Quem é a modelo escravizada sexualmente que teve órgãos arrancados após falsa promessa na Tailândia?

Quem era Vera Kravtsova?

Natural de Belarus, ela era modelo e também cantora, tendo participado da versão local do programa The Voice. Um dia, ela recebeu uma proposta para ir trabalhar em Bangcoc e acreditou que aquele seria o início de uma carreira internacional. O problema é que tudo era falso.

Segundo as investigações, Vera caiu em uma rede internacional de tráfico de pessoas, que atua entre a Tailândia e o Mianmar. 

Ao chegar ao destino, teve seus documentos e celular confiscados e foi levada à força para o outro país, onde foi mantida em cativeiro e explorada sexualmente por homens ricos.

Como funcionava a quadrilha?

Testemunhas afirmam que as vítimas dessas quadrilhas são tratadas como mercadorias, obrigadas a se manter “bonitas” e submissas, até que percam o “valor de mercado”. Quando isso acontece, são descartadas.

Foi o que ocorreu com Vera. Depois de semanas sem gerar lucro, ela foi assassinada e teve seus órgãos removidos para venda no mercado negro. 

O corpo foi encontrado sem vísceras, em condições que indicam a ação de uma organização especializada no comércio ilegal de órgãos humanos, um dos crimes mais lucrativos do mundo.

Sem recursos, a família foi informada pelas autoridades locais de que o corpo seria cremado em Mianmar, impossibilitando o traslado para Belarus.

O perigo do tráfico humano

O tráfico de pessoas é hoje uma das indústrias criminosas mais lucrativas do planeta, perdendo apenas para o tráfico de drogas e de armas. 

Estima-se que milhões de pessoas sejam exploradas todos os anos em diferentes formas de servidão moderna e, em 96,36% dos casos, as vítimas são mulheres, muitas vezes aliciadas com falsas promessas de emprego, carreira ou casamento.

Os números revelam uma tragédia silenciosa. Entre 2020 e 2021, o Disque 100 registrou 301 casos de tráfico humano no Brasil, sendo 75% das vítimas mulheres, crianças e adolescentes. 

No mundo, dados da ONU e de investigações independentes mostram o mesmo padrão: redes criminosas atraem pessoas em situação de vulnerabilidade para exploração sexual, laboral e até remoção de órgãos.

Quando se trata do tráfico de órgãos, o cenário também é sombrio: rins, fígados, olhos e até corações são negociados no mercado negro com valores que ultrapassam US$ 200 mil (mais de 1 milhão de reais) por órgão.

Falsas promessas de agenciamento também existem no Brasil

A Polícia Federal deflagrou em 15 de julho de 2025 uma operação contra um esquema de tráfico internacional de mulheres brasileiras, especialmente com perfil de modelos, aliciadas por meio de redes sociais e aplicativos de mensagens.

As vítimas eram atraídas com promessas de altos ganhos e oportunidades de trabalho na Europa, mas ao chegar ao destino eram submetidas a prostituição forçada, jornadas exaustivas, violência e retenção de documentos.

A ação cumpre quatro mandados de busca e apreensão no Distrito Federal e em São Paulo, além de um mandado de prisão preventiva. 

A Justiça também determinou o bloqueio de R$ 6,6 milhões em bens, a apreensão de quatro passaportes e o impedimento de viagem das investigadas.

As investigações começaram em maio de 2024, a partir da denúncia de uma vítima que conseguiu retornar ao Brasil, relatando detalhes sobre o funcionamento da rede criminosa.

A PF identificou colaboradores no território nacional responsáveis por recrutar e agenciar as mulheres, organizando inclusive os atendimentos feitos na Europa.

Os suspeitos poderão responder por tráfico internacional de pessoas e associação criminosa.

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