Quem é K. P. Sharma Oli
Khadga Prasad Sharma Oli nasceu em 23 de fevereiro de 1952, no leste do Nepal. Ingressou na militância comunista na juventude e foi preso diversas vezes durante o regime monárquico.
Entre 1973 e 1987, cumpriu 14 anos de prisão, incluindo quatro em confinamento solitário. Após anistia real, retomou a atividade política e ascendeu no então Partido Comunista do Nepal.
É filiado ao Partido Comunista do Nepal (Marxista-Leninista Unificado) — CPN-UML —, que preside desde 2014. Foi primeiro-ministro em três períodos: 2015-2016, 2018-2021 e 2024-2025.
Trajetória em cargos públicos
- Parlamentar: eleito membro da Câmara dos Representantes em 1991 e reeleito em 1994 e 1999; voltou à Assembleia Constituinte em 2013.
- Ministro do Interior: 1994-1995.
- Vice-primeiro-ministro e chanceler: 2006-2007, no governo interino pós-guerra civil.
Foi primeiro-ministro em 3 oportunidades.
- 2015-2016 (renunciou após ruptura da coalizão);
- 2018-2021 (derrubado após dissolução do Parlamento anuladas pela Suprema Corte);
- 2024-2025 (renúncia em meio a protestos e denúncias).
Oli se identifica como marxista-leninista e nacionalista. Defende “democracia multipartidária popular”, soberania nacional e ênfase em desenvolvimento econômico e estabilidade.
Ganhou apoio interno ao resistir a pressões externas, sobretudo durante o bloqueio de fronteira com a Índia em 2015, e adotou retórica de forte autonomia do Nepal.
Medidas e marcos de governo
- Implementação da Constituição de 2015: consolidou a transição para república federal secular e coordenou reconstrução após o terremoto.
- Diversificação externa e acordos com a China: firmou acordo de trânsito e acesso a portos chineses (2016) e aderiu à Iniciativa do Cinturão e Rota, com memorandos para infraestrutura. Recebeu Xi Jinping em visita de Estado em 2019.
- Mapa territorial de 2020: promoveu emenda constitucional para incluir áreas disputadas com a Índia (Lipulekh, Kalapani e Limpiyadhura) no mapa oficial do Nepal, elevando tensões com Nova Délhi.
- Políticas socioeconômicas: lançou programas de seguridade social contributiva e iniciativas de emprego e modernização agrícola.
- Pandemia de COVID-19: adotou lockdowns e fechou fronteiras; a resposta foi criticada por lentidão e declarações controversas.
Controvérsias e críticas
- Dissolução do Parlamento: em 2020 e 2021, dissolveu a Câmara duas vezes; a Suprema Corte anulou as medidas e o destituiu em 2021, sob críticas de autoritarismo.
- Crise partidária: ruptura com aliados maoístas após disputa de poder na sigla unificada; o bloco se desfez em 2021.
- Retórica: falas consideradas provocativas em temas sensíveis, gerando desgastes diplomáticos.
- Acusações de patronagem: críticas por suposto favorecimento de aliados e casos de corrupção no período em que esteve no poder.
- Crise de 2025: bloqueio de redes sociais, repressão e mortes em protestos precederam sua renúncia.
Relações com Índia e China
Com a Índia, a convivência alternou cooperação e atritos, especialmente após 2015, quando houve o bloqueio das fronteiras, disputas territoriais e discursos alimentaram tensões diplomáticas.
Com a China, Oli aprofundou vínculos econômicos e de infraestrutura, buscando reduzir a dependência histórica de rotas indianas e atrair investimentos.
Sharma permanece como presidente do CPN-UML e figura influente na oposição. A sucessão passa por articulação entre partidos, avaliação do presidente Paudel e calendário constitucional.
A renúncia de K. P. Sharma Oli encerra um terceiro mandato marcado por nacionalismo, aposta em novos alinhamentos externos e forte turbulência interna.
O gatilho imediato foi o bloqueio de 26 plataformas e a repressão aos protestos, que deixaram mortos e feridos e levaram a atos contra prédios públicos e residências.
O Nepal entra, agora, em fase delicada de transição, com desafios simultâneos de segurança, legitimidade política e recomposição institucional.