O encontro entre Luiz Inácio Lula da Silva e Donald Trump, durante a Assembleia-Geral da Organização das Nações Unidas, em 23 de setembro, não foi por acaso.
Segundo o jornal Estadão, reuniões reservadas entre autoridades do Brasil e dos Estados Unidos pavimentaram o caminho para a primeira conversa entre os dois presidentes.
As negociações começaram semanas antes, em caráter sigiloso, e envolveram figuras centrais dos dois governos. Do lado brasileiro, participaram o vice-presidente Geraldo Alckmin e o chanceler Mauro Vieira.
Do lado americano, o representante comercial Jamieson Greer e o ex-embaixador Richard Grenell, hoje emissário de Trump para missões especiais.
Em 11 de setembro, Alckmin realizou uma videoconferência com Greer. Oficialmente, a reunião tratava de comércio exterior.
De acordo com documentos internos do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), no entanto, também abordou a condenação de Jair Bolsonaro pelo Supremo Tribunal Federal e os riscos de novas tarifas contra o Brasil.
A reunião aconteceu no mesmo dia em que o julgamento do ex-presidente foi concluído com pena de 27 anos e 3 meses de prisão.
A preocupação do Brasil era evitar uma reação dos EUA com novas tarifas, já que tramitavam processos de investigação sob a Seção 301 e 232 da lei americana de comércio. O objetivo era manter os canais de negociação abertos com Washington.
Quatro dias depois, Grenell viajou ao Rio de Janeiro para um encontro discreto com Mauro Vieira, em um hotel na zona sul. Na pauta, a possibilidade de Lula e Trump se cruzarem em Nova York.
Nenhum desses contatos apareceu em agendas oficiais ou foi divulgado publicamente. Não houve notas, registros ou fotos. A ordem era agir com cautela para evitar reações de setores contrários ao diálogo.
As conversas ocorreram em meio à crise política no Brasil. Em julho, Jair Bolsonaro foi colocado em prisão domiciliar por decisão do ministro Alexandre de Moraes.
A medida gerou desconforto em Washington, onde aliados de Trump chegaram a interpretar o ato como um desafio direto ao presidente americano.
Em nota publicada nas redes sociais, o governo americano afirmou que Moraes usava as instituições brasileiras para silenciar a oposição e ameaçar a democracia.
“O juiz Moraes, agora um violador de direitos humanos sancionado pelos EUA, continua a impor restrições à capacidade de Jair Bolsonaro se defender em público. Deixem Bolsonaro falar”, diz a nota.
Nesse contexto, o Itamaraty reforçou que a gestão Lula não buscava confronto com os Estados Unidos.
Vieira também manteve reuniões discretas em Washington fora do Departamento de Estado, em escritórios privados próximos à Casa Branca.
Enquanto isso, empresários também se movimentavam em Washington. Segundo o Estadão, Joesley Batista, da JBS, chegou a conversar com Trump na Casa Branca.
Além da atuação de Joesley Batista, que chegou a conversar com Trump na Casa Branca, associações empresariais e representantes do setor privado brasileiro também atuaram em Washington.
De acordo com o jornalista Sam Pancher, o encontro ocorreu, mas tratou apenas da geração de empregos por sua empresa, que possui sede nos Estados Unidos e emprega mais de 70 mil pessoas no país, além do impacto das tarifas impostas ao Brasil sobre as atividades da empresa de Batista.
Em coordenação com o MDIC, o Itamaraty e a Fazenda, participaram de missões, encontros e debates junto ao representante de comércio dos Estados Unidos para reforçar a importância de manter os canais econômicos.
Outros representantes do setor privado participaram de missões, encontros e lobby junto ao representante de comércio dos Estados Unidos.
Na manhã do dia 23, Trump chegou cedo à sede da ONU. Assistiu ao discurso de Lula e foi fotografado pelos organizadores enquanto acompanhava a fala pela televisão.
O presidente brasileiro, por sua vez, alterou sua rota: em vez de ir direto ao plenário, passou por uma sala reservada onde poderia encontrar o republicano.
O gesto dos dois foi interpretado como sinal de disposição mútua. A “química” entre Lula e Trump não surgiu por acaso, mas pode ter sido resultado de semanas de contatos discretos entre Brasília e Washington.
Pancher afirma, no entanto, que o elogioao presidente brasileiro foi uma decisão pessoal de Donald Trump, e o fato de tê-lo feito sem ler o teleprompter indica a espontaneidade do gesto.
“Uma fonte dentro do governo norte-americano me disse o seguinte: se você observar o vídeo em que Trump elogia Lula, ele está fazendo críticas ao Brasil, para de ler o teleprompter, elogia o presidente do Brasil e volta a ler o texto com críticas”.
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