O poder público “governa com o crime e não contra ele”. Foi o que afirmou a professora do Departamento de Segurança Pública da Universidade Federal Fluminense (UFF), Jacqueline Muniz.
Ela afirmou que o crime organizado no Rio de Janeiro é resultado direto da atuação do Estado e não da sua ausência.
Durante entrevista sobre a megaoperação que deixou mais de cem mortos nos complexos da Penha e do Alemão, Muniz criticou a ideia de “Estado paralelo”. Ela afirmou que o poder público “negocia sua presença” nas comunidades.
“Não existe território no Rio de Janeiro em que a polícia não entre. A polícia do Estado tem soberania sobre o território. Ela entrega, terceiriza para o crime e arrenda territórios populares onde se controla a população com mecanismos coativos, gerando governos criminais autônomos”, afirmou.
A professora classificou como “mito” a ideia de que facções e milícias dominam regiões sem interferência do poder público. De acordo com ela, a própria estrutura do Estado participa da dinâmica de controle e regulação desses espaços.
“Quem organiza o crime é o Estado. Ele funciona, numa democracia, como uma agência reguladora do crime para o bem ou para o mal. Não existe Estado paralelo nem Estado ausente. O Estado negocia a sua presença”, disse.
Jacqueline também relacionou o crime à política. Segundo a professora, as “principais lavanderias do dinheiro do crime” no Rio estariam ligadas a “carreiras eleitorais, caixa dois de campanha e algumas igrejas”.
“Governa-se com o crime aqui, e em outros lugares, não contra ele. Faz-se a guerra para vender a paz da propina, a paz do arrego, para renovar o preço do alvará do arrendamento de territórios populares.”
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