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A Arquidiocese de São Paulo impôs punições ao padre Júlio Lancellotti, proibindo transmissões de missas e manifestações nas redes sociais.
A decisão foi tomada pelo cardeal dom Odilo Scherer, mas os motivos oficiais não foram divulgados.
Procurada pela Brasil Paralelo, a Arquidiocese informou oficialmente que o caso pertence ao âmbito interno da Igreja.
“Essas questões foram tratadas em uma conversa entre o arcebispo e seu padre e, portanto, dizem respeito ao âmbito interno da Igreja”.
A informação foi confirmada por Dom Odilo em uma entrevista.
“O que tratei com padre Júlio é assunto de bispo com seu padre”.
Já o padre Júlio Lancellotti afirmou, em nota, que a medida segue diretrizes estabelecidas pela Arquidiocese.
Nota do Pe. Júlio Lancellotti. Imagem: reprodução
A reportagem tentou contato com a equipe do pe. Júlio, mas não obteve respostas.
Uma fonte interna da Arquidiocese relatou à Brasil Paralelo que o padre já havia sido avisado para “maneirar com as redes sociais”.
Segundo o relato, o sacerdote realizou uma entrega de itens de Natal em frente a Catedral da Sé e acabou confrontando agentes de segurança no local, afirmando que a Guarda Civil Metropolitana estava lá para “pegá-lo”.
De acordo com essa versão, o episódio passou a ser tratado internamente como parte de um conflito entre o sacerdote, a Catedral da Sé e a arquidiocese.
A fonte afirma que, desde a instalação dos guarda-corpos em toda a Praça da Sé, Lancellotti passou a criticar publicamente a decisão.
Em uma das ações, chegou a colar um adesivo classificando a iniciativa como expressão de “aporofobia”, termo usado para definir aversão aos pobres.
A fonte afirma ainda que o padre passou a manifestar insatisfação com decisões da Igreja relacionadas ao espaço desde as mudanças na praça Lancellotti sempre as associou a acusação de aporofobia.
“Trata-se de uma atuação claramente política. Apesar disso, ele já havia sido advertido especificamente sobre a necessidade de conter sua exposição nas redes sociais”, afirmou em (onde ele disse isso).
Diante do silêncio institucional, fiéis e observadores passaram a se perguntar o que poderia estar por trás da decisão.
Antes da suspensão, suas celebrações no ambiente digital alcançavam audiência expressiva e repercussão nacional.
Ao mesmo tempo, algumas de suas declarações iam contra aos documentos oficiais da Igreja Católica.
Quem é o padre Júlio Lancellotti?
Padre Júlio Lancellotti tornou-se conhecido nacionalmente pelo trabalho pastoral e social com pessoas de rua na cidade de São Paulo.
Ao mesmo tempo, passou a se posicionar no debate público, com declarações e iniciativas que geraram reações de autoridades civis e religiosas.
A seguir, a Brasil Paralelo reúne algumas declarações do padre Júlio Lancellotti e apresenta, em cada caso, o que dizem os textos oficiais da Igreja sobre os temas envolvidos.
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Apoio público a Lula e participação em atos políticos
O padre mantém apoio público ao presidente Lula e ao PT. Em janeiro de 2023, afirmou que lutou pela eleição do presidente e celebrou a presença de grupos sociais no Palácio do Planalto.
"Lutamos muito para te eleger, presidente. Para que os pobres, os moradores de rua, as mulheres, os LGBTs, os indígenas, as religiões de matriz africana, os sem religião e os que lutam pela dignidade humana pudessem voltar a esse palácio."
Lula com o Padre Júlio Lancelotti. Imagem: Divulgação / Ricardo Stuckert
Documentos da doutrina social da Igreja expressam a posição da instituição sobre o socialismo.
“Socialismo religioso, socialismo católico são termos contraditórios : ninguém pode ser ao mesmo tempo bom católico e verdadeiro socialista.” (Papa Pio XI, Quadragesimo Anno)
“Os socialistas, para remediar este mal, instigam nos pobres o ódio contra os ricos e afirmam que se devem suprimir os bens privados, tornando comum a propriedade de todos, e que sua administração seja entregue aos governantes ou aos municípios”.
