Quando o assunto é o regime da Venezuela, diversas explicações aparecem para tentar explicar a crise humanitária e econômica vivida pelo país.
Para alguns, a explicação está nas políticas socialistas adotadas pelo governo de Hugo Chávez e Nicolás Maduro. Para outros, a Venezuela já teve um projeto socialista, mas os líderes do regime deturparam o verdadeiro propósito do comunismo e do socialismo, tendo adotado outras ideologias e projetos.
Afinal, a Venezuela á comunista ou não? Qual é o regime do país?
Para Hugo Chávez, fundador do atual regime do país, a Venezuela segue a doutrina de Karl Marx, um dos principais teóricos do comunismo. Em 2006, Chávez disse:
"De 2007 a 2021, serão 14 anos para semear, aprofundaremos as raízes e estenderemos a revolução por todos os espaços para que a Venezuela seja uma República Socialista Bolivariana", conforme G1.
Hugo Chávez afirmava que as teorias de Karl Marx eram uma das principais orientações de seu governo:
O atual presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, trabalhava no governo de Chávez e ainda é membro do mesmo partido de seu antecessor, o Partido Socialista Unido da Venezuela. Segundo Maduro:
"Estamos empenhados em construir o socialismo do século XXI".
Na eleição presidencial de 2006, o Partido Comunista da Venezuela apoiou oficialmente a candidatura do então presidente Hugo Chávez. O candidato do Partido Comunista foi reeleito no primeiro turno, tendo obtido 62,8% dos votos segundo o sistema eleitoral do país.
Autores como Carlos Alberto Montaner, Javier Corrales e Álvaro Vargas Llosa defendem que Hugo Chávez e Nicolás Maduro fazem parte de uma tradição comunista da América Latina conhecida como Foro de São Paulo.
No livro Las raíces torcidas de América Latina, Carlos Alberto Montaner diz que políticas econômicas baseadas no estatismo e no controle governamental têm prejudicado o crescimento e a competitividade da economia da América Latina, incluindo a Venezuela.
Os autores citados defendem que o pensamento marxista é um dos principais responsáveis por manter essa situação.
Para o Pastor Luis Alberto Rodríguez, religioso que atua na fronteira Venezuela-Brasil recebendo fugitivos venezuelanos, o país de Maduro é comunista. Luis desempenha um papel social na região e teve contato com centenas de venezuelanos. Na sua opinião:
“Se você quer saber o que é o comunismo, não precisa nem passar um dia inteiro na Venezuela, bastam apenas 12 horas. É melhor morar em uma favela brasileira do que na Venezuela".
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Para outros, a Venezuela não é comunista
Para outros estudiosos do assunto, a Venezuela não é comunista nem socialista. O jornalista Ronni Pereira diz:
"Não se deve considerar a essência das instituições (governos e partidos) pelo que elas dizem ser ou pela consciência que as mesmas têm de si próprias, já dizia o mestre Perseu Abramo. É necessário analisar as ações e políticas da mesma e chegar a uma conclusão
[...] Nunca houve abolição da propriedade privada na Venezuela e nem nenhuma das outras características da economia planificada. Apesar de Chávez ter nacionalizado muitas empresas privadas (não todas), ele fez isso com base na ideologia nacionalista, não para tomar os meios de produção da “burguesia”.
[...] Chávez e Maduro são na verdade líderes autocratas e populistas, não socialistas".
O jornal Left Voice (Voz da Esquerda) concorda com a tese. Em entrevista com Milton D’León, trabalhador marxista de Caracas e editor do site La Izquierda Diario Venezuela, o venezuelano afirmou:
"Na Venezuela não é o “socialismo” que fracassou e sim uma política que manteve o país dependente das receitas do petróleo, que garantiu os lucros dos banqueiros e empresários, enquanto o povo sofre com a fome.
O governo se baseou nas forças armadas, em um permanente estado de emergência que fica cada vez mais repressivo ao longo do tempo. A propriedade privada na Venezuela sempre foi defendida e, durante a bonança do petróleo, os capitalistas prosperaram.
Isto foi acompanhado por uma limitada distribuição de renda através de programas sociais, com base no boom do petróleo".
A atual realidade da Venezuela
A Venezuela, um país repleto de riquezas naturais e com grande potencial econômico, vive uma de suas piores crises da história. Essa crise afeta diversos campos da vida dos venezuelanos, sejam eles políticos, sociais, econômicos.
Atualmente, o país enfrenta:
crise de desabastecimento de alimentos, remédios e itens básicos;
crise de refugiados - migração em massa do seu povo;
alta inflacionária que prejudica sua economia dia a dia;
ditadura que aparelhou o Estado e o Exército para se manter no poder e oprimir a população.
Crise de abastecimento
Segundo a página da South American Initiative, a Venezuela precisa urgentemente de apoio financeiro. Crianças morrem todos os dias no país vítimas da desnutrição ou até do abandono parental, uma vez que os pais são incapazes de alimentar todos da família.
A iniciativa filantrópica acusa o país de promover um “Holocausto moderno”. Boa parte da população vive com apenas um salário mínimo na Venezuela. Com a atual crise econômica, este dinheiro não compra mais que um pente com 24 ovos ou um quilo de queijo.
Em 2017, a pesquisa Encuesta Condiciones de Vida (ENCOVI) apontou que 64,3% dos venezuelanos reconhecem ter perdido até 11 quilos.
Crise dos refugiados venezuelanos
Segundo o Conselho Noruegano para Refugiados (NRC), a Venezuela está entre as crises mais esquecidas e desatendidas do mundo. O país entrou na lista em 2017, ano em que 1,6 milhões de venezuelanos deixaram o país.
Segundo o NRC:
“Os venezuelanos sem status legal em países vizinhos estão sujeitos a exploração laboral e sexual. Dificilmente os refugiados têm acesso a serviços sanitários”.
A economia socialista da Venezuela enfrenta um ciclo de crises constantes. Desde a primeira queda dos preços dos barris de petróleo na década de 80, o país nunca se recuperou.
A economia do país se tornou totalmente dependente do petróleo, a agricultura e a indústria nunca foram desenvolvidas. A maior parte dos produtos que abastecem o país provém de importações e a sua moeda é ancorada no dólar.
Com o processo de estatização da economia e endurecimento da ditadura bolivariana, a Venezuela assistiu investidores e empresas saírem do país.
A inflação aumenta no país mês a mês enquanto sua moeda se desvaloriza. Um bolívar venezuelano, moeda local, equivale a 0,12 centavos de dólar americano.
Os preços dos insumos básicos importados aumentam mês a mês e tiram da população o poder de compra. Veja o gráfico abaixo que mostra a evolução da pobreza na Venezuela nos últimos anos:
Pesquisa realizada pela Encuesta Condiciones de Vida (ENCOVI), com colaboração das universidades: Universidad Católica Andrés Bello, Universidad Central de Venezuela e Universidad Simón Bolívar.
Contra a oposição venezuelana que tenta se levantar contra o governo, a ditadura de Maduro responde com violência.