Na Travessia, Lucas Ferrugem teve um desafio ousado: esboçar, em menos de uma hora, como as ideologias políticas se organizam dentro da história e da vida cotidiana.
Lucas aponta a polarização entre direita e esquerda como um dos principais fenômenos da política atual. Diversos jornais e analistas políticos analisam a sociedade dessa maneira, com classificações de direita, esquerda, extrema direita, extrema esquerda, centro, etc.
Diante desse cenário, convém refletir:
"Afinal de contas, onde fica a linha divisória, isto é, onde acaba a esquerda e começa a direita?
Ao tentarmos investigar isso, deparamo-nos com complexidades, por exemplo: a definição de direita e esquerda não é a mesma em todos os países. E mesmo dentro do mesmo país, não há consenso claro entre diferentes vertentes, embora haja semelhanças. Essas definições constituem o primeiro obstáculo e quando mal aplicadas podem nos conduzir ao reducionismo".
Outro ponto destacado foi a divergência de aspectos essenciais dentro desses grupos. Por exemplo, dois grupos diferentes se denominam de direita, mas um pode defender o aborto com a premissa da liberdade individual e o outro ser contrário com a premissa de defesa da vida; um deles defende regulação forte da economia, com uma visão de soberania nacional, e o outro não, com uma defesa de livre mercado internacional; e assim por diante.
Nesse cenário, Lucas busca mesclar a interpretação corriqueira da divisão ideológica "esquerda e direita" com uma interpretação de duas diferentes matizes culturais: conservadora e revolucionária.
A história dos termos esquerda e direita tem origem nos eventos decorrentes da Revolução Francesa de 1789, explica Adriano Gianturco, professor de Ciência Política do IBMEC-MG, PhD em Teoria Política e Econômica (Universitá di Genova).
A França do século XVIII estava em uma grande crise política e social. Grande parte da população ainda vivia sob dificuldades econômicas e ausência de mais representação política, enquanto a nobreza e o rei tinham uma vida luxuosa, sustentada pelo dinheiro dos impostos da burguesia - a nova classe de comerciantes em ascensão que exigia mais participação no poder público.
Teorias, grupos organizados e agitações sociais começaram a protagonizar Paris e causar ainda mais desavenças, levando o rei a convocar a Assembleia Nacional dos Estados Gerais, uma reunião dos representantes da burguesia (denominado terceiro estado), da nobreza (denominada segundo estado) e do clero (denominado primeiro estado).
Essas reuniões levaram os franceses a conclusão de que precisavam de uma nova constituição para administrar o seu país de forma mais justa. Foi na Assembleia Nacional Constituinte de 1791 que surgiram os termos direita e esquerda conforme são entendidos hoje.
Aqueles que se sentaram à direita do orador da Assembleia Nacional Constituinte, denominados girondinos, tinham uma tendência mais cautelosa com reformas radiciais, eles defendiam a manutenção do antigo regime com inovações a favor de maior representação política, em certa medida inspirados na experiência inglesa dos anos anteriores.
À esquerda sentaram-se os jacobinos, simpatizantes de propostas que, em geral, tinham caráter mais revolucionário, defendiam o fim do antigo regime, propondo uma nova organização social, conforme defende Norberto Bobbio no livro Esquerda e direita: razões e significados de uma distinção política.
Observando esse cenário, Lucas faz os seguintes questionamentos:
"Creio que, sozinhos, comprometem a complexidade da questão", responde Lucas.
Analisando o exemplo histórico do liberalismo, Lucas defende que o rei absolutista foi retirado do poder por uma nova organização social que tinha como objetivo defender um sistema de valores baseado em um novo princípio central, neste caso, o valor da liberdade. Isso foi algo inédito na história moderna.
Para ele, é um momento importante para o fortalecimento das propostas ideológicas, levando-o a explicar o conceito:
"Uma ideologia política envolve escolher um determinado valor que, em uma hierarquia de valores, será o primário. Existe a primazia de um valor e esse valor cria um determinado conjunto de ideias que ajudam os defensores desse sistema a persegui-lo a partir desse momento".
Esse é apenas um exemplo histórico que justificaria a essência da disputa ideológica: um debate sobre qual valor vale mais: a liberdade ou a igualdade? A fraternidade ou a liberdade? E daí em diante.
"O que acontece em seguida é um constante questionamento de priorização do valor que norteia a ordem social: “Bem, é de comum acordo que um valor deve prosperar, mas qual?
Quero dizer com isso, que a ideia de liberalismo é uma ideologia onde a liberdade é um valor mais importante que a igualdade. E a ideia de socialismo (ou comunismo) é uma ideologia onde a igualdade virá primeiro.”, disse Lucas.
A disputa de valores que melhor pode ajudar a busca pela paz e prosperidade social tem cada vez mais obrigado os indivíduos à reflexão de que propostas afirmam defender. Como nem todos os indivíduos são ideológicos (em geral a minoria o são, defende Lucas) a opinião sobre determinadas propostas se dá em mundo mais sutil que o da ideologia, uma divisão principal entre dois tipos de cultura:
“A primeira são os indivíduos que têm o interesse de conservar algo, daí o nome conservadorismo. Eles até podem aceitar e defender reformas que acreditam ser benéficas, mas em seu âmago cultural não querem deixar de conservar aquilo que consideram conquistas do passado, por entender que há uma ordem natural e complexa, regida por n variáveis que fogem da capacidade da razão humana abordá-las no todo.
De outro lado, há aqueles que até podem reconhecer conquistas do passado, mas estão muito mais interessados em revolucionar a ordem social presente. Principalmente por compreender que o estado atual de coisas apresenta um número tão grande de prejuízos sociais que não se justifica a falta de ânimo para acelerar as mudanças, que podem ser incrementais ou de ruptura.
Ambas as culturas podem receber ideologias à direita e à esquerda, o que importa aqui é a cosmovisão do mundo em que o indivíduo considera viver.”
Buscando entender melhor a política, essa aula da Travessia propõe uma reflexão sobre ideologias políticas e culturas.
Mais do que pensar em direita e esquerda, também devemos pensar os modos culturais de agir de diferentes propostas, sejam elas mais revolucionárias ou mais conservadoras.
Alicerçado em autores como Aristóteles, Edmund Burke, John Locke, Karl Marx e Francis Wolff, Lucas aborda assuntos como:
E tudo isso em apenas uma aula da Travessia.
Outros professores abordam temas essenciais para a vida humana, como produtividade, saúde, formação da personalidade, formação do Estado moderno e muitos outros.
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