Papa Leão XIV canoniza ex-satanista e outros seis novos santos

Bartolo Longo: ex-sacerdote satanista

Bartolo Longo nasceu em 1841, na cidade de Latiano, no sul da Itália, e formou-se em Direito pela Universidade de Nápoles. 

Durante a juventude, Bartolo Longo se afastou completamente da fé. Na universidade teve contato com professores anticlericais e influências que o levaram a romper com a Igreja.

Eu também passei a odiar monges, padres e o papa", escreveria mais tarde

Bartolo Longo passou a frequentar reuniões mediúnicas que despertaram seu interesse pelo ocultismo.

Essa curiosidade o levou a se envolver com práticas satanistas, nas quais chegou a ser consagrado sacerdote após um período de intenso estudo e jejum extremo que comprometeu sua saúde.

Anos depois, abandonou essas práticas e retomou a vida religiosa, dedicando-se a ações sociais e à construção do Santuário de Pompeia, hoje um dos principais centros de peregrinação da Itália.

Em 1872, foi para o Vale de Pompéia administrar as propriedades da condessa Marianna Farnararo, onde passou a ajudar os moradores locais, então em situação de abandono.

Lá iniciou o projeto que deu origem ao Santuário de Nossa Senhora do Rosário, cuja pedra fundamental foi lançada em 1876. Também criou um jornal e escreveu livros sobre temas religiosos e sociais.

Casou-se com a condessa De Fusco, com quem fundou orfanatos e instituições de apoio a filhos de prisioneiros. Em 1906, doou seus bens à Santa Sé.

Bartolo Longo morreu em 5 de outubro de 1926. Foi beatificado em 1980 pelo papa João Paulo II.

Além de Bartolo Longo, o papa Leão XIV também canonizou outros seis santos que se destacaram pelo trabalho social e pela resistência em contextos de perseguição.

Inácio Maloyan: o bispo mártir do genocídio armênio

Ignazio Maloyan, arcebispo católico armênio da cidade de Mardin, na Turquia, foi morto por professar sua fé em Cristo em 11 de junho de 1915.

Nascido em 15 de abril de 1869, ingressou ainda jovem no mosteiro de Bzommar, no Líbano, onde iniciou os estudos para o sacerdócio. Foi ordenado padre em 1896.

Depois de atuar por um período no Egito, Maloyan foi nomeado arcebispo de Mardin. No cargo, dedicou-se à formação dos sacerdotes, visitou comunidades, abriu escolas e restaurou igrejas.

Em 3 de junho de 1915, foi preso com centenas de cristãos sob a falsa acusação de esconder armas. Durante o interrogatório, recebeu a proposta de liberdade caso renunciasse à fé e se convertesse ao islamismo, mas recusou.

No local de sua morte, despediu-se de seus fiéis e os exortou a estarem prontos para entregar a vida por Cristo. Encontrando um pedaço de pão, consagrou-o e distribuiu aos prisioneiros.

Após ser forçado a renunciar sua fé respondeu que iria preferir morrer. 

“Considero o derramamento do meu sangue por minha fé o mais doce desejo do meu coração, porque sei perfeitamente que, se for torturado por amor àquele que morreu por mim, estarei entre aqueles que terão alegria e bem-aventurança, e verei o meu Senhor e meu Deus nas alturas.”

Maloyan foi morto no dia 11 de junho de 1915. O papa João Paulo II o beatificou em 7 de outubro de 2001.

Pedro To Rot: morto por defender o matrimônio

Desde jovem, demonstrou vocação religiosa e, aos 18 anos, ingressou no Colégio de São Paulo, em Taliligap, criado para formar catequistas. Em 1933, retornou à sua comunidade em Papua-Nova Guiné e passou a ensinar o Evangelho como catequista.

Três anos depois, em 11 de novembro de 1936, casou-se com Paula la Varpit, com quem teve três filhos. Em 1942, durante a ocupação japonesa da ilha, os missionários europeus foram presos e Peter assumiu sozinho a liderança da missão católica local.

