Pensamento político de Eric Voegelin
Alguns dos principais temas do pensamento político de Voegelin são:
- o problema das ideologias;
- a defesa do Direito Natural e
- a defesa da metafísica e de outros postulados da filosofia clássica.
Mesmo sendo reconhecido como filósofo, a formação de Eric Voegelin foi em Ciências Políticas. Sua primeira graduação mostra um de seus principais interesses: as bases e os melhores caminhos para a vida social humana, tema recorrente em seus livros.
Na Universidade de Viena, Voegelin teve aulas com Hans Kelsen e com Friedrich Hayek, um dos membros mais proeminentes da Escola Austríaca de Economia.
Seus conflitos com Kelsen elucidam seu ponto de vista político e filosófico. Hans Kelsen é um dos criadores da teoria do Direito Positivo: baseado na visão de Kant, o professor austríaco acreditava que as leis deveriam ser determinadas de acordo com as tendências da época e a vontade estatal.
No pensamento de Kelsen e Kant, o ser humano não consegue conhecer a essência das coisas nem de realidades superiores a matéria, sendo o Direito uma ferramenta de ordenar a sociedade de acordo com as necessidades do contexto social.
Uma das consequências da tese de Kelsen é o ordenamento jurídico basear-se na concepção de sociedade que os legisladores e juristas possuem. Independentemente de códigos éticos ou condutas morais clássicas.
Kelsen publicou um artigo criticando o pensamento de Voegelin, que posteriormente foi chamado New Science of Politics: Hans Kelsen's Reply to Eric Voegelin's 'New Science of Politics.
Voegelin em defesa do pensamento clássico
Eric Voegelin foi contra o pensamento de seu professor, aponta Tales Ferreira de Lima, graduado em Filosofia, em um artigo para a Faculdade Vicentina. No livro A Nova Ciência Política, Voegelin escreveu:
"Ao significado existencial da representação, deve-se acrescentar o sentido de que a sociedade é a representante de uma verdade transcendente".
Seu pensamento defende que a realidade possui uma ordem superior à vontade humana. Essa ordem pode ser percebida pela razão humana que pode ou não seguir as regras estipuladas pela natureza.
Por exemplo: do ponto de vista individual, o intelecto humano é capaz de compreender que comer em excesso é um mal, mesmo assim, muitas pessoas podem escolher o exagero na alimentação, bem como podem escolher usar drogas ou outras substâncias que causam efeitos negativos.
Mesmo escolhendo o erro, o intelecto consegue compreender o porquê essas ações estão erradas. Independente da vontade da pessoa, comer em excesso faz mal.
Do ponto de vista social, a realidade apresenta diversas leis e princípios. É perceptível que assassinar pessoas inocentes é errado, independente do contexto social. A vida sempre busca manter sua existência, como mostram os instintos animais de luta e fuga.
Para John Locke, alguns dos principais direitos naturais são:
Dois dos autores que mais influenciaram Voegelin foram Aristóteles e Platão. Para os filósofos clássicos, esses princípios são realidades imateriais percebidas pela inteligência. Eric Voegelin defendia que princípios como Bondade, Beleza e Verdade mostram que o ser humano busca realidades que vão além do mundo material e que não existem nele.
No livro De Anima, Aristóteles indica que a elaboração de conceitos, adesão a princípios imateriais e a unidade do corpo se dão através da existência de uma alma imaterial.
Essas realidades e as regras do Direito Natural transcendem o contexto cultural do momento, são absolutas e atemporais. Com essa visão, Voegelin defendia que a política deveria se adequar às leis do Direito Natural, afirma José Pedro Galvão de Souza no prefácio de A Nova Ciência da Política.
Livros de Voegelin como Ordem e História e História das Ideias Políticas mostram como essas regras eram percebidas por diferentes sociedades em diferentes períodos históricos - em maior ou menor grau.
No texto Direito Positivo: Hans Kelsen e o Nazismo, Celso Paulo Costa comenta como o pensamento anti-Direito Natural de Kelsen podem levar a catástrofes como os crimes nazistas:
“Hans Kelsen, em sua Teoria Pura do Direito, deixa claro que a observação do que é efetivamente, não pode oferecer nenhuma pauta de valor e que o direito deve ser livre de elementos metajurídicos, não deixando-se violar por elementos da Psicologia, Economia, Política ou Sociologia.
Porém, a decadência do positivismo é emblematicamente associada à derrota do regime nazi-fascista, após a Segunda Guerra Mundial, que, dentro do quadro de legalidade vigente à época, promoveu a barbárie em nome da lei".
Gnose, uma das bases dos autoritarismos coletivistas
Além do Direito Positivo e do relativismo moral, Eric Voegelin identifica outro responsável pelas crises modernas: a imanentização do transcendente, ou seja, trazer a esperança do Paraíso para a vida temporal terrena, negando a existência das realidades imateriais.
Dependendo do caso, esse processo seria causado ou causaria o pensamento gnóstico (palavra grega para "conhecimento").
Por gnosticismo, Voegelin entendia o termo como a crença de que é possível ao homem escapar ou eliminar os males e dificuldades que afligem sua existência por meio do poder de algum conhecimento especial.
Uma das primeiras obras de Voegelin, As Religiões Políticas, analisa essa realidade.
Segundo ele, os movimentos de massa do século XX são religiões imanentistas. O comunismo, por exemplo, é a promessa de um paraíso na terra após a redenção social gerada pela revolução.