Interesses estratégicos
Especialistas afirmam que a aproximação sino-brasileira é guiada por objetivos complementares.
A China busca garantir o fornecimento de alimentos e energia para sustentar sua população e indústria. O Brasil procura atrair investimentos e ampliar o acesso a novos mercados para seus produtos e serviços.
Para a advogada Vivian Fraga, da TozziniFreire, “a China busca segurança alimentar e energética; o Brasil, capital e novos mercados”.
Ela destaca que os aportes recentes abrangem também o varejo digital e a transição energética.
Comércio bilateral
A China é o principal parceiro comercial do Brasil desde 2009. Em 2024, respondeu por 28% das exportações e 41% do superávit comercial brasileiro.
Três produtos concentraram 75% das vendas:
- soja (33,4%);
- petróleo bruto (21,2%);
- minério de ferro (21,1%).
Também foi o maior fornecedor de produtos ao Brasil, com 24,2% das importações, quatro vezes mais do que em 2004. Entre os itens mais comprados estão veículos elétricos, equipamentos de telecomunicação e máquinas industriais.
Comparação com os EUA
Apesar do avanço chinês, os Estados Unidos ainda lideram o estoque de investimentos no Brasil, com aproximadamente R$1,926 trilhão em 2024, quase cinco vezes mais que o total chinês.
Medidas protecionistas adotadas pelo governo Donald Trump, como a elevação de tarifas sobre produtos brasileiros, podem favorecer a aproximação com Pequim.
Setores e aportes anunciados
Mobilidade e automotiva
- GWM: R$10 bilhões até 2032, incluindo expansão de produção e exportações.
- BYD: R$5,5 bilhões em fábrica na Bahia com capacidade para 600 mil veículos/ano.
- GAC: R$7,4 bilhões, com centro de P&D no Nordeste.
- DiDi (99): R$1 bilhão para relançar 99Food e criar 10 mil pontos de recarga.
Energia
- Envision Energy: até R$5 bilhões em hub industrial e hidrogênio verde.
- CGN: R$3 bilhões em energia solar e eólica no Piauí.
Tecnologia e semicondutores
- Longsys/Zilia: R$650 milhões em fábricas no SP e AM.
- Bytedance e Huawei: planos para centros de dados no Brasil.
Mineração
- CMOC: minas de nióbio e fosfato (compra de aproximadamente R$8,09 bilhões).
- Baiyin Nonferrous: R$2,4 bilhões na Vale Verde (cobre).
- BYD: exploração de lítio em MG.
- CNT: R$2 bilhões na Mina de Pitinga (estanho).
- MMG: cerca de R$3 bilhões em níquel.
Serviços
- Meituan/Keeta: R$5,6 bilhões em delivery.
- Mixue: R$3,2 bilhões na rede de fast food.
- UnionPay: estreia no Brasil com emissão de cartões e integração financeira.
O movimento acompanha a estratégia chinesa da Iniciativa Cinturão e Rota, que prioriza infraestrutura e diversificação de cadeias de suprimento em países parceiros.
Com anúncios que ultrapassam R$27 bilhões até 2032 e presença em setores que vão da mobilidade à tecnologia, a China consolida um volume de investimentos inédito no Brasil.
A distribuição desses aportes em diferentes áreas produtivas e de infraestrutura confirma o avanço de uma relação econômica que se expandiu para além do comércio de commodities. A expectativa é que essa parceria permaneça relevante nos próximos anos.
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