Qual é o regime chinês? Como se define hoje uma nação milenar?
Há 70 anos, a China passou por uma revolução socialista liderada por Mao Tse Tung. O país hoje parece ter tomado outro rumo… entenda Qual é o regime chinês.
“Nós devemos dobrar os nossos esforços e continuar com a firme vontade para progredir a causa do socialismo com as características chinesas e continuar a realizar o grande renascimento da nação chinesa e o sonho chinês” (Xi Jinping, na cerimônia de celebração do centenário do PCC 01/07/2021).
Alguns afirmam que a China é uma ditadura comunista, outros que é um regime político socialista com a economia capitalista, portanto uma espécie de socialismo de mercado. Afinal, qual o regime político da China?
Cartaz da Revolução Chinesa com Mao Tsé-Tung, Vladimir Lenin e Karl Marx.
Em outubro de 1949, Mao Tsé-Tung liderou uma revolta junto a um grupo de camponeses e, por meio de um golpe, proclamou a República Popular da China. A revolução e o novo regime eram pautados com base nas teorias de Marx e Lenin.
Quer saber mais sobre as ideias de Marx? Conheça suas principais teses e sua biografia.
O Partido Comunista assumiu o poder na China, encerrando uma longa guerra civil. Este evento deu início a uma nova nação.
Mao implementou políticas com base nas ideias marxistas. Buscou industrializar o país e mudar a tradicional estrutura agrária chinesa. Para tanto, criou grupos de trabalho e fazendas coletivas, proibindo a agricultura particular e a propriedade privada.
A coletivização e a centralização da economia transformaram a sociedade. Os chineses foram obrigados a parar de cultivar alimento para se dedicar à metalurgia, por exemplo, já que no campo industrial, a China estava bem atrasada. Para reverter este problema, Mao Tse-Tung promoveu o grande salto para frente.
O novo modelo de agricultura e os esforços pela industrialização se mostraram ruins. A China enfrentou uma grande crise alimentar devido à escassez de alimentos produzidos.
A fome matou cerca de 45 milhões de pessoas entre 1958 e 1962, segundo estimativas de Frank Dikötter, autor do livro “A grande fome de Mao — A história da catástrofe mais devastadora da China”.
Dikötter é historiador, especializado em questões chinesas e presidente do instituto de Ciências Humanas de Hong Kong desde 2006.
O autor registrou até casos recorrentes de canibalismo em algumas vilas chinesas. Dikötter acessou os arquivos do PCC e identificou casos chocantes em que pessoas desenterraram seus parentes para se alimentar.
Na década de 60, Mao promoveu a Revolução Cultural. Uma campanha de perseguição contra partidários do capitalismo. Os apoiadores do novo regime promoveram uma verdadeira caça às bruxas.
Todos os inimigos de Mao Tse-Tung foram perseguidos. Principalmente os membros do partido que não eram alinhados e os defensores do antigo regime da China.
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Milhões de pessoas foram aterrorizadas pela Guarda Vermelha. Grupo composto por jovens mobilizados por Mao para eliminar o que o líder chamava de "cultura burguesa".
O culto à personalidade de Mao foi estimulado e ele passou a ser tratado quase como uma divindade no território chines.
As ideias socialistas e comunistas chegaram aos países asiáticos como resultado de um esforço da Internacional Comunista. Conheça seus planos.
A imagem dele ainda está muito presente no cotidiano do país asiático. No entanto, a República Popular da China é muito diferente daquela concebida pela revolução.
No campo econômico, a China está a ponto de superar a economia dos Estados Unidos. Ela tem o potencial de se tornar a maior economia do mundo.
O sistema econômico da China
O PIB chinês é superado apenas pelo dos Estados Unidos. No entanto, em termos de paridade do poder de compra, já é o país mais rico do mundo.
A China também possui o setor bancário mais rico e a instituição com o maior total de ativos: o Banco Industrial e Comercial da China (ICBC).
É o principal gigante comercial: ele produz e exporta mais que qualquer outro país, com 119 empresas na lista das 500 maiores do mundo. Segundo a lista de 2019 da revista Fortune.
