Atualidades
3
min de leitura

Conhecido pela oposição ao Partido Comunista Chinês, Leão de Hong Kong chega ao Vaticano

Cardeal Joseph Zen é autorizado a deixar Hong Kong e marca presença simbólica nas reuniões que antecedem o conclave.

Por
Redação Brasil Paralelo
Publicado em
30/4/2025 16:22
Foto: Alberto Pizolli

O cardeal Joseph Zen desembarcou em Roma para participar da Congregação Geral dos Cardeais. Aos 92 anos, não votará no conclave que escolherá o próximo papa, mas sua presença no Vaticano tem grande peso simbólico.

Conhecido por sua firme oposição ao comunismo chinês e por sua fidelidade à tradição da Igreja, Zen ficou conhecido como “o Leão de Hong Kong”, apelido que sintetiza décadas de resistência diante da repressão estatal.

Zen já foi preso diversas vezes sob acusações de “conluio com forças estrangeiras”

Mesmo idoso, o cardeal chinês foi preso por apoiar financeiramente manifestantes pró-democracia na China por meio do 612 Humanitarian Relief Fund, iniciativa hoje dissolvida.

Em 2022, após breve detenção, teve o passaporte retido pelo governo de Hong Kong. Precisou de autorização judicial para deixar o território.

Após a morte do papa Francisco, recebeu permissão para viajar e acompanhar o funeral no Vaticano, onde também compareceu à Congregação Geral dos Cardeais.

Apesar da idade avançada e das restrições legais, sua chegada foi recebida como um gesto de coragem e testemunho.

História do cardeal Zen

Nascido em Xangai, em 1932, Zen foi ordenado sacerdote na ordem dos salesianos de Dom Bosco, em 1961, e se tornou bispo de Hong Kong em 2002.

Durante seis anos, exerceu a função de superior provincial dos salesianos na China. Entre 1989 e 1996, lecionou filosofia e teologia sacramental em diversos seminários chineses.

Em 13 de setembro de 1996, foi nomeado coadjutor da Diocese de Hong Kong. Em 23 de setembro de 2002, tornou-se bispo da diocese.

Durante a 11ª Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, abordou o tema “Sensus Ecclesiae e liberdade religiosa”, tratando da situação da Igreja na China e dos sinais de esperança após anos de separação forçada que pareciam tê-la dividido em duas.

Durante a assembleia, Zen afirmou que se trata de uma única Igreja a caminho da normalização.

Foi nomeado cardeal por Bento XVI em 2006, ganhou destaque internacional por denunciar a perseguição religiosa na China e defender os católicos que resistem ao controle do Partido Comunista Chinês.

O cardeal declarou publicamente que sua nomeação como membro do Colégio Cardinalício foi um sinal da preocupação e do carinho do Santo Padre por toda a China.

  • Gostaria de receber as principais notícias do dia diretamente em seu E-mail, todos os dias e de graça? Assine o Resumo BP, a newsletter de jornalismo da Brasil Paralelo. Clique aqui e aproveite.

O cardeal Zen é um crítico ao acordo entre Vaticano e o Partido Comunista Chinês

Zen também é um crítico aberto ao acordo firmado entre o Vaticano e o regime chinês sobre a nomeação de bispos.

O conteúdo desse acordo permanece confidencial, mas, para o cardeal, trata-se de uma concessão perigosa que prejudica os fiéis da chamada “Igreja clandestina”, composta por católicos que se recusam a se submeter à Associação Patriótica controlada por Pequim.

Em 2020, ele afirmou:

“Quando a liberdade da população é retirada, a liberdade religiosa também desaparece.”

Em recentes declarações à imprensa, Zen criticou a convocação precoce das reuniões pré-conclave, antes mesmo do sepultamento de Francisco, e questionou a ausência de solidariedade do colégio cardinalício em relação à sua situação.

Jornais internacionais também destacaram o silêncio da Santa Sé sobre o processo judicial que enfrenta em Hong Kong.

Para o cardeal Gerhard Müller, ex-prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, o silêncio pode ser interpretado como um sacrifício político:

“Não gostaria que este cardeal idoso estivesse sendo consagrado no altar da razão de Estado, para defender o acordo diplomático com Pequim.”

Joseph Zen, porém, permanece firme. Em silêncio  e com poucas aparições públicas, segue pedindo orações e oferecendo seu sofrimento pela Igreja.

O Leão de Hong Kong voltou a rugir e sua presença no coração da cristandade, mesmo sem voto, ecoa como um lembrete: há quem ainda arrisque tudo para permanecer fiel.

Especial papado 

No Especial Papado, o professor Raphael Tonon apresenta a trajetória e o legado do papa Francisco. Além disso, o historiador percorre a história do papado desde São Pedro até os dias atuais.

Assista ao segundo episódio, História dos papas: de São Pedro a Francisco

Você também pode se interessar:

O jornalismo da Brasil Paralelo existe graças aos nossos membros

Como um veículo independente, não aceitamos dinheiro público. O que financia nossa estrutura são as assinaturas de cada pessoa que acredita em nossa causa. 

Quanto mais pessoas tivermos conosco nesta missão, mais longe iremos. Por isso, agradecemos o apoio de todos. 

Seja também um membro da Brasil Paralelo e nos ajude a expandir nosso jornalismo. 

Clique aqui.

Relacionadas

Todas

Exclusivo para membros

Ver mais