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Durante um casamento, Malu de Araújo Ribeiro, então com 21 anos, percebeu o primeiro sinal de que algo estava errado.
“Meu pé simplesmente não me obedecia”, lembra.
Era 2015, e ela achou que fosse apenas o salto alto ou o cansaço. Não imaginava que aquele tropeço marcaria o início de uma jornada contra uma doença rara e sem cura.
Nos meses seguintes, as quedas se tornaram frequentes. O pé esquerdo mancava, o corpo já não acompanhava a vontade de seguir. Mesmo assim, ela insistia: viajava, estudava, trabalhava.
Até o dia em que, durante uma trilha para uma cachoeira, o corpo travou.
“Saí carregada do lugar, mas achei que era por causa do peso”, contou em uma entrevista.
A suspeita de algo mais sério surgiu no fim de 2016, quando uma crise de ansiedade levou Malu ao pronto-socorro.
Os médicos notaram que ela tinha dificuldades para andar e decidiram investigar. Após meses de exames, veio o diagnóstico que mudaria tudo: Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA), a mesma doença que afetou o físico do cientista britânico Stephen Hawking.
“Fiquei chocada. Meu chão se abriu. Li o nome na ficha médica e perguntei: ‘eu tenho ELA?’. O médico apenas confirmou com a cabeça.”
A Esclerose Lateral Amiotrófica é uma doença neurodegenerativa que destrói os neurônios motores, as células responsáveis por controlar os movimentos do corpo.
Os primeiros sintomas costumam ser: fraqueza em um membro, câimbras, pequenos tremores e alterações na fala. A doença é rara, cerca de dez casos a cada 100 mil habitantes, e pode ter origem genética.
Malu levou quase dois anos para ter o diagnóstico definitivo. Nesse período, viveu entre exames, incertezas e medo.
“Quando o nome da doença veio, foi um baque. A pior parte foi perder a autonomia”, diz.
Hoje, aos 31 anos, Malu vive em Itaquera, zona leste de São Paulo. Está tetraplégica, depende de ventilação mecânica e alimentação por gastrostomia, mas continua lúcida e ativa.
“Fisicamente, perder os movimentos e depender dos outros para tudo foi devastador. Não consigo mais respirar sozinha, nem me alimentar. Mas o mais difícil foi quando tive uma parada respiratória antes da traqueostomia. Passei 22 dias na UTI, em plena pandemia.”
A rotina é intensa e cuidadosamente planejada. Malu vive com suporte de home care, recebendo acompanhamento 24 horas por uma equipe com fisioterapeutas, fonoaudióloga, terapeuta ocupacional, nutricionista e neurologistas.
Antes da doença avançar, Malu cursava Engenharia de Energia na UFABC (Universidade Federal do ABC). A distância entre casa e faculdade, Itaquera a São Bernardo do Campo, e a dificuldade de locomoção a fizeram interromper o curso.
Hoje, ela cursa três graduações simultâneas, História, Pedagogia e Serviço Social, na Faculdade Metropolitana do Estado de São Paulo (Fameesp).
Para estudar, Malu usa um equipamento chamado Tobii Dynavox, que lê o movimento dos olhos e transforma em comandos.
“Meu olho é minha mão. Digito, clico, navego e acesso as aulas só com o olhar”, explica.
O dispositivo permitiu que ela retomasse não apenas os estudos, mas também a escrita.
Em 2019, criou o perfil Campo Singular no Instagram, inspirado na música Singular, do duo Anavitória.
“No começo, era só um espaço para meus textos pessoais. Depois, percebi que podia usar a escrita para falar da ELA e acolher outras pessoas.”
Além das graduações, Malu conduz uma iniciação científica orientada pela professora Carla Damasceno.
O projeto investiga a acessibilidade em escolas públicas, com foco em programas como o transporte escolar.
Mesmo sem conseguir lecionar, Malu encontrou uma forma de ensinar.
“Por pior que a doença seja, ela revelou meu talento para escrever. Achei que só eu me beneficiaria ao colocar em palavras o que sinto, mas descobri que sou a voz de muitos que a ELA calou.”
Entre relatos e desabafos, o blog de Malu reúne experiências pessoais sobre o cotidiano com a doença e o uso da escrita como forma de expressão.
“A ELA tirou minha voz, meu olfato e meus movimentos, mas não tirou a minha vontade de existir. Enquanto houver ar passando pelo respirador, vou continuar aprendendo.”
Em um de seus textos, ela escreveu:“A mente continua viva, mesmo quando o corpo não responde.”
A trajetória de Malu mostra como a educação e a escrita se tornaram parte central de sua rotina, mesmo diante das limitações impostas pela doença.
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