Da Igreja ao Estado e ao colapso
Por volta do ano 1600, o controle do Bethlem foi transferido da Igreja para o Estado. Com o passar dos séculos, o hospital se deteriorou física e moralmente.
Superlotado, degradado e sem espaço, acabou sendo transferido apenas em 1975 para o norte de Londres, na cidade de Beckenham.
Na antiga entrada do hospital, duas estátuas davam o tom do que ocorria ali dentro:
- Melancholy, representando uma figura apática e abatida;
- Raving Madness, mostrando um homem acorrentado, em fúria.
Tratamentos que hoje seriam crimes
À medida que o hospital recebia mais pacientes, os métodos se tornaram cada vez mais brutais.
Um dos procedimentos mais comuns era a terapia rotacional. O paciente era amarrado a uma cadeira suspensa e girado violentamente, às vezes a mais de 10 rotações por minuto. Vômito e desmaios eram frequentes. Na época, essas reações eram interpretadas como sinais positivos de “cura”.
Em 1728, o médico James Monro assumiu a chefia do hospital, iniciando uma dinastia familiar que controlaria o Bethlem por cerca de quatro gerações. Sob sua gestão, os tratamentos se tornaram ainda mais severos.
Os pacientes eram:
- espancados;
- submetidos a banhos gelados;
- mantidos longos períodos em jejum;
- tratados com sanguessugas, ventosas e indução de bolhas na pele.
A taxa de mortalidade era tão alta que o hospital evitava internar pacientes considerados fracos demais para suportar os procedimentos. Investigações posteriores encontraram valas comuns na propriedade, destinadas aos que morreram sob “tratamento”.
O manicômio virou atração turística
O período mais chocante da história do Bedlam começou quando suas portas foram abertas ao público. A justificativa inicial era permitir visitas familiares. Mas rapidamente o hospital percebeu o potencial financeiro da curiosidade humana.
Famílias ricas de Londres passaram a pagar para entrar no manicômio e observar os internos como se estivessem diante de um zoológico humano. Os surtos, gritos e comportamentos extremos viraram entretenimento. O sofrimento virou atração.
O Bethlem Royal Hospital não é apenas um capítulo da história da psiquiatria. Sua trajetória mostra como o tratamento de pessoas com transtornos mentais mudou ao longo dos séculos.
Não por acaso, “bedlam” entrou para o vocabulário inglês como sinônimo de confusão, desordem e caos absoluto.
Um lembrete histórico de até onde a civilização pode ir quando o sofrimento humano deixa de causar compaixão e passa a gerar lucro.