“Como alguém pode ignorar algo tão inocente, tão urgente?”, perguntou-se Pablo Sánchez Bergasa aos seis anos, após bater a cabeça em um parque e ver um casal virar o rosto diante de seu choro e mãos cobertas de sangue.
Vinte anos depois, essa memória ganhou novo sentido. Diante de um projeto abandonado de incubadoras de baixo custo, ele tomou uma decisão: não seria a pessoa que desviaria o olhar.
Hoje, aos 31 anos, Pablo é engenheiro, fundador da ONG Medicina Abierta al Mundo e vencedor do Prêmio Social Princesa de Girona 2025, concedido pela fundação homônima na Espanha.
O reconhecimento veio por um feito de peso: o projeto In3ator, que já distribuiu 220 incubadoras dobráveis em 30 países e salvou milhares de bebês prematuros em locais sem acesso à tecnologia hospitalar. O projeto atende áreas que abrangem desde o interior da África a zonas de guerra na Ucrânia.
A ideia nasceu da necessidade urgente. Uma incubadora hospitalar tradicional pode custar cerca de R$227 mil.
As desenvolvidas por Pablo custam R$2,2 mil, são dobráveis, cabem em mochilas e podem ser transportadas até por alpinistas. Foi assim que algumas chegaram a vilarejos isolados no Nepal.
Nos Camarões, um bebê de 500 gramas foi envolvido em um lençol e deixado à margem: o hospital o considerava “inviável”. No entanto, a chegada da incubadora mudou o destino.
“Uma enfermeira decidiu dar uma chance. Um ano depois, fui lá, e a mãe colocou o bebê nos meus braços”, conta Pablo. “Ela olhou para mim e disse: ‘Como é que você não tem filhos? É a melhor coisa da vida!’”.
Antes da engenharia, porém, vieram os vícios. Pablo passou anos preso ao mundo dos videogames. Jogava escondido dos pais até de madrugada, até perceber que sua liberdade havia sido roubada.
O ponto de virada veio com uma aula de eletrônica e um pedido de ajuda feito em oração.
“Curiosamente, a solução para o vício veio de um hobby. Comecei a comprar componentes eletrônicos, e sem perceber, substituí o tempo jogando por algo que alimentava minha mente e minhas mãos.”
Segundo dados citados por Pablo, cerca de 1,5 milhão de bebês prematuros morrem anualmente por falta de acesso a incubadoras.
De acordo com o engenheiro, “70% dos equipamentos médicos doados no mundo não são utilizados”. Para evitar que o mesmo acontecesse com as In3ators, ele integrou a internet nos aparelhos, garantindo treinamento e suporte remoto às equipes locais.
Os primeiros anos do projeto foram solitários. Pablo perdeu amigos, finais de semana e recusou uma carreira confortável para dedicar-se ao sonho.
“2024 foi o ano dos 'nãos'. Recebi cinco negativas de financiamentos europeus. Mas quando veio o prêmio, senti que era hora de entregar tudo à providência.”
Hoje, ele vive sem salário fixo, mas com a convicção de que está onde deveria estar. Seu próximo objetivo? “Multiplicar o impacto por cem: chegar a 20 mil incubadoras em operação”, afirma.
Para Pablo, sua fé cristã é a força que sustenta tudo. “Ela não é algo decorativo; é o motor. Em momentos de exaustão ou dúvida, lembro que não estou sozinho e que há um propósito maior. Deus te ama como você é, mas sonha com você melhor.”
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