Sob o controle da União Soviética, a Polônia trocou a ocupação nazista por um regime comunista que restringia liberdades civis, censurava a imprensa e interferia diretamente na vida religiosa.
No meio desse cenário, um cardeal surgiu como ponto de resistência: Stefan Wyszyński.
Nomeado primaz da Polônia em 1948, Wyszyński assumiu a liderança da Igreja em um dos períodos mais tensos do país. Seus sermões lotavam igrejas e davam voz a milhares de católicos em um tempo em que criticar o partido podia significar prisão.
Ele procurava preservar a autonomia da Igreja enquanto evitava confrontos abertos com o governo. Mas a tensão crescia. Em 1953, o cardeal se recusou a aceitar que as nomeações de bispos passassem pela aprovação do regime. Foi preso por três anos.
Quando saiu da prisão, não houve recuo. Wyszyński voltou à ativa com mais prudência, mas com a mesma firmeza. Estava prestes a cruzar o caminho de outro personagem decisivo na história da Polônia: Karol Wojtyła, arcebispo de Cracóvia e futuro papa João Paulo II.
O encontro entre Wyszyński e Wojtyła se deu no contexto de vigilância constante, mas também de esperança crescente.
Karol Wojtyła era jovem, carismático e vinha ganhando destaque como pensador e líder pastoral. Em 1964, foi nomeado arcebispo de Cracóvia.
O governo comunista acreditava que sua juventude o tornaria mais maleável. Era um cálculo político e um erro de leitura.
Wyszyński inicialmente desconfiava da indicação. Não conhecia Wojtyła de perto e temia que fosse ingênuo diante do Estado. Mas a convivência revelou o contrário.
Com o tempo, tornou-se evidente que partilhavam a mesma visão: preservar a liberdade da fé em meio à opressão ideológica.
Segundo relatos preservados pela Fundação ŻYCIU TAK, logo após a nomeação de Wojtyła como cardeal, Wyszyński afirmou que, dali em diante, “seriam como dois cavalos puxando o carro da Igreja”
Wyszyński cuidava da coesão da Igreja por dentro. Wojtyła ganhava projeção internacional.
Quando o cardeal de Cracóvia foi eleito papa, em 1978, a dinâmica do confronto com o regime mudou de escala.
A primeira visita de João Paulo II à Polônia, em 1979, reuniu milhões de pessoas nas ruas. Não era um ato político. Mas também não era neutro.
Para muitos poloneses, ver um compatriota no trono de Pedro era uma afirmação silenciosa de identidade, fé e dignidade em contraste com a vigilância constante do partido.
Wyszyński participou da visita. Sabia que aquele momento teria consequências. E teve. O movimento Solidarność nasceu no ano seguinte. Nos anos seguintes, a Igreja tornou-se um espaço de apoio, escuta e organização comunitária.
Wyszyński morreu em 1981. Naquele mesmo mês, João Paulo II estava hospitalizado após sofrer um atentado.
Impossibilitado de comparecer ao funeral, o papa escreveu uma mensagem emocionada:
“Eis o que nos ensinam a vida e o ministério do Primaz da Polônia. Ele é o fecho de abóbada da Igreja de Varsóvia e o fecho de abóbada de toda a Igreja da Polônia.”
Dois líderes. Duas trajetórias marcadas por firmeza, silêncio estratégico e fé inabalável.
Décadas depois, ambos foram beatificados. E, em 2021, Wyszyński foi canonizado. Para os poloneses, sua figura permanece como símbolo da resistência que não precisou de armas para transformar a história.
Entender a vida de São João Paulo II é também compreender parte de seu impacto no século XX.
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