conclave, passou por todo tipo de circunstância: de disputas políticas escancaradas a sinais místicos interpretados como vontade divina.
Hoje, o processo é rigidamente regulado e dura apenas alguns dias, mas nem sempre foi assim.
Selecionamos 20 curiosidades históricas e reais que mostram como a sucessão papal já foi palco de caos, fé, improvisos extremos e episódios inesperados. Confira:
Em 236 d.C., durante uma acalorada discussão entre os primeiros cristãos de Roma sobre quem deveria liderar a Igreja, uma pomba branca pousou na cabeça de um espectador chamado Fabiano.
O episódio foi interpretado como um sinal divino. Segundo o historiador Eusébio de Cesareia, o gesto foi suficiente para que a multidão, como se movida por uma inspiração única, aclamasse Fabiano como o novo bispo de Roma, tornando-se papa sem sequer ser candidato.
No século VI, as eleições papais estavam longe de ser imunes a jogos de poder. Em 532, após a morte do papa Bonifácio II, a escolha do novo pontífice foi marcada por intensas fraudes, incluindo subornos a funcionários do palácio e senadores.
A disputa era tão escandalosa que, no fim, foi escolhido um padre comum, Mercúrio, que ao assumir o papado mudou seu nome para João II, tornando-se o primeiro pontífice a adotar um nome diferente do de batismo.
Em 1241, os cardeais levaram tanto tempo para escolher um novo papa que o governo local resolveu intervir. Eles foram trancados em um prédio em ruínas, com acesso restrito a médicos e higiene mínima.
A situação só foi resolvida após 70 dias, quando um cardeal morreu e os romanos ameaçaram exumar o corpo se a votação não fosse concluída.
Foi a partir desse tipo de episódio que surgiu a palavra "conclave", do latim "cum clave", trancado com chave.
Entre 1268 e 1271, os cardeais passaram quase três anos tentando eleger um sucessor para o papa Clemente IV.
Reunidos na cidade de Viterbo, perto de Roma, eles só chegaram a um consenso após os moradores retirarem o telhado do palácio onde estavam reunidos, obrigando-os a lidar com sol, chuva e frio.
A estratégia funcionou: o cardeal Teobaldo Visconti foi escolhido e se tornou o papa Gregório X.
Depois de enfrentar o conclave mais longo da história, Gregório X instituiu uma regra curiosa: se os cardeais não escolhessem um papa em três dias, suas refeições seriam reduzidas a um único prato.
Após cinco dias, restaria apenas pão, água e vinho. A norma visava forçar uma decisão rápida e evitar repetições do caos anterior.
Durante séculos, os conclaves foram realizados em salas improvisadas no Palácio Apostólico, onde os cardeais dormiam em catres simples.
Cada 10 cardeais dividiam um único banheiro. Para preservar o sigilo, as janelas eram vedadas.
Em 1978, no auge do verão romano, houve uma revolta entre os cardeais exigindo que as janelas fossem abertas, e o então futuro papa João Paulo II ordenou a construção da Residência de Santa Marta, onde hoje os cardeais ficam hospedados durante o conclave.
Apesar de ser raro, não é obrigatório que um papa tenha sido cardeal. O último pontífice não-cardeal eleito foi Bartolomeo Prignano, arcebispo de Bari, em 1378. Ele assumiu o nome de Urbano VI. Atualmente, a tradição é escolher entre os cardeais, mas tecnicamente qualquer homem batizado e celibatário pode ser eleito.
Nem todos os escolhidos para o papado recebem a notícia com entusiasmo. Em 1978, Albino Luciani, ao ser eleito, disse diante dos cardeais: “Que Deus os perdoe pelo que fizeram.”
Ele assumiu o nome João Paulo I e faleceu apenas 33 dias depois, no segundo papado mais curto da história.
A eleição de um papa também pode ter seus momentos de descontração. Após ser eleito em 1978, João Paulo II celebrou com champanhe e canções folclóricas polonesas com os cardeais.
Bento XVI repetiu o gesto em 2005, organizando um jantar com bebida e música para seus eleitores.
Se antigamente as votações podiam durar meses ou anos, hoje o processo é muito mais ágil. Desde 1831, quando Gregório XVI foi eleito após 50 dias, nenhum conclave demorou mais que uma semana.
No século XX, o mais longo durou cinco dias (1922), enquanto os dois mais recentes — que elegeram Bento XVI e Francisco, foram decididos em apenas dois dias.
Em 1241, além das condições precárias impostas aos cardeais para apressar a eleição, um deles acabou morrendo.
O fato foi usado como alerta para os demais, que temiam novas mortes se a decisão continuasse sendo adiada.
Foi um dos estopins que levou à conclusão daquele conclave, resultando na eleição de Celestino IV.
Durante o longo conclave de 1268 –1271, um cardeal inglês ironizou que, se o telhado fosse retirado, talvez o Espírito Santo descesse mais livremente para inspirar os eleitores.
Os moradores de Viterbo levaram a ideia a sério e removeram o teto da sala onde os cardeais estavam reunidos, literalmente colocando-os sob pressão do céu.
Antes de Mercúrio (João II), os papas usavam seus nomes de batismo. Por considerar inapropriado um papa com nome pagão, Mercúrio decidiu trocá-lo ao assumir o trono de Pedro.
Essa prática se tornou tradição e todos os papas desde então adotaram nomes diferentes do original.
Durante a Renascença, papas chegaram a nomear adolescentes como cardeais por razões políticas. Alexandre VI nomeou seu filho de 17 anos.
Leigos também já foram escolhidos, com a expectativa de que fossem ordenados em seguida. Hoje, é obrigatório ser ordenado antes de assumir o título.
Durante o Grande Cisma do Ocidente, o conclave de 1417, em Constança, foi cercado por tropas para garantir segurança e evitar interferências externas.
O clima era tão tenso que houve temor real de invasão ou assassinato de cardeais caso a decisão não fosse bem aceita.
A famosa fumaça preta (nenhuma decisão) e branca (papa eleito) da chaminé da Capela Sistina começou a ser usada regularmente apenas em 1878. Antes disso, os romanos dependiam de sinos, sinais verbais ou rumores.
Mesmo hoje, há confusão: em 1958, muitos pensaram que a fumaça era branca quando ainda não havia eleição.
Embora a Capela Sistina seja o local mais conhecido, vários conclaves ocorreram fora de Roma, como em Avignon (França), durante o exílio papal, ou em Perugia, Pisa, Veneza e Siena reflexo de períodos turbulentos da história da Igreja e da Europa.
O conclave de 2013 foi o primeiro a ocorrer com um papa emérito vivo desde o século XV.
A renúncia de Bento XVI criou um cenário inédito na era moderna, levantando questionamentos sobre a convivência entre dois pontífices, um em exercício e outro retirado, mas ainda vestido de branco.
Os cardeais fazem juramento de sigilo absoluto durante o conclave. O vazamento de qualquer informação pode acarretar excomunhão automática.
Apesar disso, em 2005, surgiram relatos detalhados do processo que elegeu Bento XVI, sugerindo que alguns cardeais compartilharam informações confidenciais após o fim da votação.
Com os avanços da espionagem, os conclaves passaram a ser protegidos contra escutas e transmissões.
A Capela Sistina é varrida por técnicos de segurança e bloqueadores de sinal são ativados durante o processo. Até mesmo os elevadores e corredores próximos são monitorados para evitar vazamentos.
Esses episódios mostram que a sucessão papal é, ao mesmo tempo, um rito solene e um retrato vivo das tensões, esperanças e desafios que atravessam a história da Igreja.
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