Com informações do The New York Times.
Em novembro de 1952, um teste militar no Pacífico marcou a explosão da arma mais poderosa já criada pelo homem até aquele momento.
Batizada de Ivy Mike, a bomba de hidrogênio destruiu completamente uma ilha e gerou uma nuvem atômica de mais de 160 km de largura.
O projeto por trás dessa super arma havia sido elaborado um ano antes, por um jovem físico de apenas 23 anos: Richard Garwin.
Filho de um professor de eletrônica, Garwin nasceu em Cleveland, nos Estados Unidos, em 1928. Ainda criança, desmontava e remontava eletrodomésticos com facilidade.
Joel Shurkin, na biografia de Garwin, revelou que o jovem, aos 19 anos, já estava formado em física, e logo ingressaria em um doutorado orientado por Enrico Fermi, prêmio Nobel e um dos fundadores da era nuclear.
Foi Fermi quem levou Garwin para Los Alamos, o centro de pesquisa onde a primeira bomba atômica havia sido desenvolvida
Na década de 1950, o desafio era outro: desenvolver uma arma termonuclear baseada no princípio da fusão, o mesmo processo que alimenta as estrelas.
Garwin transformou um esboço técnico dos cientistas Edward Teller e Stanislaw Ulam em um projeto viável. Segundo o próprio Teller, “aquele primeiro design foi feito por Dick Garwin”.
Garwin manteve em segredo seu papel central na criação da bomba H por mais de 50 anos. Nem mesmo sua família sabia.
O motivo, segundo ele, era a preocupação com segurança nacional: receava que parentes desavisados pudessem se tornar alvos de espionagem.
A revelação pública só veio em 2001, após a divulgação de uma gravação de Edward Teller, em que o cientista confirmava a autoria técnica de Garwin no projeto da bomba.
A notícia surpreendeu até colegas próximos, que jamais haviam ouvido essa história diretamente do físico.
Em 1954, nos últimos dias de vida de Enrico Fermi, Garwin visitou o mentor e ouviu dele uma confissão que mudaria o rumo de sua vida. Fermi lamentava não ter se envolvido mais nas grandes decisões políticas ligadas à ciência.
A fala ficou marcada em Garwin. A partir de então, ele passou a atuar como conselheiro informal de líderes políticos, participando da formulação de políticas públicas e do controle de armas.
Ao todo, auxiliou 13 presidentes dos Estados Unidos, sempre nos bastidores.
“Se eu pudesse fazer a bomba H desaparecer com uma varinha, eu faria”, disse Garwin em uma de suas últimas entrevistas.
Seu ativismo pela não proliferação nuclear passou a guiar sua atuação, mesmo sem jamais negar que o desenvolvimento da bomba seria, segundo ele, “inevitável”.
Apesar de sua atuação marcante no campo militar, Garwin também contribuiu significativamente para outros campos da ciência.
Participou do desenvolvimento de tecnologias que iam de reconhecimento orbital a detectores de ondas gravitacionais, como os que confirmaram a teoria de Einstein em 2015.
Costumava dizer aos mais jovens que era possível realizar algo importante ou receber o crédito por isso, raramente ambos.
Seu biógrafo, Joel Shurkin o chamou de “o cientista mais influente que você nunca ouviu falar”.
A bomba de hidrogênio projetada por Garwin era quase mil vezes mais potente do que a que devastou Hiroshima.
Estimativas da Guerra Fria sugeriam que uma versão ampliada do projeto poderia destruir um país inteiro. Era, de fato, um novo tipo de arma: de capacidade ilimitada.
Mesmo assim, Garwin não assumia responsabilidade moral direta pela invenção.
“Talvez eu tenha acelerado seu desenvolvimento por um ano ou dois. Isso é tudo”, afirmou.
Acreditava que, cedo ou tarde, outra equipe teria chegado à mesma conclusão.
Mais do que o poder destrutivo da bomba, Garwin temia a multiplicação dos arsenais nucleares.
O verdadeiro perigo está em haver tantas armas. Isso aumenta os riscos de erro, roubo ou uso acidental”, disse.
Richard Garwin morreu em 13 de maio de 2024, aos 97 anos. Mesmo reconhecido por seu brilhantismo e conselheiro de presidentes, viveu com discrição e evitou se projetar como figura pública.
Recusou-se a escrever memórias. “É um trabalho impossível”, disse em sua última entrevista.
Sua trajetória foi marcada por um paradoxo raro: foi o criador da arma mais destrutiva da história, mas lutou por décadas para evitar que ela fosse usada. Modelou-se no arrependimento de Fermi, e dedicou a vida a evitar que outros cientistas precisassem, um dia, sentir o mesmo.
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