A Carta de Princípios do Partido dos Trabalhadores apresenta como o partido está comprometido com o movimento socialista.
“O PT afirma seu compromisso com a democracia plena, exercida diretamente pelas massas, pois não há socialismo sem democracia nem democracia sem socialismo. Um partido que almeja uma sociedade socialista e democrática tem de ser, ele próprio, democrático nas relações que se estabelecem em seu interior”.
Releitura ideológica da vida de uma santa
Uma das controvérsias mais conhecidas envolve o documentário “São Marino”, no qual Lancellotti atuou como narrador.
A obra apresenta uma releitura da história de Santa Marina, que, segundo a tradição católica, viveu disfarçada de homem em um mosteiro para preservar a vida monástica e a castidade.
No filme, o sacerdote afirmou que o disfarce representaria uma libertação para um “novo gênero”.
Ele também disse que a morte de “Marino” seria uma crítica a uma estrutura que ele chamou de heteronormativa e associa a Trindade à ideia de abertura irrestrita à diversidade.
A Arquidiocese de São Paulo publicou uma nota oficial contrária ao documentário, afirmando que a narrativa apresentada não corresponde à história e às motivações tradicionalmente atribuídas à santa.
Nota da arquidiocese de São Paulo. Imagem: reprodução.
A nota não mencionou o nome do padre. Após a divulgação, Lancellotti declarou que “a nota da arquidiocese é a última palavra.”
Do ponto de vista canônico, o Código de Direito da Igreja prevê punição a quem ensinar doutrinas condenadas pelos papas durante a história.
“Se alguém ensinar doutrina condenada pelo Romano Pontífice ou pelo Concílio Ecumênico, seja punido com pena justa.” (Cân. 1371)
Papas já se posicionaram sobre a ideologia de gênero, tema abordado no documentário e defendido pelo padre em algumas ocasiões. Em 2012, o papa Bento XVI afirmou:
“Segundo esta filosofia, o sexo deixa de ser um dado originário da natureza que o homem deve aceitar. O homem passa a contestar a sua própria natureza”. (Discurso à Cúria Romana, 21/12/2012)
“A ideologia de gênero nega a diferença e a reciprocidade natural de homem e mulher. [...] É preocupante que algumas ideologias deste tipo, que pretendem responder a certas aspirações, procurem impor-se como um pensamento único que determine até mesmo a educação das crianças. Não se reconhece que o sexo biológico (sexo) e o papel sociocultural do sexo (gênero) podem ser distinguidos, mas não separados.” (n. 56)
O padre também demonstrou apoio público ao livro “Teologia e os LGBT+”, do padre Luís Corrêa Lima, jesuíta e professor da PUC-Rio.
Pe. Júlio Lancellotti com o Livro Teologia e os LGBT+. Imagem: reprodução.
Lancellotti afirmou que não foi Jesus que fundou a Igreja Católica
Outra fala que gerou reação foi a afirmação de que “o catolicismo foi inventado depois do imperador Constantino”, que morreu em 337 d.C.
“Jesus também não era católico, porque nem tinha Igreja Católica no tempo de Jesus, o catolicismo foi inventado depois de Constantino, aí já vão me acusar de apostasia e heresia.”
O Concílio Vaticano I afirmou que quem negasse que Jesus fundou a Igreja seria considerado anátema, isto é, teria sua posição oficialmente condenada pela Igreja.
“Se alguém disser que a Igreja não foi instituída por Cristo Nosso Senhor como sociedade visível e hierárquica, seja anátema.”(Constituição Pastor Aeternus)
Documentos do início da era Cristã, como as cartas de Santo Inácio de Antioquia (século I), já utilizavam o termo “Igreja Católica”.
