, do que você está falando, da China. Eu não tive… o único cara que ganhou dinheiro com a China é este aqui [Donald Trump]. Ele é o único. Ninguém mais ganhou dinheiro com a China.”
Entre 2015 e 2016, o então vice-presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, pressionou o governo da Ucrânia a demiti-lo, sob ameaça de reter um bilhão de dólares em ajuda americana.
A justificativa oficial era que Shokin era conivente com a corrupção. Segundo a gestão Biden, essa posição era compartilhada pela União Europeia, pelo Fundo Monetário Internacional e por outros aliados ocidentais.
A polêmica começou porque Hunter Biden, filho do vice-presidente, fazia parte da Burisma Holdings, investigada por corrupção. Para críticos de Joe Biden, havia um claro conflito de interesses, e sua pressão pela demissão de Shokin poderia ter servido para proteger o filho.
O jornalista John Solomon, então colunista do The Hill, foi um dos principais nomes a divulgar essa versão. Em entrevista em God Complex, da Brasil Paralelo, declarou:
“Acontece que esse procurador estava investigando o filho dele, Hunter, na Ucrânia. E essa história explodiu como uma bomba. Eu trabalhava no The Hill, um veículo de notícias considerado bastante respeitado e de linha relativamente tradicional. E, por dois meses, The New York Times e ABC News — é só conferir — confirmaram minha história, todos disseram que era verdadeira.”
Solomon sustentou que a demissão de Shokin interrompeu investigações sobre a Burisma e apontou que Biden teria atuado para proteger Hunter. No entanto, verificações das revistas BBC, Reuters e FactCheck.org contestam. Elas afirmam que não há provas de que Shokin estivesse conduzindo uma investigação ativa contra Hunter Biden.
A campanha de desinformação promovida por parte da mídia tradicional
A revelação do conteúdo do laptop rapidamente colocou republicanos e democratas em lados opostos. Poucas horas após a publicação do New York Post, plataformas como Twitter e Facebook intervieram para conter a disseminação da história.
O Twitter bloqueou os links para a matéria, citando violação de sua política contra material hackeado, e chegou a suspender a conta do jornal por semanas, até que os tweets fossem removidos. O Facebook também reduziu a distribuição do conteúdo, aguardando verificações independentes.
A postura de parte da imprensa e das redes sociais foi alimentada por temores de que o caso pudesse ser uma operação de desinformação estrangeira.
Em 19 de outubro de 2020, 51 ex-oficiais de inteligência dos EUA, incluindo ex-diretores da CIA e NSA, assinaram uma carta aberta afirmando que a história do laptop tinha "todos os sinais clássicos de uma operação de desinformação russa". Em God Complex, documentário da Brasil Paralelo que investiga a máquina de censura norte-americana, o jornalista John Solomon confirmou a informação. Na entrevista, ele afirmou que o ex-diretor interino da CIA, Mike Morrell organizou um dos maiores atos de interferência em uma eleição americana. Era Morell que chefiava a agência durante o crescimento dessa ideia de que o papel da inteligência é suprimir a “desinformação”.
“Ele articulou uma carta que falsamente classificava o laptop de Hunter Biden como “desinformação russa”, mesmo quando suas próprias agências já sabiam que era real, pois haviam validado e possuído o conteúdo havia um ano”.
Assista o trailler de God Complex aqui.
A campanha do democrata utilizou a carta para refutar as acusações. Durante o debate presidencial, Biden qualificou o caso como "um monte de lixo" disseminado por Trump e seus aliados, reforçando a tese de que se tratava de interferência russa, com base na posição dos ex-agentes.
Até hoje, nenhuma evidência de envolvimento russo foi encontrada. Meses depois, o então diretor de inteligência nacional, John Ratcliffe, afirmou que "não havia informações de inteligência indicando que se tratava de uma campanha russa", desmentindo diretamente os ex-oficiais.