Com o endurecimento das restrições, o governo militar proibiu as atividades religiosas em 1944. Mesmo assim, Peter construiu um abrigo subterrâneo e continuou reunindo fiéis para orações e celebrações dos sacramentos, consciente dos riscos que corria.

Os japoneses, tentando conquistar o apoio dos líderes locais, legalizaram a poligamia, prática condenada pela Igreja. Por defender o matrimônio monogâmico e indissolúvel, Peter foi considerado inimigo do regime.

Preso na primavera de 1945, passou dois meses detido. Durante uma visita da irmã, afirmou: “Não chore. Estou aqui por uma boa causa. Estou muito feliz, porque estou aqui pela minha fé.”

Pouco antes do fim da pena, em uma sexta-feira de julho de 1945, foi executado por injeção letal. Sua beatificação aconteceu em 17 de janeiro de 1995, em Port Moresby, capital de Papua-Nova Guiné, em cerimônia presidida por São João Paulo II.

José Gregorio Hernández: o médico dos pobres

Ficou conhecido na Venezuela como “o médico dos pobres”. Nasceu em 26 de outubro de 1864, em Isnotú. Incentivado pelo pai, ingressou na Faculdade de Medicina da Universidade de Caracas e concluiu o doutorado em 1888.

No ano seguinte, foi enviado a Paris para aperfeiçoar seus estudos. De volta à Venezuela, fundou as disciplinas de histologia, fisiologia e bacteriologia, iniciando a carreira docente aos 27 anos.

Lecionava na universidade e oferecia ajuda a alunos com dificuldades, recebendo-os em casa. Também participou da criação do Colégio de Médicos da Venezuela e da Academia Nacional de Medicina.

Em 1908, passou um período em um mosteiro na Itália e, depois, no Colégio Latino-Americano de Roma, com o objetivo de aprofundar sua formação espiritual.

Problemas de saúde o fizeram retornar a Caracas, onde continuou pesquisando nas áreas de embriologia e histologia e publicando artigos científicos.

Reconhecido por seu trabalho humanitário, atendia gratuitamente pacientes de baixa renda e, muitas vezes, custeava os remédios do próprio bolso. Durante a epidemia de gripe espanhola, em 1918, atuou intensamente no tratamento de doentes em Caracas.

Em 29 de junho de 1919, morreu atropelado ao sair de uma farmácia onde havia comprado medicamentos para uma criança. Foi beatificado pelo papa Francisco em 30 de abril de 2021.

Maria Carmen Rendiles Martínez

Após a morte do pai e do irmão mais novo, ajudou a mãe a criar os irmãos mais jovens, assumindo desde cedo responsabilidades domésticas e de cuidado.

Nascida em 11 de agosto de 1903, em Caracas, na Venezuela, manifestou interesse pela vida religiosa, mas foi recusada em diferentes congregações por ter nascido sem o braço esquerdo.

Em 1927, foi aceita na Congregação das Servas de Jesus no Santíssimo Sacramento, fundada na França no século XIX. Lá, passou a atuar em atividades voltadas à educação, à catequese e à assistência social.

Irmã María Carmen foi eleita superiora-geral e as irmãs passaram a trabalhar em paróquias, seminários e projetos de apoio a pessoas em situação de vulnerabilidade, além de confeccionar vestes e ornamentos.

Em 1974, sofreu um acidente de carro que comprometeu sua mobilidade. Mesmo após o ocorrido, continuou visitando as casas da congregação, utilizando muletas e cadeira de rodas.

María Carmen Rendiles morreu em 9 de maio de 1977. Foi beatificada pelo papa Francisco em 16 de junho de 2018.

A líder da oposição venezuelana e vencedora do Prêmio Nobel da Paz afirmou que a Venezuela foi “abençoada com seus dois santos” ao comentar a canonização realizada no Vaticano.