Toda essa prosperidade não foi possível sem uma readequação da economia chinesa à economia de mercado. Em 1978, iniciou-se o processo de industrialização chinesa. Deng Xiaoping, presidente da época, foi o grande idealizador da mudança. Ele promoveu a reforma e abertura da China.
Entrada do capital estrangeiro na China
Forto de uma franquia do Mac Donalds na China.
Deng Xiaoping criou o programa “portas abertas”, convidando empresas estrangeiras para o país. Poucos dias depois, as garrafas de Coca-Cola chegaram. Oito presidentes americanos, de Richard Nixon a Barack Obama, injetaram dinheiro na economia chinesa.
A estratégia era o cálculo de que a prosperidade e os bens de mercado ajudariam a China a tomar uma via mais inclinada aos valores liberais.
O resultado foi a maior transferência econômica do mundo. Em 1995, a economia da China era menor que a da Itália. Hoje é 24 vezes maior, perdendo apenas para a dos Estados Unidos.
O maior laboratório da Microsoft fora dos Estados Unidos fica na China. Em apenas 35 anos a cidade de Shenzhen passou de uma aldeia de pescadores a rival do Vale do Silício em inovação tecnológica.
As empresas chinesas Huawei, Tencent e Alibaba têm a mesma estatura que a Google, Facebook e Amazon. A China registrou quase metade das patentes no mundo em 2019.
Apesar de não seguir os moldes ocidentais de política, a China readequou todo seu regime econômico à lógica predominante no mercado global. Entenda definitivamente porque o socialismo não funciona.
O Ocidente aceitou o modo chinês de fazer negócios, esperando uma mudança de atitude do regime, o que não veio.
A fórmula de abertura foi bem-sucedida e permitiu à China crescer de forma sustentável em níveis recordes, por três décadas.
O Banco Mundial estima que mais de 850 milhões de chineses saíram da pobreza graças às reformas, como parte de um desenvolvimento sem precedentes.
Os líderes posteriores — Jiang Zemin, Hu Jintao e o atual presidente do país, Xi Jinping — mantiveram os planos de reforma e abertura.
A China modernizou-se, e hoje não apenas domina a fabricação de roupas, têxteis e eletrodomésticos, mas é também um gigante tecnológico.
A multinacional Huawei, a maior empresa privada da China, é líder no desenvolvimento da tecnologia 5G e é a segunda maior fabricante de telefones celulares do mundo.
Outra empresa privada, a Lenovo, vende mais computadores pessoais que qualquer outra empresa. Mais de 70.000 empresas americanas têm negócios na China, gerando uma receita de mais de 100 bilhões de dólares anuais.
A General Motors já vende mais carros na China que nos Estados Unidos. E empresas como Apple dependem do país para a manufatura de seus produtos.
O enriquecimento da China é herança da abertura econômica e dos investimentos americanos.
A nova globalização chinesa
A China iniciou um projeto de infraestrutura global para criar corredores comerciais e unir mais de 100 países. As obras já se multiplicam pela Ásia, África e Europa, formando a espinha dorsal da agenda chinesa.
Xi Jinping quer uma nova globalização que deixe de lado as antigas regras ocidentais. No passado, nações do sudeste asiático recorriam aos Estados Unidos para financiar sua infraestrutura. Em troca, eram obrigadas a manter uma fachada de democracia.Agora, o financiador não é mais democrata, e a ditadura não é um empecilho.
Agora, o financiador não é mais democrata, e a ditadura não é um empecilho.
Após receber financiamento chinês, o Camboja fechou rádios e jornais no país e expulsou instituições de fomento à democracia, que eram financiadas pelos Estados Unidos.
Países como Malásia, Burma, Maldivas, Paquistão, e muitos outros, estão seguindo o mesmo exemplo.
A China concede empréstimos para países pobres, sabendo que eles não têm como pagar. Esses países se vêem forçados a ceder aos interesses geopolíticos do Partido Comunista. Aos poucos, todos esses países se tornam ferramentas do interesse geopolítico chinês.
O impacto da revolução não é somente econômico ou político. Diversas questões culturais e sociais passaram por mudanças.