O episódio reacendeu o debate sobre os limites entre combate à desinformação e censura. Críticos disseram que o bloqueio da reportagem nas redes sociais pode ter influenciado a opinião pública nas eleições.
Os Twitter Files revelaram uma série de documentos internos do Twitter que comprovaram o modo como a empresa atuou para restringir a circulação de notícias relacionadas à denúncia contra Hunter Biden. E-mails, mensagens no Slack e registros de decisões administrativas foram divulgados por Elon Musk, que assumiu o controle da empresa em dezembro de 2022, após ter assumido o controle da empresa. O material foi entregue a jornalistas independentes, que publicaram reportagens mostrando como a moderação de conteúdo era feita, especialmente em casos politicamente sensíveis.
Esses arquivos revelaram discussões internas sobre temas como a suspensão de contas, a moderação de postagens durante as eleições americanas e, em especial, a decisão de bloquear os links da reportagem do New York Post sobre o laptop de Hunter Biden. Após as revelações, o então CEO do Twitter, Jack Dorsey, reconheceu depois que essa medida foi um erro.
Nos anos seguintes, diversas apurações buscaram confirmar a autenticidade do conteúdo do laptop. Em março de 2022, o New York Times publicou uma reportagem sobre a investigação federal contra Hunter Biden e reconheceu ter obtido e-mails que vinham de um "lote de arquivos aparentemente originado de um laptop abandonado por Hunter Biden", reconhecendo indiretamente a origem do material .
De acordo com algumas fontes entrevistadas pelo jornal, vários e-mails de Hunter sobre a russa Burisma e outras negociações com empresas estrangeiras haviam sido verificados e tiveram sua legitimidade confirmada.
Na mesma época, o Washington Post contratou dois analistas forenses independentes para examinar uma cópia de 217 GB dos dados do laptop. Os especialistas verificaram a assinatura criptografada do gmail, que não podem ser falsificadas sem corromper os metadados. Isso possibilitou a confirmação de autenticidade de aproximadamente 22 mil e-mails enviados e recebidos entre 2009 e 2019. Todos eles tinham marcas digitais verificáveis e poderiam ser atribuídos às contas reais de Hunter Biden.
Embora não tenha sido possível verificar todos os 129 mil arquivos — alguns estavam corrompidos, incompletos ou haviam sido alterados por terceiros ao longo dos anos —, não foram encontradas evidências de falsificação ou manipulação intencional dos dados originais.
O e-mail de Pozharskyi de 2015 agradecendo pelo encontro foi validado como autêntico pelos peritos consultados pela revista Newsweek . Atualmente, existe consenso nas grandes mídias de que o laptop realmente pertenceu a Hunter Biden e que grande parte de seu conteúdo é genuína – descartando a hipótese de "fake news" levantada inicialmente.
Oficialmente, o FBI concluiu que o dispositivo era de fato de Hunter Biden e não apresentava sinais de adulteração. A Receita Federal e o Departamento de Justiça têm usado dados do laptop em investigações sobre possíveis crimes fiscais e de lobby. Em junho de 2024, promotores federais apresentaram o laptop como evidência em um processo criminal contra Hunter Biden, confirmando sua relevância.
Impacto político e desdobramentos
Apelidado por críticos de “Laptop from Hell” (laptop do inferno), o caso teve repercussões políticas profundas. Em 2020, a campanha de Donald Trump organizou um evento chamado “October surprise”, no qual rememorou o laptop de Hunter.
Embora seja difícil medir o impacto eleitoral exato, apoiadores de Trump acreditam que a censura das matérias pelas redes sociais — reveladas nos Twitter Files — e a carta dos ex-oficiais influenciaram o resultado da eleição.
Segundo o ativista Tom Fitton, a história comprovou a censura eleitoral
“Bem, a história do laptop de Hunter e a supressão disso foram uma interferência eleitoral descarada, uma manipulação das eleições por parte de agências governamentais e de seus lacaios nas redes sociais”, afirmou em God Complex.
