Desde o início do Conclave na tarde de ontem (7), os olhos do mundo se voltaram para a Capela Sistina, lá os 133 cardeais se reúnem para eleger o novo papa.
Além de ser a capela papal, o local é considerado um dos maiores tesouros artísticos da humanidade, coberto por afrescos de mestres renascentistas.
Nomes como Botticelli e Perugino deixaram sua marca nas paredes laterais, mas foi Michelangelo quem realizou os trabalhos mais icônicos.
São as pinturas de Michelangelo Buonarrotti, que revestem o teto e a parede do altar. Nelas, o artista escondeu segredos e mensagens que vão além da narrativa bíblica em sua obra.
A capela foi construída entre 1473 e 1481 a mando do Papa Sisto IV, daí o nome “Sistina”. O local impressiona por suas dimensões e pela arte que a adorna.
Entre 1508 e 1512, Michelangelo pintou os 460 metros quadrados do teto com cenas do Livro do Gênesis, incluindo a famosa Criação de Adão.
Anos depois, entre 1536 e 1541, ele retornou para pintar o Juízo Final na parede do altar.
O artista não queria participar do trabalho e tentou recusar o pedido do papa Júlio II diversas vezes.
O artista se considerava escultor e não pintor, chegando a chamado o trabalho de tortura em um poema:
“Já ganhei bócio por causa dessa tortura,
curvado aqui como um gato na Lombardia
(ou em qualquer outro lugar onde a água estagnada seja venenosa).
Meu estômago está esmagado sob meu queixo, minha barba
aponta para o céu, meu cérebro está esmagado em um caixão,
meu peito se contorce como o de uma harpia. Meu pincel,
acima de mim o tempo todo, pinga tinta,
então meu rosto vira um belo chão para excrementos!
Minhas ancas estão esmagando minhas entranhas,
minha pobre bunda se esforça para funcionar como contrapeso,
cada gesto que faço é cego e sem objetivo.
Minha pele fica solta abaixo de mim, minha coluna está
toda emaranhada por se dobrar sobre si mesma.
Estou tenso como um arco sírio.
Porque estou preso assim, meus pensamentos
são uma bobagem maluca e pérfida:
qualquer um atira mal com uma zarabatana torta.
Minha pintura está morta.
Defenda isso para mim, Giovanni, proteja minha honra.
Não estou no lugar certo – não sou pintor.”
Apesar de não gostar do trabalho, o resultado foi uma revolução na arte do afresco, com figuras tridimensionais e cheias de força.
Isso foi possível porque Michelangelo aplicou às pinturas seus conhecimentos de escultura.
A imagem de Deus quase tocando o dedo de Adão em A Criação de Adão é a gravura mais icônica da capela.
Deus é retratado de forma original por Michelangelo: musculoso, com roupas justas e envolto em um manto.
A figura aparece cercada de anjos e envolta em uma espécie de pano. Na década de 1990, o médico e apreciador de arte, Dr. Frank Lynn Meshberger, defendeu que a imagem se assemelha a um cérebro humano.
Algumas interpretações afirmam que além dessa semelhança mostrar o conhecimento anatômico do artista, também podem representar a racionalidade de Deus.
Apenas em 1870, com a publicação de fotografias do teto, um detalhe foi percebido: há uma figura feminina sob o braço de Deus olhando atentamente para Adão.
A interpretação mais aceita, proposta pelo crítico inglês Walter Pater (1839-1894), é que essa mulher seria Eva, antes mesmo de sua criação formal.
As outras 11 figuras no manto de Deus representam, segundo Pater, as almas da futura humanidade.
Recentemente, surgiu a hipótese de que a mulher seria a Virgem Maria e a criança ao seu lado, tocada suavemente por Deus, seria o menino Jesus.
"O Juízo Final" foi pintado por Michelangelo 25 anos após o teto, quando ele tinha 60 anos.
A obra representa o apocalipse, com mais de 300 figuras, a maioria masculinas e nuas, rodeando Cristo.
Biagio da Cesena, mestre de cerimônias papal entre 1536 e 1541 , criticou a nudez como "indecente".
Michelangelo respondeu pintando Biagio no inferno, nu, com uma serpente mordendo seu órgão genital.
As críticas à nudez continuaram após a morte de Michelangelo, chegando ao ponto da obra ter sido considerada “indecorosa” quando o Concílio de Trento proibiu a “arte lasciva”.
Em 1564, o Papa Pio V ordenou que Daniele da Volterra, aprendiz de Michelangelo, cobrisse as genitais das figuras.
Isso fez com que Volterra ganhasse o apelido de Il Braghettone, algo que pode ser traduzido como “o criador de calcinhas".
Na restauração das décadas de 1980 e 1990, decidiu-se manter alguns dos acréscimos de Volterra como testemunho histórico da censura, mas recuperando o máximo possível do original.
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