Os pais escolhem o melhor embrião
Durante um processo de fertilização, vários embriões costumam ser gerados, em alguns casos, até oito ou mais. A Nucleus oferece um serviço que analisa o material genético desses embriões antes da implantação.
Segundo a empresa, o procedimento envolve:
- coleta de células dos embriões;
- sequenciamento genético;
- uso do DNA para estimar chances de ter doenças no futuro.
Com isso, cada embrião recebe uma nota.
O relatório inclui predisposição a centenas de doenças, como câncer, Alzheimer e problemas cardíacos, mas também características não médicas, como altura, cor dos olhos, índice de massa corporal e indicadores cognitivos.
A decisão final cabe aos pais: qual embrião será implantado e quais serão descartados.
Cientistas dizem que o método não é confiável
A empresa afirma que o objetivo é reduzir riscos de doenças e ajudar famílias a tomar decisões mais informadas. Cientistas, no entanto, fazem ressalvas importantes.
Pesquisadores ouvidos pela imprensa internacional alertam que:
- muitos dados genéticos vêm de populações de ancestralidade europeia;
- características como altura e inteligência sofrem forte influência do ambiente;
- não há marcadores genéticos robustos para vários traços prometidos.
Entidades médicas dos Estados Unidos reforçam que esses métodos ainda são experimentais e não oferecem previsões confiáveis para características complexas.
175 milhões de reais investidos na campanha
Os valores variam conforme o pacote contratado. O serviço básico custa cerca de R$32,8 mil. Já o plano mais completo, chamado Nucleus IVF+, chega a R$164 mil, oferecendo suporte contínuo, triagem avançada e auxílio na seleção de doadores.
Após a campanha no metrô, a startup registrou crescimento e já recebeu mais de R$175 milhões em investimentos.
A campanha causou desconforto imediato por evocar práticas associadas à eugenia, especialmente a experiência da Alemanha nazista, que defendia a “melhoria” da população com base em critérios biológicos e levou a políticas de esterilização forçada e extermínio.
Bioeticistas do Science American e de Stanford alertam para riscos semelhantes: exclusão de vidas consideradas menos desejáveis, reforço de desigualdades e criação de uma nova divisão social baseada na genética.
A crítica central não é apenas científica, mas moral: até que ponto a tecnologia deve permitir que pais escolham características dos filhos?
O que é eugenia?
Eugenia é a ideia de que alguns seres humanos seriam “melhores” do que outros para ter filhos. A partir disso, defende-se que certas pessoas devem se reproduzir, enquanto outras deveriam ser impedidas.
O termo surgiu no fim do século 19 com o matemático britânico Francis Galton. Ele acreditava que a sociedade poderia ser “melhorada” se controlasse a reprodução com base em critérios como aparência, inteligência, saúde e origem social.
Essas ideias se espalharam no início do século 20 e foram usadas para justificar exclusão, esterilizações forçadas e perseguições. No caso mais extremo, serviram de base para as políticas do regime nazista.