O caso também influenciou mudanças nas plataformas digitais. Quando Elon Musk adquiriu o Twitter em 2022 e divulgou os Twitter Files, revelou restrições intencionais à matéria do The New York Post que denunciava Hunter. Musk apresentou o episódio como exemplo do viés político da antiga gestão e garantiu que isso não se repetiria sob seu comando.
Hunter Biden tornou-se alvo de investigações por supostas irregularidades fiscais e possíveis violações da Lei de Registro de Agentes Estrangeiros (FARA). Posteriormente, foi formalmente indiciado por crimes tributários e por posse ilegal de arma de fogo, infrações relacionadas ao período em que enfrentava dependência química.
Até o momento, nenhuma acusação criminal diretamente relacionada aos negócios revelados pelo laptop foi feita contra ele ou seu pai.
Já como presidente, Joe Biden enfrentou desgaste político. O Partido Republicano promoveu audiências no Congresso sobre as negociações internacionais da família Biden, usando os dados do laptop como base. Em 2023, a Câmara dos Deputados abriu uma investigação de impeachment contra o presidente. Segundo o New York Times, após meses de apuração, “não foi apresentado nenhum indício de irregularidade por parte de Mr. Biden”.
Um relatório do Senado norte-americano, divulgado em setembro de 2020 por comissões controladas pelos republicanos, também concluiu que não havia provas de que Joe Biden tenha atuado de forma indevida no caso da Ucrânia.
O Washington Post destacou que, mesmo após ampla investigação sobre a parceria de Hunter com a CEFC, a companhia chinesa de energia, não foi encontrada nenhuma prova de que Joe Biden tenha se beneficiado de nenhuma movimentação.
O escândalo do laptop revelou detalhes comprometedores sobre a vida pessoal e os negócios de Hunter, levantando suspeitas de tráfico de influência. Antes tratado como “desinformação russa”, o caso mostrou-se autêntico com o avanço das investigações. Hoje se sabe que Hunter lucrou milhões em contratos internacionais associados ao peso do sobrenome Biden, embora não haja provas de que Joe Biden tenha violado leis ou favorecido o filho em decisões de governo.
O episódio alimentou narrativas políticas de corrupção usadas por opositores e intensificou a desconfiança nas plataformas digitais e na grande mídia.
O New York Times e o Washington Post, por reconhecerem a autenticidade do material apenas tardiamente, foram criticados por não darem à história a devida atenção em 2020. Já a Fox News continua tratando o caso como parte de uma suposta “trama” da família Biden.
Apesar de ter se declarado culpado, Hunter foi perdoado pelo pai
Hunter Biden foi condenado em junho de 2024 por três crimes federais relacionados à compra e posse ilegal de arma de fogo. Segundo a acusação, em 2018 Hunter mentiu em um formulário federal ao declarar que não usava drogas ilícitas, embora estivesse sob dependência na época. A Justiça considerou que, ao omitir essa informação, cometeu fraude na aquisição e posse da arma — tornando-se o primeiro filho de um presidente em exercício condenado criminalmente na história dos EUA.
Além disso, em 5 de setembro de 2024, Hunter se declarou culpado de nove acusações de evasão fiscal na Califórnia. Aos 54 anos, admitiu não ter pago cerca de US$ 1,4 milhão (R$ 7,8 milhões) em impostos ao longo de quase uma década, enquanto mantinha um estilo de vida de luxo marcado pelo uso de drogas e envolvimento com profissionais do sexo.
Após o perdão do pai, Hunter ficou livre de cumprir pena ou pagar multas, e novas ações judiciais foram impedidas, encerrando todos os processos criminais em andamento.
O perdão de Joe Biden encerra o drama judicial do filho, mas abre um novo capítulo de questionamentos sobre o peso da lealdade familiar na arena política americana.
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