Getúlio Vargas é uma das figuras mais emblemáticas da história brasileira. Entre ditadura e democracia, o presidente se manteve no poder por 15 anos. No período reestruturou a forma como o poder se organizava, os impactos de seu regime perduram até os dias de hoje.
A proclamação da República em 1889 criou um sistema político descentralizado que favorecia os oligarcas estaduais.
Em nível local, o poder era exercido pelos donos de terra, conhecidos popularmente como "coronéis".
Esses fazendeiros controlavam a economia local e conseguiam ter controle sobre os votos de seus subordinados e familiares, o que era favorecido pelo fato do voto não ser secreto nesse período.
Além da influência direta dos fazendeiros sobre o voto, havia inúmeros casos de fraudes eleitorais, com pessoas não aptas, mortas ou até inventadas tendo seus votos contabilizados.
Nessa época, a validação dos votos ficava a cargo da Comissão de Verificação de Poderes.
O órgão, que deveria monitorar fraudes, na prática, só anulava os votos recebidos por candidatos opostos às oligarquias locais.
Como escreveu Boris Fausto, autor de A Revolução de 1930: história e historiografia:
“A soberania popular significava a ratificação das decisões palacianas e a possibilidade de representação de correntes democratizantes era anulada pelo voto a descoberto, a falsificação eleitoral, o voto por distrito e o chamado terceiro escrutínio…”
Para eleger congressistas e presidentes, as oligarquias estaduais se articulavam entre si e formavam alianças em nome de candidatos. Nesse contexto, os dois estados mais influentes eram Minas Gerais e São Paulo.
A aliança entre as elites paulistas e mineiras levou à alternância entre candidatos do Partido Republicano Paulista (PRP) e do Partido Republicano Mineiro (PRM).
Esse cenário também foi descrito por Fausto:
“Progressivamente, São Paulo e Minas apropriam-se do poder central utilizando-se deste mecanismo e comandam, assim, a vida política do país”.
Oligarquias dissidentes de outros estados não conseguiram se impor diante do pacto, apoiando candidaturas mais fracas.
Havia também setores do exército que tentavam se opor a essa estrutura de poder. O movimento tenentista mobilizou as médias patentes em torno de ideais nacionalistas e democráticos.
As principais demandas do movimento eram:
Os militares tentaram realizar levantes contra o governo, mas foram duramente reprimidos e não conseguiram abalar o regime das oligarquias.
O Estado só passou por grandes mudanças quando o pacto entre Minas e São Paulo foi rompido nas eleições de 1930.
O presidente paulista Washington Luís deveria indicar um candidato mineiro como seu sucessor, mas optou por declarar seu apoio a Júlio Prestes, outro paulista.
Ofendido pela traição do presidente, o governador de Minas Gerais, Antônio Carlos de Andrada, firmou um acordo com as oligarquias dissidentes.
Assim, o PRM se juntou ao grupo de partidos que formava o bloco da oposição, intitulado de Aliança Liberal.
A coligação indicou o gaúcho Getúlio Vargas para a presidência e como vice o paraibano João Pessoa.
Apesar de ser apoiada por uma das oligarquias mais importantes do país, a Aliança Liberal foi derrotada pelo PRP, abrindo caminho para que Prestes assumisse o governo federal no dia 15 de novembro.
Com a vitória dos paulistas, membros das oligarquias se juntaram a militares ligados ao tenentismo e passaram a conspirar contra o governo federal.
O assassinato de João Pessoa por um rival pessoal alimentou a narrativa antigovernista e acelerou os preparativos para o golpe.
No dia 3 de outubro de 1930, o golpe se iniciou simultaneamente no Rio Grande do Sul, em Minas Gerais e na Paraíba.
No Rio Grande do Sul, as tropas golpistas atacaram as bases alinhadas ao governo federal, conseguindo controlar todas as unidades do estado em apenas um dia.
Com o controle das tropas, Vargas chamou o povo para se juntar aos militares, iniciando a marcha rumo à capital, no Rio de Janeiro.
Em Minas, os golpistas se mobilizaram a partir de Belo Horizonte para conter as tropas legalistas, encarando poucos focos de resistência.
Com a derrota dos últimos batalhões avessos ao golpe, os militares mineiros invadiram o Espírito Santo e ocuparam a capital Vitória.
Na Paraíba, o golpe começou atrasado por conta de um desentendimento entre os conspiradores no estado e na região Sul.
Enquanto discutiam a data por meio de telegramas, os conspiradores da Paraíba confirmaram a movimentação na madrugada do dia 4, enquanto os gaúchos entenderam que o estado iniciaria durante a tarde do dia 3.
A notícia de que um levante havia se iniciado em dois estados, o governo de Pernambuco conseguiu fortalecer suas defesas. O estado resistiu às tentativas de ataque dos militares paraibanos.
Após derrotar o governo de Recife, as tropas golpistas marcharam pelo Nordeste, ocupando a Bahia, Alagoas e Sergipe.
Enquanto o Nordeste sucumbia ao golpe, os gaúchos acabavam com as resistências no estado do Paraná e se preparavam para invadir São Paulo.
Nesse momento, a comitiva de Vargas foi informada de que movimentações na capital levaram à renúncia de Washington Luís.
Um grupo de militares liderado por Augusto Tasso Fragoso, pediu que o arcebispo do Rio de Janeiro, Dom Sebastião Leme, entregasse um documento que pedia a renúncia do presidente.
Após receberem uma resposta negativa, os militares cariocas cercaram o Palácio do Catete e prenderam Washington Luís.
O mandatário foi sucedido por uma Junta Militar Provisória, liderada pelos generais Tasso Fragoso e João de Deus Mena Barreto, juntamente com o almirante Isaías de Noronha.
Os militares se estabeleceram no poder no dia 24 de outubro, quando indicaram novos ministros e enviaram telegramas pedindo a paz aos rebeldes dos outros estados.
Com medo de entregar o poder diretamente aos militares, Vargas afirmou que continuaria com as hostilidades até ter a certeza de que seria empossado como presidente.
O impasse teve fim no dia 28, quando a junta concordou em empossar Getúlio no dia 3 de novembro.
A comitiva do presidente seguiu por São Paulo, onde foi bem recebida por setores populares e membros do Partido Democrático (PD), de oposição ao PRP.
Em 31 de outubro, Vargas desembarcou na capital vestido com uniforme de tenente do exército, sendo empossado quatro dias depois.
A ascensão de Vargas é mais um capítulo em que o exército marcou a política brasileira.
A Brasil Paralelo pesquisou a fundo a história dessa instituição, que foi o mais importante agente político do Brasil.
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