“Eles são os santos de todos os venezuelanos, e sabemos que seus milagres continuarão a beneficiar um povo que deseja viver unido, em paz, com liberdade e dignidade”.

Maria Troncatti

Maria Troncatti, de origem italiana, foi missionária no Equador e membro das Filhas de Maria Auxiliadora. Nasceu em 16 de fevereiro de 1883, em Corteno Golgi, na região de Bréscia.

Ainda criança, demonstrou interesse pelas missões salesianas, influenciada por uma professora que lhe apresentava a revista Boletim Salesiano, fundada por João Bosco.

Em 1922, foi designada para trabalhar no Equador. Instalou-se inicialmente na cidade de Chunchi, onde organizou um pequeno ambulatório para atendimento básico de saúde.

Três anos depois, seguiu para a região amazônica, passando por Macas, Sevilla Don Bosco e Sucúa. No contato com comunidades locais, atuou como enfermeira, educadora e mediadora em conflitos entre colonos e o povo shuar.

Durante os embates, as missões de Macas e Sucúa foram destruídas por incêndios em 1938 e 1969, respectivamente.

Em meio a epidemias de varíola e sarampo, liderou ações de socorro e, em 1954, assumiu a direção do hospital de Sucúa, recém-inaugurado. Também promoveu cursos de capacitação para enfermeiras e programas de formação para meninas.

Maria Troncatti morreu em 25 de agosto de 1969, em um acidente aéreo logo após decolar do aeroporto de Sucúa, quando viajava para participar de um retiro. Foi beatificada pelo papa Bento XVI em 24 de novembro de 2012.

Vincenza Maria Poloni

Vincenza Maria Poloni fundou a congregação das Irmãs da Misericórdia. Nascida em 26 de janeiro de 1802, em Verona, foi batizada como Luigia Poloni.

Viveu com a família até os 38 anos, colaborando na mercearia e na farmácia do pai. Atuava como voluntária no cuidado de mulheres doentes crônicas no Pio Ricovero, instituição de caridade local, e em visitas domiciliares.

Em 1840, ela e três companheiras foram contratadas como enfermeiras e passaram a viver em dois quartos próximos à enfermaria feminina, formando uma pequena comunidade.

Para Luigia a formação religiosa deveria preparar as mulheres para servir aos pobres e enfermos com dedicação.

Em 1846, ela assumiu a administração do Pio Ricovero e, no ano seguinte, tornou-se também supervisora da escola para mulheres e meninas ligada ao instituto.

Em 10 de setembro de 1848, junto de outras doze mulheres, professou os votos religiosos e adotou o nome de Vincenza Maria. Acompanhou a criação das três primeiras casas da congregação.

Uma ferida no peito revelou a doença que a levaria à morte, em 11 de novembro de 1855. Foi beatificada em 21 de setembro de 2008 pelo papa Bento XVI .

Durante a homilia, o papa Leão XIV destacou que os novos santos representam “testemunhas de esperança em tempos de provação”.

Ele afirmou que “não há choro que Deus não console, nem lágrima distante do seu coração” e lembrou que a verdadeira justiça divina é o perdão.

O pontífice pediu ainda que os fiéis sigam o exemplo dos novos santos, que “foram mártires, evangelizadores, fundadoras e benfeitores da humanidade, com coração ardente de devoção”.

“Quem não acolhe a paz como dom, não saberá dar a paz”, afirmou Leão XIV.

Os novos santos marcam a segunda canonização do pontificado e reforçam o foco de Leão XIV em destacar figuras ligadas à caridade, à educação e ao serviço aos mais pobres.

Especial papado 

No Especial papado, o professor Raphael Tonon apresenta a trajetória dos papa Leão XIV e do papa Francisco, além da história do papado desde São Pedro até os dias atuais. Assista agora a todos os episódios no canal da Brasil Paralelo: