O debate sobre a criação de sistemas de pagamento alternativos ao dólar voltou à pauta dos Brics, grupo formado por economias emergentes como Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul e outros.
Os membros do bloco discutem formas de ampliar o uso de moedas locais no comércio internacional.
O tema ganha destaque em meio às recentes tensões comerciais entre Brasil e Estados Unidos.
A iniciativa tem diferentes motivações.
A proposta é reduzir a dependência do sistema financeiro global, que hoje gira em torno do dólar.
Atualmente, quase todos os pagamentos internacionais passam pelo sistema SWIFT, que é dominado pelo Ocidente. Quem é excluído dele, como a Rússia foi, fica isolado do mercado mundial.
Criar um sistema próprio com moedas locais seria uma forma de escapar desse controle.
Assim, os países do bloco poderiam negociar entre si sem depender do dólar e com menos risco de sofrer sanções dos EUA ou da União Europeia.
Em discurso em Xangai, em 2023, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva questionou a hegemonia do dólar:
“Por que todos os países são obrigados a fazer comércio lastreado no dólar? Por que não em nossas próprias moedas?”.
O governo também apoia o Brics Pay, projeto em fase inicial que pretende criar arranjos de compensação entre moedas locais, ainda sem previsão de aplicação prática.
Segundo dados do Banco Central, o Sistema de Pagamentos em Moeda Local (SML) já é utilizado em operações do Mercosul desde 2008, mas representa uma fatia pequena do comércio brasileiro.
Ele permite que empresas dos dois países façam comércio exterior sem usar o dólar como intermediário.
Assim, uma empresa brasileira pode pagar em reais e a argentina receber em pesos, com a conversão feita diretamente pelos bancos centrais de cada país.
Em 2024, foram exportados R$3,3 bilhões para a Argentina via SML, enquanto mais de 95% das exportações do país seguem utilizando o dólar.
Especialistas destacam que a substituição do dólar ainda é improvável. Hoje, cerca de 90% das transações cambiais e quase metade do comércio mundial são realizados na moeda americana.
Para analistas, o tema tem mais impacto político do que viabilidade econômica imediata.
“O Brasil não é protagonista no cenário internacional. O discurso tem utilidade para reforçar alianças no Sul Global, mas seu alcance é limitado”, afirma Adriano Gianturco, cientista político e professor do Ibmec-BH.
De acordo com um artigo da jurista Daniele Quintans dos Santos, publicado no site Jus Brasil, uma moeda única para o BRICS pode trazer mais prejuízos que vantagens para o brasileiro.
Hoje, o comércio entre os países do BRICS é feito em dólar. Cada governo precisa manter reservas da moeda americana e usar o sistema SWIFT, dominado pelo Ocidente.
O SWIFT é o principal sistema usado no mundo para transferências financeiras internacionais.
Ele conecta bancos e instituições de mais de 200 países, permitindo que pagamentos e operações em diferentes moedas sejam feitos de forma rápida e segura
A proposta de uma moeda comum buscaria reduzir essa dependência, permitindo transações diretas entre os membros do bloco e criando um sistema próprio de pagamentos.
Entre os pontos positivos, segundo a Jurista, estariam a menor exposição ao dólar, a maior integração comercial e mais autonomia financeira.
Mas, segundo ela, os riscos podem superar os ganhos:
Segundo Jim O’Neill, ex-economista-chefe do Goldman Sachs, a ideia de uma moeda comum para os cinco países do BRICS é inviável.
Ele classificou a proposta defendida por Lula e outras lideranças como “simplesmente ridícula” e questionou: “Eles vão criar um banco central do bloco? Como fariam isso? É quase constrangedor.”
Não é a primeira vez que Lula fala do assunto. No ano passado, ele também citou a possibilidade durante a cúpula do bloco na África do Sul.
Na época defendeu a medida como uma “paridade em trocas comerciais”.
A defesa de alternativas ao dólar coincidiu com novos atritos na relação bilateral. Os EUA anunciaram tarifas de 50% sobre produtos brasileiros, decisão que analistas interpretam como sinal de pressão política.
Além disso, a presença de navios iranianos e de um avião russo sancionado em território brasileiro acentuou as desconfianças em Washington.
Parlamentares da oposição no Congresso afirmam que a aproximação do Brasil com países sob sanção internacional agrava a crise diplomática.
Para o deputado Marcel van Hattem (Novo-RS), “a ausência de explicações sobre esses episódios gera desconfiança e isola o país no cenário internacional”.
Brasil e Índia, chamados de “países-pêndulo”, tentam manter flexibilidade nas alianças. No entanto, analistas apontam que a pressão norte-americana pode obrigar ambos a assumir posicionamentos mais definidos em um mundo cada vez mais polarizado.
Há décadas China e Rússia disputam com os Estados Unidos a liderança da política global. Os dois países têm cada vez mais sucesso, enquanto os EUA passam por dificuldades para manter sua posição.
Uma nova Guerra Fria está acontecendo? O que acontecerá com o mundo se a China e a Rússia assumirem o protagonismo político?
Buscando analisar as consequências dessa disputa política internacional, a Brasil Paralelo elaborou o seu primeiro documentário internacional: O Fim das Nações.
Toque na imagem abaixo para assistir o documentário.
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