Em um evento partidário recente, Edinho Silva, presidente do Partido dos Trabalhadores (PT), classificou Donald Trump como “o maior líder fascista do século 21”.
A declaração, que rapidamente viralizou nas redes sociais e ganhou destaque no noticiário, reflete uma prática recorrente no cenário político: o uso do termo “fascista” como arma retórica para atacar adversários ideológicos.
A fala de Edinho não surpreendeu seu público, mas reacendeu um debate sobre o significado e a aplicação dessa palavra tão carregada historicamente.
Nos últimos anos, o rótulo “fascista” tem sido empregado com frequência no discurso político. De lideranças políticas a jornalistas independentes, de economistas liberais a religiosos, diferentes perfis já foram associados ao termo.
Expressões como “ameaça fascista” ou lemas como “Deus, Pátria, Família” são frequentemente citados em artigos e discursos para vincular adversários a ideologias autoritárias. No entanto, a aplicação ampla e genérica do termo levanta questionamentos: será que todos os alvos dessa acusação realmente compartilham características do fascismo? E o que, de fato, define esse conceito?
Hoje, o termo “fascista” é frequentemente usado para rotular quem se opõe a determinadas pautas. Essa prática, porém, esvazia o conceito de seu significado histórico. Como observa o filósofo Roger Scruton, a banalização de palavras tão graves “distorce a memória histórica e desrespeita as vítimas reais desses regimes”.
Além disso, o uso indiscriminado do termo cria obstáculos ao diálogo, encerrando debates antes mesmo de começarem.
Uma pesquisa conduzida pelo Instituto Sivis revela os impactos dessa polarização no ambiente acadêmico brasileiro. Segundo o estudo, 47% dos estudantes de universidades públicas e privadas hesitam em discutir temas sensíveis em sala de aula.
Desses, 21% ocasionalmente evitaram debates controversos nos últimos 12 meses. Entre os que relutam, 33,9% se identificam como de direita, contra 27% de esquerda.
Esses números evidenciam um ambiente de crescente tensão ideológica, onde o medo de retaliação inibe o debate plural.
A banalização do termo “fascista” traz três problemas principais:
Dificuldade em identificar ameaças autoritárias reais, já que o termo perde especificidade.
Para compreender o fascismo, é necessário voltar às suas raízes históricas. O termo surgiu no início do século 20, associado a regimes autoritários como o de Benito Mussolini na Itália e o de Adolf Hitler na Alemanha.
O historiador Stanley Payne, especialista em regimes totalitários, destaca que “compreender suas raízes é essencial para não cair em manipulações”.
Na Itália fascista, Mussolini consolidou um regime baseado no culto ao líder, no nacionalismo exacerbado e no controle estatal sobre a vida civil. Liberdades foram restringidas, a imprensa censurada e a oposição silenciada. O historiador Richard Bosworth observa que “estar fora do fascismo era estar contra a nação”.
Na Alemanha, o nazismo radicalizou esses traços. Sob Hitler, o Partido Nazista transformou a sociedade em uma extensão do Estado. O Ministério da Propaganda, liderado por Joseph Goebbels, controlava a cultura, exigindo que escritores, músicos e jornalistas se registrassem na Câmara da Cultura do Reich. Como aponta Richard J. Evans, historiador britânico, “até corais e clubes de futebol foram absorvidos pelo nazismo”. O rádio e o cinema, com produções como O Triunfo da Vontade (1935), tornaram-se ferramentas de doutrinação, projetando líderes como figuras quase sagradas.
Estudiosos identificam elementos centrais do fascismo:
Mussolini resumiu essa visão em sua doutrina:
“Tudo no Estado, nada fora do Estado, nada contra o Estado”.
O indivíduo, nesse contexto, existia apenas em função da coletividade. Hitler aplicou lógica semelhante, subordinando a economia ao projeto político do regime. Além disso, ambos os regimes tentaram substituir tradições cristãs por símbolos pagãos, com Mussolini evocando a Roma Antiga e Hitler incentivando práticas ocultistas entre membros da SS. Essas práticas levaram a condenações por parte da Igreja Católica, expressas em encíclicas como Non Abbiamo Bisogno e Mit Brennender Sorge.
O fascismo, portanto, não foi apenas uma ideologia, mas um sistema totalitário que controlava todos os aspectos da vida política, cultural e pessoal, deixando um legado de perseguição, censura e milhões de vítimas.
Compreender o fascismo em seu contexto histórico é essencial não apenas para honrar a memória de suas vítimas, mas também para manter a clareza no debate público. Intelectuais como Hannah Arendt, Richard Evans e Robert O. Paxton dedicaram décadas ao estudo do fenômeno, destacando sua complexidade. Quando o termo é reduzido a um insulto genérico, perde-se a capacidade de distinguir divergências legítimas de práticas verdadeiramente autoritárias.
A história do fascismo não é apenas um registro do passado, mas um alerta para o presente. Preservar o significado original da palavra é um passo para evitar manipulações e fomentar um debate político mais honesto e construtivo. Como sugere o manifesto da Brasil Paralelo, “um tema sério como esse não pode mais ser tratado com base em achismo”. Para aprofundar o tema, o primeiro episódio da série História do Fascismo está disponível gratuitamente no streaming da Brasil Paralelo, acessível por meio do link na descrição.
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