
A Rocinha, na zona sul do Rio, é um símbolo do contraste brasileiro. Com 72.021 habitantes, é a maior favela do país e fica colada ao Leblon, o bairro mais caro da capital fluminense e o terceiro mais caro do Brasil.
Se fosse uma cidade, a Rocinha teria mais habitantes do que 59 dos 92 municípios do estado, e seria maior que 91% das cidades brasileiras.
Junto com comunidades como Rio das Pedras, Jacarezinho e o Complexo da Penha, recentemente alvo de uma megaoperação policial, ela faz parte de um conjunto de mais de 1.700 favelas espalhadas pelo Rio de Janeiro.
Essas comunidades abrigam mais de 2 milhões de pessoas, o que significa que quase um em cada quatro cariocas vive em uma favela. Se fossem reunidas em um único território, formariam a sétima maior cidade do Brasil.
As favelas nasceram de um problema urbano simples: há mais moradores do que casas acessíveis.
Na ausência de políticas públicas de habitação, famílias de baixa renda passaram a ocupar áreas irregulares, encostas, margens de rios e terrenos baldios, para viver perto dos empregos.
Um exemplo clássico vem de São Paulo. Na foto icônica que opõe Paraisópolis ao bairro do Morumbi, dois mundos se separam por um muro: de um lado, prédios de luxo; do outro, a maior favela paulista.

Paraisópolis começou a ser ocupada na década de 1950 por trabalhadores da construção civil que ergueram obras como o Estádio do Morumbi e o Hospital Albert Einstein.
Sem condições de pagar aluguel, construíram suas casas ali mesmo, ao lado dos canteiros de obra, dando origem à favela que hoje abriga mais de 100 mil pessoas.
No Rio, o processo foi semelhante: muitos habitantes, poucas habitações.
O êxodo rural e a industrialização, entre as décadas de 1930 e 1960, levaram milhares de brasileiros ao Rio de Janeiro em busca de trabalho. Mas havia uma barreira física: os morros e as florestas que cercam a cidade.
Quando uma cidade cresce, há dois caminhos: construir para cima (com prédios altos) ou expandir para os lados (criando novos bairros). No Brasil, a primeira opção quase nunca é usada.
Leis de zoneamento e protestos de moradores de bairros centrais contra a “verticalização” limitaram a construção de prédios.
Assim, o crescimento urbano empurrou os mais pobres para as margens e, no caso do Rio, para os morros.
Daí vem a expressão “marginalizados”: os que vivem fora do eixo planejado da cidade.
A primeira favela do Brasil surgiu no Morro da Providência, no final do século XIX. Moradores do cortiço Cabeça de Porco, demolido para a construção de um túnel, foram expulsos sem indenização e ocuparam o morro para erguer novas casas.
Logo depois, soldados da Guerra de Canudos, que haviam sido prometidos com moradia e nunca receberam, também subiram o morro.
Entre 1902 e 1906, outro evento acelerou o processo: a reforma urbana do prefeito Pereira Passos, conhecida como “bota-abaixo”. Inspirado em Paris, ele demoliu cortiços e bairros populares para “modernizar” o centro do Rio.
O resultado foi a expulsão de milhares de famílias pobres, sem indenização, que passaram a construir moradias precárias nos morros e periferias.
Assim nasceram as primeiras comunidades cariocas. Muitas delas foram formadas por ex-escravos e operários, o que explica a maior presença de pretos e pardos nas favelas até hoje.

Sentindo-se traídos e abandonados pelo Estado, esses moradores criaram laços comunitários, mas também uma desconfiança profunda em relação ao poder público.
Por décadas, o Estado falhou em oferecer infraestrutura, saneamento, pavimentação e segurança pública. Esse vácuo de poder abriu espaço para outro tipo de autoridade: o tráfico.
Hoje, as favelas são vistas por especialistas como territórios de poder paralelo, onde leis e punições são impostas por facções.
Trechos do documentário Rio de Janeiro: Paraíso em Chamas, produzido pela Brasil Paralelo, mostram como surgiram os chamados “tribunais do tráfico”, onde o crime define regras e resolve conflitos, sinais claros da perda de soberania do Estado.
Em 2020, a Polícia Civil identificava 1.400 favelas dominadas por facções no Rio. Após as restrições impostas pelo STF a operações policiais durante a pandemia, esse número subiu para 1.700 comunidades, segundo relatório da própria polícia.
Hoje, estima-se que o comércio de cocaína movimente até R$335 bilhões por ano no Brasil, quase 4% do PIB nacional, alimentando redes de tráfico e corrupção que se estendem por todo o país.
Nesse contexto, a megaoperação da Polícia Militar no Complexo da Penha, que mobilizou 2,5 mil agentes e deixou mais de 120 mortos, é vista como uma tentativa de retomada do território.
Para muitos moradores, é também a única forma de reação possível diante da expansão das facções.
Pesquisa recente da AtlasIntel mostra que 8 em cada 10 moradores de favelas do Rio aprovam as operações policiais, enquanto a maioria da população geral ainda se divide.
O dado ajuda a explicar uma realidade paradoxal: os que mais sofrem com o domínio do crime também são os que mais desejam a presença do Estado, mesmo que ela venha pelas armas.
Para compreender a fundo esta realidade que atinge o Rio de Janeiro e explorar possíveis caminhos para sua solução, a Brasil Paralelo produziu o documentário Rio de Janeiro: Paraíso em Chamas.
Esta obra investiga o centro do problema, trazendo depoimentos e imagens inéditas das favelas mais desafiadoras do país.
Não se trata apenas de expor o problema, mas de buscar entendê-lo em sua complexidade e vislumbrar possíveis saídas para este labirinto de violência e corrupção.
Isso tudo estará no documentário Rio de Janeiro: Paraíso em Chamas. Tenha acesso a esse conteúdo por apenas R$ 7,90 mensais.
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