O cardeal Joseph Zen desembarcou em Roma para participar da Congregação Geral dos Cardeais. Aos 92 anos, não votará no conclave que escolherá o próximo papa, mas sua presença no Vaticano tem grande peso simbólico.
Conhecido por sua firme oposição ao comunismo chinês e por sua fidelidade à tradição da Igreja, Zen ficou conhecido como “o Leão de Hong Kong”, apelido que sintetiza décadas de resistência diante da repressão estatal.
Mesmo idoso, o cardeal chinês foi preso por apoiar financeiramente manifestantes pró-democracia na China por meio do 612 Humanitarian Relief Fund, iniciativa hoje dissolvida.
Em 2022, após breve detenção, teve o passaporte retido pelo governo de Hong Kong. Precisou de autorização judicial para deixar o território.
Após a morte do papa Francisco, recebeu permissão para viajar e acompanhar o funeral no Vaticano, onde também compareceu à Congregação Geral dos Cardeais.
Apesar da idade avançada e das restrições legais, sua chegada foi recebida como um gesto de coragem e testemunho.
Nascido em Xangai, em 1932, Zen foi ordenado sacerdote na ordem dos salesianos de Dom Bosco, em 1961, e se tornou bispo de Hong Kong em 2002.
Durante seis anos, exerceu a função de superior provincial dos salesianos na China. Entre 1989 e 1996, lecionou filosofia e teologia sacramental em diversos seminários chineses.
Em 13 de setembro de 1996, foi nomeado coadjutor da Diocese de Hong Kong. Em 23 de setembro de 2002, tornou-se bispo da diocese.
Durante a 11ª Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, abordou o tema “Sensus Ecclesiae e liberdade religiosa”, tratando da situação da Igreja na China e dos sinais de esperança após anos de separação forçada que pareciam tê-la dividido em duas.
Durante a assembleia, Zen afirmou que se trata de uma única Igreja a caminho da normalização.
Foi nomeado cardeal por Bento XVI em 2006, ganhou destaque internacional por denunciar a perseguição religiosa na China e defender os católicos que resistem ao controle do Partido Comunista Chinês.
O cardeal declarou publicamente que sua nomeação como membro do Colégio Cardinalício foi um sinal da preocupação e do carinho do Santo Padre por toda a China.
Zen também é um crítico aberto ao acordo firmado entre o Vaticano e o regime chinês sobre a nomeação de bispos.
O conteúdo desse acordo permanece confidencial, mas, para o cardeal, trata-se de uma concessão perigosa que prejudica os fiéis da chamada “Igreja clandestina”, composta por católicos que se recusam a se submeter à Associação Patriótica controlada por Pequim.
Em 2020, ele afirmou:
“Quando a liberdade da população é retirada, a liberdade religiosa também desaparece.”
Em recentes declarações à imprensa, Zen criticou a convocação precoce das reuniões pré-conclave, antes mesmo do sepultamento de Francisco, e questionou a ausência de solidariedade do colégio cardinalício em relação à sua situação.
Jornais internacionais também destacaram o silêncio da Santa Sé sobre o processo judicial que enfrenta em Hong Kong.
Para o cardeal Gerhard Müller, ex-prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, o silêncio pode ser interpretado como um sacrifício político:
“Não gostaria que este cardeal idoso estivesse sendo consagrado no altar da razão de Estado, para defender o acordo diplomático com Pequim.”
Joseph Zen, porém, permanece firme. Em silêncio e com poucas aparições públicas, segue pedindo orações e oferecendo seu sofrimento pela Igreja.
O Leão de Hong Kong voltou a rugir e sua presença no coração da cristandade, mesmo sem voto, ecoa como um lembrete: há quem ainda arrisque tudo para permanecer fiel.
No Especial Papado, o professor Raphael Tonon apresenta a trajetória e o legado do papa Francisco. Além disso, o historiador percorre a história do papado desde São Pedro até os dias atuais.
Assista ao segundo episódio, História dos papas: de São Pedro a Francisco
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