O Édito de Milão, decreto publicado em 313 pelo imperador Constantino para permitir a liberdade religiosa no Império Romano, não criou a Igreja, apenas garantiu que os cristãos pudessem praticar sua fé legalmente.
Após a repercussão, Lancellotti publicou vídeo pedindo perdão, mas sem esclarecer os motivos.
“Peço perdão por afirmações equivocadas e errôneas. Reafirmo minha fé Católica Apostólica Romana e minha obediência à hierarquia.”
Em Fortaleza (CE), durante uma missa, Lancellotti incentivou manifestações com palavras de ordem políticas, como “sem anistia” e “Palestina livre”, além de apresentar símbolos associados a movimentos antifascistas. As falas foram registradas e repercutiram nacionalmente.
“Não tomem parte activa em partidos políticos ou na direcção de associações sindicais, a não ser que, a juízo da autoridade eclesiástica competente, o exija a defesa dos direitos da Igreja ou a promoção do bem comum”.(Cân. 287, §2)
Entre as iniciativas apoiadas pelo padre está também o Ateliê Santa Rosa de Lima, no bairro do Belenzinho (SP), que reúne pessoas em situação de rua para atividades de design e venda de produtos.
O sacerdote associa o projeto a uma campanha antifascista.
“Os participantes recebem bolsa, aprendem o trabalho, e a venda dos itens ajuda a patrocinar o projeto. É importante nos posicionarmos: o mundo vem passando por uma onda neofascista, e é nosso dever assumir essa posição”.
Denúncias de assédio sexual
O padre Júlio Lancellotti foi alvo de denúncias relacionadas a vídeos gravados em 2019. Nesses vídeos, supostamente apareceu se masturbando durante uma videochamada com um adolescente de 16 anos, segundo os laudos técnicos que analisaram o material.
Em 2020, o Ministério Público avaliou o caso e decidiu arquivar a investigação, alegando falta de materialidade para abertura de ação penal.
Anos depois, o episódio voltou ao debate após a divulgação de novas perícias independentes, que analisaram os vídeos e concluíram que não havia sinais de edição ou adulteração.
Em resposta, outra perícia técnica contestou essa conclusão e levantou a hipótese de fraude, sugerindo a possibilidade de uso de um sósia.
No âmbito interno da Igreja, a Arquidiocese de São Paulo informou que abriu investigação, ouviu as partes envolvidas e decidiu arquivar o caso por falta de verossimilhança.
Novas denúncias foram posteriormente encaminhadas a instâncias civis e eclesiásticas, sem decisão definitiva tornada pública até o momento.
Denúncia entregue ao Vaticano antecedeu decisão da Arquidiocese
A punição aplicada ao padre Júlio Lancellotti ocorreu cerca de um mês após a apresentação de uma denúncia por um parlamentar.
Em novembro, o deputado Junio Amaral entregou à Embaixada do Vaticano, em Brasília, um dossiê com pedidos de investigação contra o sacerdote. O material reúne denúncias de assédio sexual e de proselitismo político.
Entre os casos citados está o do jornalista Cristiano Gomes, que afirma ter sido assediado por Lancellotti em 1987, quando tinha 11 anos.
Amaral afirmou sentir “dever cumprido” após a decisão da Arquidiocese, mas disse considerar as medidas adotadas insuficientes.
Marília Feliciano, esposa do deputado, declarou que o trabalho de denúncia continuará. Ela afirma que novos elementos poderão ser encaminhados tanto ao Vaticano quanto ao Poder Judiciário.
“A denúncia não é por posição política, mas por crimes e ações que ferem os valores da Igreja”, afirmou.
Para ela, o caso deve resultar na exclusão de Lancellotti do sacerdócio.
A punição aplicada ao padre Júlio Lancellotti ocorre em um cenário marcado por tensões doutrinárias, posicionamentos políticos e denúncias jurídicas com desfechos distintos.
Sem comunicação oficial da Arquidiocese, as razões formais permanecem desconhecidas. O caso segue no âmbito interno da Igreja, conforme declarou o arcebispo de São Paulo.
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