Para entender a atual situação de um país, é comum dedicar-se aos acontecimentos que o sucederam. Para saber se há uma Ditadura na Venezuela, algo tão polêmico nos dias de hoje, não basta a história do próprio lugar.
As fortes interferências internacionais e uma longa trajetória violenta foram indispensáveis para contar a história que, de alguma forma, começa em 1992.
Entenda como é possível que líderes eleitos democraticamente subvertam a própria constituição para permanecer no poder.
Assista ao episódio completo do primeiro Insight Brasil Paralelo e veja, em detalhes, toda a trajetória venezuelana até os dias de hoje. Reflita se é possível ver características de nossa história nos acontecimentos deste país vizinho.
Um dos primeiros ditadores venezuelanos: Marcos Evangelista Pérez Jiménez?
Durante os anos da Guerra Fria, entre 1947 e 1991, a esquerda brasileira, argentina e chilena desenvolveram um discurso baseado na luta contra o militarismo de direita.
Curiosamente, o mesmo não aconteceu na Venezuela. Sua última ditadura ocorreu nos anos 50, comandada pelo general Marcos Evangelista Pérez Jiménez (1914-2001).
Ele foi um político e militar que rapidamente se destacou no exército. Durante seu governo, atingiu altos níveis de desenvolvimento econômico, urbano, industrial e social.
Seu regime ditatorial venezuelano assemelhava-se ao de Getúlio Vargas no Brasil e ao de Juan Domingo Perón na Argentina.
Jiménez foi derrubado em 1958, após tentar permanecer no poder por meio de um plebiscito fraudulento.
Sua saída deu origem ao Pacto de Punto Fijo, que mudaria a história da Venezuela.
O Pacto de Punto Fijo
O que foi o Pacto de Punto Fijo venezuelano?
Em 31 de outubro de 1958, um pacto de estabilidade foi firmado na Venezuela após a saída do General Jiménez: o Pacto de Punto Fijo.
Este pacto estabelecia o revezamento de diferentes partidos políticos no poder com uma agenda mínima a ser defendida por eles. Nesta agenda, constavam pontos como a estatização gradual do setor petroleiro, a reforma agrária, grandes obras públicas e o bem estar social.
Quais foram as principais consequências do Pacto de Punto Fijo?
As principais consequências deste acordo político foram duas:
Aumento do Estado.
O poder nas mãos dos governantes foi fortalecido, tornando o Estado mais forte ao interferir na vida de cada cidadão.
Aumento dos gastos públicos.
Para manter os programas sociais de apoio à população, os gastos com o dinheiro público subiam cada vez mais, aproximando o país de um crise.
Quem são os Grupos terroristas da esquerda na Venezuela?
Hugo Chávez trajado com a farda da FALN concedendo entrevista.
Ao mesmo tempo em que o pacto era firmado, grupos terroristas de esquerda como as Forças Armadas de Libertação Nacional (FALN) abandonaram a ilegalidade e passaram a infiltrar-se nas forças armadas do país sob o nome de “Terceiro Caminho”.
Um dos nomes mais importantes que entraram na versão legalizada da FALN foi Adán Chávez, o irmão mais velho de Hugo Chávez.
Nessa mesma época, Hugo passou a integrar o exército. Ele foi ideologicamente formado por seu tutor revolucionário: o irmão mais velho. Confira o trecho abaixo:
Em 1986, Tenente Hugo Chávez criou seu próprio movimento revolucionário civil-militar, o Movimento Bolivariano Revolucionário – 200 (MBR-200).
E mais! A queda do preço do petróleo na década de 80 expôs a fragilidade da economia venezuelana, que dependia da exploração petrolífera. Era a principal fonte de riqueza do país, e estava fortemente estatizada.
O problema, que pertence a toda esta contextualização da história da ditadura chavista na Venezuela, foi responsável pela fuga de capitais e pelo empobrecimento da nação.
Rumo à ditadura: o agravamento da crise econômica
Em 1989, a economia venezuelana tornou-se insustentável. O presidente da época, Carlos Andrés Pérez Rodríguez, viu-se obrigado a adotar medidas de controle de gastos para tentar resolver o problema do país.
Porém, a esquerda radical não aceitou as medidas e grupos como o Terceiro Caminho e o MBR – 200, liderado por Hugo Chávez, articularam um grande ato público contra o governo.
Este ato entrou para a história da Venezuela, embora como uma mancha.
O Caracazo
Foto dos venezuelanos na rua no Caracazo.
Em 27 de fevereiro de 1989, o projeto denominado “Caracazo” foi realizado em Caracas. Estava repleto de violentas manifestações de rua, ônibus queimados e prédios destruídos.
O governo decidiu convocar o exército para restaurar a ordem.
A crise foi o pretexto para que Hugo Chávez e seus partidários se mobilizassem para usurpar o poder democraticamente constituído. Entendemos, assim, em que contexto as primeiras tentativas de instaurar a ditadura na Venezuela estavam sendo feitas.
Em 4 de fevereiro de 1992, Chávez liderou unidades militares em Caracas com o objetivo de derrubar o governo.
Mas a tentativa de golpe fracassou.
Erros táticos levaram Chávez e seus colaboradores a não terem saída e ficarem sem comunicação. Impossibilitado de transmitir as fitas pré-gravadas nas quais ele incitava a população a tomar as ruas em um levante, Chávez foi preso.
Após dois anos de prisão por liderar o golpe, ele deixa a carreira militar e traça aliança com um poder ainda nascente, mas decisivo: o Foro de São Paulo. Assim, Hugo Chávez muda sua roupagem e ingressa na política para disputar o poder nas urnas.
O Foro de São Paulo, que desempenhou um papel importante na ditadura venezuelana, foi criado por Lula e Fidel Castro em 1990.
Em poucas palavras, é uma assembleia estratégica da esquerda latina, com a participação de grupos narcoterroristas. A intenção é tornar a América do Sul um continente socialista.
No trecho abaixo, o ex-presidente do Brasil, Lula, fala sobre o Foro de São Paulo:
A eleição de Hugo Chávez e o início da ditadura na Venezuela
Hugo Chávez fundou o Movimento V República (MVR) em 1997, uma aliança partidária de esquerda que fez parte de seu suporte para disputar a presidência.
Chávez se posicionava contra a chamada “elite governante corrupta falha” e prometia acabar com as injustiças sociais distribuindo as riquezas advindas do petróleo.
Ele beneficiou-se do descrédito da classe política tradicional e foi eleito com 56% dos votos.
Para concorrer à presidência do país, trabalhou a imagem de democrata. Chávez disse que entregaria o poder em menos de 5 anos. Uma vez lá, passou a reformar as instituições vigentes para consolidar-se no cargo e não mais sair até o dia de sua morte.
Chávez decretou a realização de um referendo sobre a criação da Assembleia Constituinte em 1999. A população abraçou a ideia e ,com mais de 70% dos votos, a convocação foi aprovada.
A Nova Constituição foi redigida em 100 dias e o país passou a se chamar República Bolivariana da Venezuela.
Na eleição da Constituinte, os apoiadores de Chávez conquistaram a maioria dos assentos. Um dos planos era unificar a Câmara dos Deputados e o Senado em uma única casa.
Entretanto, as contínuas modificações na estrutura política e institucional da Venezuela criaram um raxa na população.
Em 2002, mesmo quando Chávez foi reeleito, a Venezuela estava dividida entre dois polos opostos. Manifestações contra e a favor de Chávez reuniram-se em frente ao Palácio de Miraflores.
O caos se instalou e algumas autoridades militares contrárias ao governo se aproveitaram da oportunidade para destituir Chávez.